"Sou um só, mas ainda assim sou um. Não posso fazer tudo, mas posso fazer alguma coisa. E, por não poder fazer tudo, não me recusarei a fazer o pouco que posso"

quinta-feira, 9 de abril de 2009

A TRAGÉDIA DE UM POVO

A REVOLUÇÃO RUSSA 1891-1924
Autor: Orlando Figes
Tradução: Valéria Rodrigues
Editora: Record
Assunto: História geral - Comunismo
Edição: 1ª
Ano: 1999
Páginas: 1106

A história da Rússia como é mostrada neste A TRAGÉDIA DE UM POVO vai muito além dos relatos convencionais. Orlando Figes conta, sob a ótica do povo russo, a história da mais importante revolução política dos tempos modernos, desde a decadência do czarismo no final da década de 1890 até a tomada de poder por Stalin nos anos 1920. E esta história é dolorosa, repleta de esperanças, medos e desapontamentos. Para o historiador inglês, a revolução foi uma tragédia para os russos, tanto como povo quanto individualmente. Ele mostra que as maiores forças sociais - camponeses, operários, soldados e vassalos do império - não foram apenas vítimas dos bolcheviques, mas também atores em suas próprias tragédias revolucionárias. E isso também é mostrado de forma visual - o livro contém 48 páginas de fotografias pungentes, retratos das mazelas e do cotidiano dos trabalhadores da Rússia.

Uma obra reveladora
A TRAGÉDIA DE UM POVO é fruto de anos de pesquisas nos arquivos da Revolução de Outubro e nos arquivos do Partido Comunista em Moscou. Figes teve acesso a este material assim que foram abertos ao público, no final dos anos 80, e se embrenhou entre jornalistas que os vasculhavam, procurando histórias de espionagem.

Tudo que você deveria saber sobre a revolução russa e um pouco mais. Figes demonstra que a tomada de poder pelos bolcheviques foi uma ação oportunista em um momento de vazio no poder poucas vezes igualado na história humana. Os bolcheviques conseguiram isso porque foram os mais determinados, autoritários e cruéis, dentre os vários grupos da época. Figes teve a coragem de demonstrar que a revolução russa e sua tragédia subseqüente foi tanto culpa da conivência e atitude do povo, como dos próprios bolcheviques. Ele também esclarece de maneira bem reveladora determinados aspectos de seus líderes, como as raízes nobres de Lênin aliadas a quase completa ignorância que ele tinha sobre a vida dos russos na época (principalmente os camponeses que eram a absoluta maioria da população). Figes tentou, e acho que conseguiu demonstrar as verdadeiras causas da revolução, que se situam em lugar bem diverso de qualquer suposta luta de classes capitalista (capitalismo é o que menos existia na Rússia em 1917 como ele demonstra). O que resta no final da leitura deste livro é a constatação do completo desconhecimento que alguns teóricos ainda têm sobre a realidade na vida russa antes e após 1917. Uma foto em particular, a do casal de camponeses na província de Samara em 1921, deveria servir de alerta para muitos. É altamente recomendável esta leitura junto do livro de Richard Pipes, Propriedade e Liberdade. Os dois podem ser considerados complementares e inseparáveis.

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