"Sou um só, mas ainda assim sou um. Não posso fazer tudo, mas posso fazer alguma coisa. E, por não poder fazer tudo, não me recusarei a fazer o pouco que posso"

segunda-feira, 29 de junho de 2009

O SURGIMENTO DO IMPÉRIO NEOCOMUNISTA *

Título original: Lies, Terror, and the Rise of the Neo-Communist Empire: Origins and Direction
Autor: Toby Westerman.
Editora: AuthorHouse.
Assunto: Comunismo, política.
Edição: 1ª
Ano: 2009 (April)
Páginas: 231

Resenha do livro:

Mentiras, Terror e o Surgimento do Império Neocomunista – Origens e Direção

Os que não caíram na artimanha de que o comunismo morreu, vão encontrar neste livro uma valiosa ferramenta para apoiar sua posição. Os que ingenuamente acreditaram no mito de que João Paulo II e Ronald Reagan derrotaram o comunismo dando prestígio e dinheiro a Lech Walesa, vão encontrar neste livro clara comprovação de que o comunismo nunca morreu, só mudou seu rosto para avançar mais.

Baseado em notável quantidade de informações confidenciais retiradas de seus arquivos, como expert em política internacional Toby Westerman oferece aos seus leitores um amplo mapa da atividade comunista contemporânea. Isto é apresentado em estilo atraente, que torna a leitura desse grave tema como se fosse uma novela policial.

A “nova” face do comunismo russo Westerman começa descrevendo como a atuante rede de espionagem comunista era forte – ironicamente, ao mesmo tempo em que Boris Yeltsin pronunciava seu dramático discurso diante do Congresso dos Estados Unidos (17 de junho de 1992), assegurando ao mundo que o comunismo estava morto e que a Rússia havia adotado os princípios sócio-econômicos do Ocidente moderno. O Autor especifica que enquanto Yeltsin nos garantia que “a liberdade não seria enganada”, em torno de 700.000 espiões comunistas trabalhavam no mundo todo para continuar a expansão de suas idéias.

De fato, muitos símbolos antigos do comunismo foram abandonados e muitas instituições foram fechadas. Sem embargo, isto se deu não tanto porque seus líderes haviam mudado de ideologia, mas porque essas instituições estavam obsoletas e o povo já não seguia seus chefes. Se bem que esse fracasso geral deu a aparência de uma mudança nas idéias, o Autor sustenta que, na realidade, isso se passou para convidar os capitalistas para entrarem na Rússia e restaurarem sua economia. Desde então, operou-se um forte aumento dos investimentos ocidentais que ingressaram na falida economia comunista e lhe deram nova vida.

No entanto, oito anos mais tarde, como o desastre econômico começou a ser resolvido, Vladímir Putin ganhou as eleições (março de 2000) e começou novamente a construir e reinstalar as instituições comunistas que haviam sido abandonadas. Ex-agente do KGB, Putin trabalha para restaurar a infame agência. O mesmo pessoal, os mesmos métodos — espionagem, perseguição, assassinatos — continuam sendo aplicados contra aqueles que de alguma maneira ameaçam o regime. De maneira significativa — e Westerman o documenta muito bem — Putin também anseia pelo retorno da URSS.

No fundo, o Ocidente é o facilitador para que o comunismo continue. É o que ainda hoje acontece. O comunismo continua, mas com sua face metamorfoseada. O que há de novo nessa face? Em cada parte do mundo assume características peculiares. Na Rússia, abandonou o estilo comunista stalinista para retornar aos métodos de Lênin.
Lênin em 1922, ano em que iniciou sua Nova Política Econômica
Muitas pessoas hoje em dia esqueceram que depois do golpe bolchevique de 1917 o comunismo fracassou em sua gestão do Estado. Então Lênin introduziu sua Nova Política Econômica (NPE), que permitiu em alguma medida a propriedade privada. A adoção dessa política — apoiada por importante segmento dos meios de comunicação capitalistas — convenceu o Ocidente de que o comunismo havia fracassado e que, portanto, o melhor a fazer seria ajudar Lênin a reparar os danos. Bem sabemos como essa estratégia serviu para sustentar o comunismo.

Westerman argumenta que a mesma tática de mudança de face foi usada mais tarde, depois da queda da Cortina de Ferro.

