"Sou um só, mas ainda assim sou um. Não posso fazer tudo, mas posso fazer alguma coisa. E, por não poder fazer tudo, não me recusarei a fazer o pouco que posso"

sábado, 31 de janeiro de 2009

O EIXO DO MAL LATINO-AMERICANO e a nova Ordem Mundial

Autor: Heitor De Paola
Assunto: Política e Ciências humanas.
Editora: É Realizações
Edição: 1ª
Ano: 2008
Páginas: 288

Sinopse: Diante do fracasso dos políticos e do perigo iminente, alguns cidadãos comuns se viram obrigados a assumir uma liderança política e a se converter em estadistas. De Paola – ciente de que para vencer o inimigo é preciso primeiro conhecê-lo – elaborou um acurado estudo sobre o neocomunismo, partindo do período do pós-guerra até o Foro de São Paulo, organização que já conta entre seus membros com doze presidentes latino-americanos.
Possivelmente o leitor sentirá uma preocupação imensa, porque conhecerá em profundidade a ameaça que trama contra toda a região; mas, feitas as contas, este livro é também fonte de esperança e inspiração: porque quando homens como Heitor De Paola decidem arriscar sua vida para denunciar o mal, isto significa que o bem despertou em nossos corações e está destinado a triunfar.
É de grande relevância o seu estudo sobre a estratégia de Antonio Gramsci e a Escola de Frankfurt, porquanto coloca em evidência a guerra psicológica do inimigo, baseada no controle ideológico e cultural. Ser-lhe-á igualmente proveitoso conhecer as debilidades metodológicas do Ocidente, bem como os utilíssimos mentecaptos que fazem o jogo do “Eixo do Mal”.

ResenhaHeitor De Paola e o neototalitarismo na América Latina
Ivanaldo Santos

Em junho de 2008 o analista político Heitor De Paola publicou um livro essencial para a compreensão da atual situação política do mundo contemporâneo e especialmente da América Latina. Trata-se de O eixo do mal latino-americano e a nova ordem mundial. Os capítulos desse livro foram publicados inicialmente no jornal eletrônico Mídia Sem Máscara (MSM).

Neste livro Heitor De Paola apresenta, a partir de sólida documentação, como milhões de pessoas estão sendo submetidas a um sistema de profunda lavagem cerebral e, por conseguinte, de total anestesia política. Esse sistema é financiado pelos governos esquerdista-liberais, por ONGs e fundações internacionais. Além de amplas fontes de recursos financeiros existe a cumplicidade de setores estratégicos da sociedade como, por exemplo, a grande mídia, parte da intelectualidade universitária e setores da Igreja que se auto proclamam de “progressistas” e “esclarecidos”. Entre esses setores ganha destaque a Teologia da Libertação (TL). Uma teologia de inspiração marxista e ateísta que, na prática, funciona como a quinta coluna, a qual tem por finalidade minar e, se possível, destruir a Igreja por dentro, ou seja, a partir de seus sólidos alicerces evangélicos e filosóficos.

Como afirma o filósofo Olavo de Carvalho, no Prefácio do livro, Heitor De Paola consegue apresentar, de forma compreensível, as “falsificações que tornam a forma geral do processo totalmente invisível à massa de suas vítimas, ao mesmo tempo dão visibilidade hipnótica a aspectos isolados e inconexos, artificialmente dramatizados como ‘problemas urgentes’, fazendo com que do mero caos mental se passe às ações arbitrárias e desesperadas que complicam o quadro da vida real até à alucinação completa” (2008, p. 16).

Obviamente que os críticos da argumentação desenvolvida por Heitor De Paola afirmarão que seu livro trata-se apenas de mais um delírio da direita conservadora. Entretanto, acusar Heitor De Paola de ser um pensador de direita não conseguirá desacreditar O eixo do mal latino-americano e a nova ordem mundial. O motivo é que, de um lado, Heitor De Paola apresenta provas documentais históricas praticamente irrefutáveis e, do outro lado, ele é um ex-militante da organização de extrema esquerda Ação Popular (AP) que na década de 1960 realizou vários atos de terrorismo no Brasil. Como poucas pessoas, Heitor De Paola conhece as estratégias de tomada do poder desenvolvidas pela esquerda.

O livro de Heitor De Paola possui uma importante parte histórica, onde ele apresenta de forma resumida, mas muito compreensível, as estratégias que a esquerda internacional desenvolveu entre 1917, com a Revolução Socialista Russa, até 1989, com a queda do muro de Berlim, para a tomada do poder e o estabelecimento de um governo mundial e plenamente totalitário. Essa parte histórica do livro de Heitor De Paola é fundamental para os estudantes e profissionais liberais da sociedade contemporânea. O motivo é que atualmente quase nada é ensinado nas escolas e universidades sobre as estratégias violentas e demagógicas da esquerda internacional para tomar o poder político. Atualmente apresenta-se a esquerda como uma espécie de “sociedade de santos” que busca apenas o bem-comum e a prosperidade humana. Toda a barbaridade e as atrocidades cometidas em nome do socialismo são simplesmente silenciadas. É por causa dessa consciente e lamentável omissão que o livro de Heitor De Paola é uma leitura obrigatória.