Pontos não negligenciados: a Rússia nunca deixou de apoiar as redes do terror que operam a partir do Irã, Síria, ou Venezuela; nunca deixou de reforçar os vínculos com os déspotas de estilo soviético do Casaquistão, Kirguistão, Uzbequistão, Turquimenistão, Tadjiquistão, Coréia do Norte e Cuba; nunca deixou de pressionar a Ucrânia e a Geórgia para retornarem ao seu âmbito de influência. Isto só para mencionar alguns poucos fatos dentre os citados pelo Autor em seu livro, e que são normalmente silenciados pelos meios de comunicação.

O “novo” comunismo com características chinesas

A viagem de Nixon à China em 1972 possibilitou o boom econômico chinês


Depois de analisar o “novo” rosto do comunismo na Rússia, Westerman passa a tratar da China. Em primeiro lugar, demonstra que carece de substância o velho mito de que a Rússia e a China são adversárias. Em seguida analisa o novo boom econômico chinês, aberto ao livre mercado, propiciado por Nixon. Na realidade, hoje em dia o mercado na China está controlado pelo governo, e seu êxito se deve à combinação de três fatores:

1. Uma constante injeção de dinheiro;

2. A introdução de sofisticadas tecnologias do Ocidente;

3. Uma enorme força de trabalho escravo interna.

Também demonstra como o Ocidente é ingênuo ao acreditar que a economia de livre mercado necessariamente derrotará o comunismo na China. O Autor demonstra que precisamente o oposto é que é verdadeiro. O Ocidente está proporcionando à China os meios para converter-se em um gigante que já está ameaçando econômica e militarmente os Estados Unidos.

Como responderam os Estados Unidos a esta ameaça? A administração Bush decidiu que para equilibrar o rápido crescimento da China, os Estados Unidos deveriam canalizar assistência econômica para os comunistas do Vietnã e oferecer-lhes prioridades comerciais...

O comunismo avança por meio de eleições na América Latina

O Autor mostra que o novo objetivo do comunismo é implantar governos vermelhos através de eleições democráticas. Este é a nova face do comunismo na América Latina. Analisa em detalhe o caso da Venezuela e mostra como Hugo Chávez promove o comunismo sob o nome de Revolução Bolivariana.
Chávez, Morales e Correa usaram a via eleitoral para chegar ao poder.

Também assinala os vínculos entre Chávez e as guerrilhas colombianas Farc, e como Chávez ajudou Rafael Correa a ser eleito presidente do Equador. Além de tratar do caso Chávez, menciona outros presidentes vermelhos que chegaram ao poder através de eleições: Evo Morales na Bolívia, Cristina Kirchner na Argentina, Luis Inácio Lula da Silva no Brasil, Tabaré Vasquez no Uruguai.



Evo Morales e Mahmoud Ahmadinejad


Westerman também chama a atenção para as relações cordiais ou tratados econômicos e militares de Chávez com a Rússia, China, Cuba, Nicarágua, Coréia do Norte, Síria e Irã. Isto é parte do novo império ao qual se refere no título de seu livro.

O autor também se ocupa em destacar o perigo que Cuba representa para os Estados Unidos e fundamenta suas palavras com interessante informação sobre a atividade de espionagem realizada pela ilha comunista para infiltrar-se nos EUA. Ao concluir sua análise da “Tormenta Vermelha Latino-Americana”, coloca sua atenção sobre a eleição do marxista Daniel Ortega na Nicarágua.

Islã e terrorismo


Um breve capítulo é dedicado a verificar a continuidade histórica da oposição militante islâmica contra o Ocidente e seu milenar ressentimento contra as Cruzadas. Esta rápida descrição pretende preencher o vazio que se fez sobre este tema nos meios de comunicação, livros e ambientes acadêmicos. Também faz uma rápida e indireta vinculação entre o terrorismo atual e o comunismo.

A esquerda norte-americana e a mídia


Todas as diversas frentes do comunismo atual têm um inimigo comum: os Estados Unidos como representante do capitalismo. Elas têm uma forte aliança com a esquerda norte-americana. Se bem que o Partido Comunista tem uma pequena influência na vida política desse país, não se pode dizer o mesmo com relação à influência dos meios de comunicação e da esquerda política. No que concerne à mída, Westerman reproduz documentação histórica que mostra como ela apoiou Lênin na Rússia, Mao na China e Castro em Cuba. Encontramos sempre a mesma cumplicidade com o mais perigoso inimigo norte-americano, o comunismo. Com respeito à esquerda, uma forte influência política foi dada aos comunistas desde o final do governo de Franklin D. Roosevelt. De fato, vários dos mais influentes membros de seu gabinete eram espiões de Moscou. Desde então, o broto vermelho lançou raízes cada vez mais profundas na política norte-americana.

Mitificação de um assassino transformado em herói pela mídia

Para fomentar o comunismo nos EUA, um importante papel foi desempenhado pelas estrelas de cinema e produtores de Hollywood que promoveram heróis antiamericanos como Che ou anti-heróis como o casal Rosenberg — condenado à morte por vender segredos atômicos para a URSS.

O autor aponta a “reabilitação” do infame casal como grave sintoma da debilidade no senso de autodefesa norte-americano.

Tampouco subestima o enorme esforço antibelicista dos ambientes acadêmicos e movimentos pacifistas impulsionados pela mídia esquerdista que tem por objetivo desalentar as tropas que estão sacrificando suas vidas para salvar o país combatendo o terrorismo. A poderosa coalizão de norte-americanos que promovem sentimentos contrários ao seu próprio país não é apenas algo contraditório e vergonhoso, como também é muito perigoso.

A plataforma pacifista norte-americana também é promovida pelos novos líderes comunistas mencionados anteriormente. Um exemplo simbólico: Hugo Chávez recebeu a celebridade antibelicista Cindy Sheeman com todas as honras em seu palácio de governo. Depois posou para as câmeras abraçando Cindy e Elma Rosado, a viúva do líder terrorista de Porto Rico, Ojeda Rios. Ojeda foi morto em 2005 por agentes norte-americanos depois de um milionário assalto bancário e de destruir onze aviões de combate da Guarda Nacional Aérea em Porto Rico. Chávez e as duas mulheres se abraçaram no transcorrer da realização do Foro Mundial Social reunido em Caracas. O terrorismo e o pacifismo se entrelaçaram no abraço de Hugo Chávez, um gesto que fala por si mesmo...


O terrorismo e o pacifismo entrelaçados com a Revolução Bolivariana. São 3 tentáculos de uma mesma hidra.

Westerman termina sua obra com um apelo aos norte-americanos para que tomem consciência do que escondem os meios de comunicação. Também os convida a tomar medidas para deter o inimigo central denunciado em seu livro: os cúmplices norte-americanos do comunismo.

Seu livro proporciona um amplo e abrangente panorama, como também muitos fatos e fontes que vale a pena conhecer, e perspectivas históricas que ajudam a compreender a situação atual.[1]
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NOTAS:

[1] O livro Lies, Terror and the Rise of the Neo-Communist Empire pode ser comprado em International News Analysis.
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* Artigo publicado no site católico norte-americano Tradition in Action sob o título The Rise of the Neo-Communist Empire.

Tradução: André F. Falleiro Garcia.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

QUEIMADA ! OBRA-PRIMA DA VIGARICE

Título Original: Queimada !Gênero: Drama
Atores: Marlon Brando, Evaristo Marquez, Renato Salvatori, Norman Hill.
Diretor: Gillo Potecorvo
País: Itália e França
Ano: 1969
Duração: 112 min.

Sinopse propagandistica: QUANTO MAIS SANGRENTA É A BATALHA, MAIS ALTO É O PREÇO.

Uma ilha do Caribe na metade do século XIX. A natureza fez um paraíso aqui; o homem o transformou em inferno. Escravos de vastas plantações de açúcar dos portugueses estão prontos para transformar sua miséria em revolta - e os britânicos estão prontos para despejar a última gota d'água. Eles enviam o agente William Walker (Marlon Brando) em uma missão tripla e desonesta: convencer os escravos a se rebelarem, tomar o comércio de açúcar para a Inglaterra... e restabelecer o regime de escravidão.
Os temas do colonialismo e da insurreição são explorados no épico Queimada!. Com visual e narrativa impressionantes, Queimada! tem o brilho de um diretor genial. A genialidade também é evidente na interpretação complexa e inteligente que Marlon Brando faz de um homem que é, ao mesmo tempo, um cavalheiro e um patife, revolucionário e colonialista. E a música marcante de Ennio Morricone (o mesmo de Os Intocáveis e A Missão) é o acompanhamento perfeito de um roteiro tão forte.
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"Queimada" é uma verdadeira aula de interpretação marxista da História, tanto mais persuasiva porque compõe com detalhes históricos bastante exatos um conjunto perfeitamente ilógico, cuja absurdidade só aparece quando o espectador, se advertido - o que raramente acontece -, se dá conta dos pontos essenciais astutamente omitidos."

Análise de Olavo de Carvalho: "Queimada", dirigido em 1969 por Gillo Pontecorvo e estrelado por Marlon Brando, Evaristo Marquez e Renato Salvatori, é um dos pontos altos do cinema comunista italiano - uma espécie de segundo neo-realismo, nascido nos anos 60 sob a inspiração de uma década e meia de leitura das obras de Antonio Gramsci pelos intelectuais militantes, tanto do PCI quanto das organizações maoístas e trotsquistas. A escola, intelectualmente sofisticada, de uma coerência ideológica e estratégica notável, foi inaugurada por "O Bandido Giuliano", de Francesco Rosi, e "O Assassino", de Elio Petri (ambos de 1961), e, com a ajuda do esquema de propaganda de Hollywood, veio a alcançar sucesso internacional ainda maior que o do que seu antecessor do imediato pós-guerra, muito menos uniforme ideologicamente.Outros marcos na história desse movimento foram "Accatone", de Pier Paolo Pasolini (1962), "A China Está Próxima", de Marco Bellocchio (1967), "Investigação sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita", de Elio Petri (1969), "O Conformista", de Bernardo Bertolucci (1970), "A Classe Operária Vai ao Paraíso", de Elio Petri (1971) e "O Caso Mattei", de Francesco Rosi (1972).

A tônica desses filmes é mostrar a sociedade capitalista como uma infernal engenhoca protofascista de dominação, fundada na alienação das consciências, na prática endêmica da violência real e simbólica e na desinformação sistemática das multidões. Não há mal, desde a criminalidade até os amores fracassados e as doenças mentais, que aí não seja atribuído à ação maligna e camuflada da elite capitalista. Com um estilo narrativo frio e impessoal, evitando com cuidado o tom abertamente propagandístico e simulando investigação documentária dos acontecimentos (recurso usado com outros fins pelo primeiro neo-realismo), a escola consegue dar ares de pura realidade às mais prodigiosas falsificações históricas e sociológicas, ludibriando as multidões de patetas que guincham e se retorcem de prazer diante dessas coisas nos festivais de cinema como macaquinhos eletrizados por uma máquina de orgasmos.

"Queimada" é uma verdadeira aula de interpretação marxista da História, tanto mais persuasiva porque compõe com detalhes históricos bastante exatos um conjunto perfeitamente ilógico, cuja absurdidade só aparece quando o espectador, se advertido - o que raramente acontece -, se dá conta dos pontos essenciais astutamente omitidos.

A história é a seguinte. Em 1815, Sir William Walker (Marlon Brando), guerreiro e agente secreto mercenário, é contratado para armar um golpe de Estado na ilha de Queimada, colônia portuguesa, e, sob o pretexto de republicanismo e abolição da escravatura, transferir da monarquia portuguesa para uma companhia privada britânica o monopólio da produção local de açúcar. Ele realiza seus objetivos por meio de três operações sucessivas e articuladas: primeiro, uma rebelião de escravos, artificialmente fomentada para desestabilizar o governo local, encenada sob a liderança do negro José Dolores, que o próprio Sir Walker adestra para isso; segundo, a tomada do poder por um grupo de intelectuais e políticos ambiciosos, insatisfeitos com o regime colonial e chefiados por um idealista bocó, Teddy Sanchez; terceiro, a instalação de um regime republicano liberal e corrupto sob a presidência de Teddy Sanchez, com a conseqüente assinatura de uma cessão de direitos para a exploração da cana-de-açúcar e a contratação dos antigos escravos como assalariados da companhia inglesa. Sir William volta para a Inglaterra, onde leva uma vida de bebedeiras e arruaças (dando-se a entender que a sórdida operação antiportuguesa arruinara o seu caráter). Passados dez anos, os trabalhadores das plantações de cana, insatisfeitos com os salários de fome recebidos dos novos patrões, iniciam nova rebelião, sob a liderança do mesmo José Dolores, agora porém a sério e decididos a tomar as rédeas do governo em suas próprias mãos. Teddy Sanchez, aterrorizado, incapaz de controlar a situação, pede ajuda aos empresários ingleses, que vão buscar Sir William num botequim nojento onde ele se diverte em campeonatos de pugilismo com a ralé de Londres, e o enviam de volta à ilha, com plenos poderes para sufocar a revolta. Vendo que a coisa tomara as proporções de uma verdadeira revolução social, Sir William apela ao expediente extremo, mandando atear fogo às plantações e queimando vivos os trabalhadores rebeldes junto com suas famílias. Quando, vitorioso pela segunda vez, o guerreiro genocida vai embarcar de volta para a Inglaterra, o sobrevivente José Dolores, disfarçado de carregador, mata-o a facadas.

Há muitos elementos historicamente verossímeis nesse enredo: a ação inglesa por trás dos movimentos de independência das colônias portuguesas e espanholas; a liderança republicana verbosa e sem iniciativa própria; o aproveitamento de um arremedo de revolta popular como pretexto para a tomada do poder por uma elite corrupta; a transformação dos escravos em mão-de-obra barata para o capital estrangeiro; e até o agravamento da situação dos ex-escravos, soltos no mundo para lutar pela vida em condições desiguais. Abrilhantado por uma direção ágil de Pontecorvo e pela interpretação contundente de Marlon Brando, "Queimada" tem tudo para passar por um condensado esquemático fiel e quase científico dos movimentos de independência de muitas colônias portuguesas, inclusive o Brasil, onde o filme, exibido durante a fase mais dura da repressão militar às guerrilhas, sugeria a histéricas platéias estudantis a explicação mais fácil do que estava acontecendo no país e assim indicava o exemplo de José Dolores como o mais óbvio caminho a seguir.

Naquela época, pouquíssimos espectadores poderiam ter reparado em duas omissões capciosas que, no fundo, eram todo o segredo do impacto da narrativa. Desde logo, se até para encenar uma rebelião incipiente seguida de um golpe de Estado os habitantes da ilha - escravos mais elite branca - precisaram da ajuda estrangeira, como poderiam os escravos, sozinhos, sem armamento, sem nenhum treino político e só com as duas ou três artimanhas de guerrilheiro amador que Sir William ensinara a José Dolores, montar uma verdadeira revolução social capaz de derrubar o regime republicano? Jamais ocorreu uma rebelião desse tipo em nenhuma nação do Terceiro Mundo sem a maciça ajuda estrangeira, e nada, além do puro embuste narrativo, explica que possa ter ocorrido em Queimada. Para os fins propagandísticos visados por Gillo Pontecorvo, era necessário associar capitalismo com imperialismo e revolução comunista com espontaneidade popular autóctone, condensando na tela o velho ardil da propaganda estalinista - ainda hoje inspirador do Fórum Social Mundial - que pinta o livre mercado como traição a serviço do estrangeiro e o comunismo como patriotismo.

Em segundo lugar, impressionadas com o retrato aparentemente verossímil do frio maquiavelismo capitalista, as platéias também se esqueciam de perguntar que raio de cálculo econômico era aquele, que, para a suposta salvaguarda de interesses empresariais, destruía pelo fogo a matéria-prima, os meios de produção e praticamente a totalidade da mão-de-obra disponível, tornando inviável qualquer atividade econômica na ilha por muitas décadas à frente e instaurando ali o monopólio do nada. Sir William emerge da sua segunda excursão à ilha como vencedor, sob a aparente satisfação das classes dominantes, mas, se algum equivalente dele do mundo real cometesse um desatino militar e ecômico como o que ele promoveu em Queimada, quem logicamente desejaria matá-lo não seria José Dolores, e sim os donos da empresa.

Observado segundo os critérios da própria verossimilhança histórica da qual se pavoneia, "Queimada" perde todo impacto dramático e se revela uma farsa idiota, postiça até o desespero, composta por um pseudo-intelectual de meia idade para a deleitação masturbatória de jovens aspirantes a pseudo-intelectuais.

Não há um só filme dessa escola que não se baseie nesse mesmo tipo de engodo miserável, e, compreensivelmente, não há um só deles que não tenha sido louvado uniformemente pela crítica mundial como uma obra-prima de realismo e honestidade narrativa.

Mais grotesco ainda esse gênero de filme se torna quando considerado não apenas na sua composição interna, mas nas condições sociológicas da sua produção. Se o capitalismo é mesmo como eles o descrevem, um sistema de escravização mental e física destinado a manter as multidões na total ignorância das causas da sua miséria, como se explica que a indústria mundial de espetáculos, infinitamente mais rica do que os usineiros de Queimada, subsidie e aplauda tantos filmes anticapitalistas como os de Gillo Pontecorvo, Francesco Rosi e tutti quanti, em vez de espalhar nos cinemas a apologia visual das belezas do livre mercado? A separação estanque entre as idéias dos intelectuais ou artistas e a sua condição existencial e social concreta é uma doença mental endêmica nas classes letradas do mundo Ocidental e, decerto, um dos pilares em que se assenta hoje em dia a efetiva escravização das consciências pela elite globalista.

Tanto no Brasil quanto em vários outros países, as obras do segundo neo-realismo italiano fizeram as cabeças de duas gerações de espectadores e, na condição de "clássicos", desfrutam ainda de um prestígio considerável . Não duvido que milhares ou milhões de Emires Sáderes tenham absorvido desses filmes, e não dos livros que não leram, a substância mesma da sua ideologia e do seu modo de ser.


O FILME

segunda-feira, 15 de junho de 2009

À PAZ PERPÉTUA

Título original: Zum Ewigen Frieden
Autor: Immanuel Kant (1724-1804)
Tradutor: Marcos Zingano
Assunto: “Filosofia” engajada
Editora: LP&M
Edição: 1ª
Ano: 2008
Páginas: 85

Sinopse: Kant acreditava que o entendimento entre os homens levaria a uma pacificação entre as nações. À paz perpétua, foi um enorme sucesso entre a intelectualidade engajada da época que Julien Benda denuncia 132 anos depois, em seu livro “A Traição dos Intelectuais”, que só chegou ao Brasil, 80 anos após ter sido publicado pela primeira vez em 1927.

Neste ensaio, publicado inicialmente na Alemanha em 1795, Kant ressalta “como” alcançar a paz perpétua e “esboça” o projeto de um órgão que seria capaz de promover a união entre as nações.


Alerta!
A Organização das Nações Unidas (ONU), tendo por base essa obra, elaborou o seu projeto de Governo Mundial único e que se encontra em estado avançado de implementação desde 1948, quando foi iniciado.


Trata-se, portanto, de um livro que deve ser lido porque mostra onde a ONU buscou inspiração para elaborar o seu projeto de governo mundial único, mas não deve ser assimilado porque representa o perigo de um modelo político totalitário, uma simbiose de “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley com “1984” de George Orwell, passando obviamente pela “Revolução dos Bichos” do mesmo autor.

Trata-se, portanto, de um “Cavalo de Tróia” que se esconde por trás de uma “paz” utópica.

Por que totalitário?

Simplesmente porque um governo mundial único acaba imediatamente com dois fundamentos:

1- Jurisdição territorial;
2- Direito de asilo.

Se isso acontecer, para onde você irá se não concordar com o regime?

Será o fim da democracia e o início de mil anos de escuridão para a humanidade.

Anatoli Oliynik

terça-feira, 9 de junho de 2009

A TRAIÇÃO DOS INTELECTUAIS

Título original: La trahison des clercs
Autor: Julien Benda
Tradução: Paulo Neves
Assunto: Ensaio filosófico
Editora: Peixoto Neto
Edição: 1ª
Ano: (1927) 2007
Páginas: 284

O que acontece quando a verdade e a justiça estão ameaçadas e os intelectuais a abandonam?

Sinopse: A traição dos intelectuais é a recusa dos valores universais e a subjugação do espiritual ao temporal.

As advertências de Benda podiam, em 1927, ser tidas como pouco fundadas. Mas hoje elas nos parecem verdadeiramente proféticas.

Julien Benda rejeitou todas as modas filosóficas de sua época e criticou a adesão dos intelectuais às paixões políticas (fossem elas de raça, de partido, de classe ou de nação), chamando esses intelectuais de traidores de suas verdadeiras funções.

A partir do momento em que os intelectuais abandonam a universalidade dos valores, eles apenas tornam-se parte da confusão do seu tempo. “Matar as pessoas nos gulags, é ruim; mas pior ainda é deixar os proletários serem explorados pelos capitalistas”. Esse era o pensamento de Jean-Paul Sartre, um dos “intelectuais” engajados e traidores da época. Assim, Sartre é capaz de mentir, descaradamente, para proteger uma determinada posição política. É desses “intelectuais” que Julien Benda fala e é desse assunto que o livro trata.

No Brasil essa fauna de esquerdistas psicopatas polulam em tal profusão que se torna impossível citá-los. Teriamos que ter uma lista telefonica. Todavia, a pessoa que melhor encarna esse tipo de intelectual engajado é a marxista Marilena Chauí, que é capaz de mentir descaradamente, contanto que, seja a favor do governo do PT e da ideologia marxista. Como se pode admitir que uma pessoa assim, seja construtora do patrimônio cultural brasileiro?
Nos últimos quarenta anos o Brasil transformou-se numa hegemonia esquerdista. Praticamente todas as universidades públicas e grande parte das privadas (nas áreas das Ciências Sociais, História, Filosofia, Letras), dos centros de pesquisa, revistas, jornais, redes de televisão e rádio e casas editoriais estão sob o controle direto de “intelectuais” vinculados as diversas correntes do pensamento esquerdista. São poucas as vozes que se erguem, neste país, contra o monopólio cultural esquerdista. Para piorar ainda mais a situação o país é governado por um partido de esquerda. Não há no país um partido político conservador, alcunhado de “direita”, com expressão nacional. Também não há uma única revista cultural que defenda princípios intelectuais que se oponham ao discurso esquerdista gramsciano. Diante deste quadro, correntes de pensamento e intelectuais conservadores, não têm vez e são praticamente desconhecidos. Os estudantes universitários (que mais parecem um universo de otários) no campo das chamadas Humanidades, conhecem Bourdieu, Foucault, Derrida, Gramsci, Marx, Habermas, Eric Fromm, Sartre, Marcuse, Adorno et caterva, mas pergunte a eles e aos seus mestres quem foi Eric Voegelin, Carl Schimitt, Joseph de Maistre, Marcel de Corte, Oswald Spengler, Ernst Jünger, René Guénon, Fritjof Schuon, Mário Ferreira dos Santos, Gustavo Corção e outros. Se estes pensadores conservadores são praticamente desconhecidos nas universidades brasileiras o que dizer de Julien Benda?
"A traição dos intelectuais", precisava ser publicado no Brasil que, há bastante tempo, só conhece um tipo de intelectual: o defensor dos interesses práticos de uma coletividade, adepto dos modismos e das paixões políticas, sem qualquer compromisso com os valores superiores da verdade, da razão ou da justiça. Esta obra chega atrasada 80 anos, como tudo neste país.

Sobre o autor:

Julien Benda nasceu em Paris em 1867. Depois de estudos na École Centrale e na Sorbonne, colaborou com Charles Péguy nos Cahiers de la Quinzaine. Publicou livros como Belphégore, A traição dos intelectuais que desencadearam violentas reações. Aos poucos se tornou aos olhos de todos o critico implacável que assumia com intransigência o papel de guardião do verdadeiro, do justo e da razão. Benda não é cristão. É um racionalista puro. Uma espécie de ateu moderno.Benda era membro do Partido Comunista, tendo participado, em 1947, do XI Congresso do Partido. (Jean Sévillia, "O Terrorismo Intelectual", p. 16). Julien é como relógio quebrado: Está certo pelo menos duas vezes ao dia. Faleceu em 1956.

terça-feira, 2 de junho de 2009

OS GRITOS DO SILÊNCIO

Título original: The Killing Fields
Gênero: Guerra
Atores: Sam Waterston, Dr. Haing S. Ngor, John Malkovich, Julian Sands, Craig T. Nelson, Athol Fugard, Spalding Gray, Bill Paterson, Ira Wheeler e Joan Harris.
Direção: Rolland Jofé
País: Inglaterra
Ano de produção: 1984
Duração: 141 min.

Sinopse: Sydney Schanberg é um jornalista do 'New York Times' enviado ao Camboja, em 1972, como correspondente de guerra. Ali, conhece Dith Pran, um nativo que se torna seu guia e intérprete. Juntos, são os únicos homens da imprensa a presenciarem, em agosto de 1973, ao escandaloso resultado do errôneo bombardeio sobre o povoado de Neak Luong pelos B-52 americanos.

Em março de 1975, a capital Phnom Penh começa a sofrer ações terroristas do Khmer Vermelho, ao mesmo tempo em que passa a abrigar mais de 2 milhões de refugiados. Quando o governo cambojano cai, os EUA retiram-se do País, e toda a família de Pran emigra para a América, com exceção dele, que fica ao lado de Schanberg, para ajudá-lo a cobrir os novos acontecimentos. Os dois refugiam-se na Embaixada inglesa, mas quando tentam abandonar o País, o novo exército revolucionário não permite a saída de Pran, que é enviado para um Campo de Reeducação Rural.

Nos EUA, Schanberg ganha o Prêmio Pulitzer por seu trabalho, quando da cobertura da tomada de Phnom Penh.

Sem notícias do amigo e na ânsia de reencontrá-lo, Sydney envia correspondências com fotos de Pran para veículos de comunicação de todo o mundo, órgãos mundiais como a Cruz Vermelha e postos da fronteira com o Camboja.

Pran cuidava do filho de um líder do Khmer e, por isso, acaba conquistando sua simpatia. O líder é morto ao tentar conter o genocídio e pouco depois de sugerir a Pran que fuja com seu filho. Na fuga, o garoto e um dos amigos são mortos por uma mina. Pran consegue chegar à fronteira do Camboja sozinho e, logo depois, encontra-se com Schanberg. Finalmente, viaja com o amigo para o reencontro com a família.

Comentários: Este filme foi baseado em fatos reais. Relata as crueldades contra a população civil durante a guerra no Camboja, mostra os horrores de uma ditadura de esquerda e desnuda a verdadeira face do comunismo, a lavagem cerebral de jovens imberbes e as suas irracionalidades independente de sexo. Mostra, ainda, a hipocrisia ocidental diante dos crimes cometidos por ditaduras longínquas e o papel do jornalista em meio à guerra. Na verdade o que aconteceu no Camboja não pode ser classificado como uma guerra pura e simplesmente, foi mais terrível que isso; foi um genocídio contra civis para firmar o novo regime de esquerda no país e na região.

(Pol Pot o comunista carniceiro cabojano) O território do Camboja (também conhecido internacionalmente, durante alguns anos, como Kampuchea). Diversos conflitos causaram a morte de milhões de cambojanos nas últimas décadas. O mais sangrento deles ocorreu durante o domínio da facção de esquerda Khmer Vermelho, liderada por Pol Pot, na década de 1970.

Em março de 1974, forças do Khmer Vermelho capturaram a cidade de Odong, ao Norte de Phnom Penh, destruindo-a e dispersando os seus 20.000 habitantes pelo interior do país. Dando seguimento a estas "atividades de limpeza", passaram a executar os professores e funcionários públicos. Em uma pequena vila chamada Sar Sarsdam, pessoas foram assassinadas, incluindo-se mulheres e crianças, dentre inúmeras outras ocorrências mencionadas. Estas histórias, na época, eram consideradas como sendo propaganda anticomunista, pela imprensa ocidental e muitas outras organizações internacionais. Nesta época, o território cambojano passa a ser utilizado como refúgio pelas tropas norte-vietnamitas e por guerrilheiros comunistas do Vietnã do Sul.

Resultado final: De 7 milhões de cambojanos, 3 milhões de mortos para a ascensão dos comunistas ao poder.

Onde estava a ONU? Onde estava a imprensa mundial?




Nota: Dith Pran, faleceu em Nova Jersey, nos Estados Unidos, no dia 30/3/2008 vítima de um câncer no pâncreas. Dia 9-4-2008 ele foi homenageado no parlamento recebendo uma estátua na praça principal de Phnom Penh. Nada mais justo para preservar a memória de uma importante testemunha das atrocidades e da destruição que o comunismo provocou em todos os lugares por onde passou.

Dith Pran no Camboja.