Além disso, o livro de Heitor De Paola trás a análise de duas importantes manifestações do neototalitarismo na sociedade ocidental.

A primeira manifestação é o totalitarismo intelectual que atualmente está infestando os meios acadêmicos do ocidente, inclusive do Brasil. O grande guru do totalitarismo intelectual é o filósofo marxista Antonio Gramsci que com sua tese da Revolução Cultural, advoga a criação e imposição de uma agenda única para o pensamento humano. Essa agenda é criada pelos profissionais do pensamento que, por sua vez, são submissos as orientações oriundas da cúpula do “pensamento correto”, ou seja, da minúscula elite formada por dirigentes de partidos políticos, artistas, economistas e outros profissionais que se dedicam, em tempo integral, a determinar como o mundo deve viver e como as pessoas devem pensar.

A segunda manifestação é o neototalitarismo que emerge na América Latina como consequência da estratégia de dominação desenvolvida pelo Foro de São Paulo, uma versão latino-americana da Internacional Comunista. Heitor De Paola demonstra como a esquerda internacional, após a queda do muro de Berlim, não abandonou a pretensão de estabelecer um regime tirânico e centralizado para toda a humanidade. Pelo contrário, seu projeto é o mesmo. Apenas é um projeto que se apresenta de forma moderna com a roupagem de defender minorias e derrubar o imperialismo dos EUA.

Toda forma de imperialismo deve ser denunciada. Entretanto, apenas o imperialismo dos EUA é atacado. Atualmente o imperialismo transversal do Foro de São Paulo, orientado principalmente pelo Brasil e pela Venezuela, sequer entra nas discussões realizadas pela mídia e pela intelectualidade universitária. Todavia, o que vemos é a lenta e gradual implantação do neototalitarismo na América Latina. Essa implantação se dá inclusive de forma tradicional, ou seja, com a expansão de guerrilhas fratricidas e do caos na vida política e econômica.

Porque ninguém vê e debate essa questão? Heitor De Paola demonstra que a cegueira intelectual que move a América Latina atualmente é fruto da junção de duas grandes forças.

De um lado existe a nova estratégia da tomada do poder pela esquerda. Estratégia que envolve forte cooptação da mídia e da classe artística. Cooptação feita, em grande parte, às custas de altas somas de dinheiro. Além disso, propaga-se uma ideologia pacifista que prega o fim da religião, especialmente da religião cristã, o estabelecimento de um governo mundial organizado em torno da Organização das Nações Unidas (ONU) e, por conseguinte, o fim da soberania nacional. Tudo isso é apresentado em nome do fim das injustiças sociais. Entretanto, pergunta-se: existe injustiça social maior do que determinar o fim da liberdade?

Do outro lado encontram-se as graves falhas de avaliação estratégica cometidas pelos países ocidentais, inclusive pelos EUA. Falhas que vão desde não compreender as reais intenções da esquerda internacional, passando por graves problemas de interpretação realizados pela diplomacia e pelos serviços de segurança nacional até a incapacidade das forças políticas que tradicionalmente defendem a liberdade no Ocidente de se oporem a um inimigo que, cada vez mais, é organizado e tem ramificações em quase todos os setores da vida pública.

Por fim, afirma-se que o livro de Heitor De Paola é fundamental para a compreensão da história e das atuais estratégias planetárias de implantação de um governo único e, com isso, acabar com a liberdade. Este livro pode ser o primeiro passo de um processo de esclarecimento e contra-revolucionário na América Latina e no mundo. Justamente o processo que a atual sociedade precisa para novamente poder compreender e experimentar a liberdade e a dignidade humana.

Ivanaldo Santos é filósofo e professor da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN).

Prefácio a O Eixo do Mal Latino-Americano
Olavo de Carvalho Richmond, VA, 29 de maio de 2008

Se o jornal eletrônico Mídia Sem Máscara não servisse para mais nada, só o ter revelado aos leitores brasileiros o analista político Heitor de Paola já bastaria para justificar sua existência e torná-la mesmo indispensável. O homem, de fato, não tem equivalente na “grande mídia” nem até onde posso enxergar nas cátedras universitárias, tal a amplitude do horizonte de informações com que lida em seus comentários e tal a claridade do olhar que ele lança sobre o vasto, complexo e móvel panorama da transição revolucionária latino-americana, reduzindo a seqüências causais coerentes a variedade dos fatos em que seus colegas digamos que o sejam não enxergam senão um caos fortuito ou a imagem projetada de seus próprios sonhos, desejos, preconceitos e temores.

Na pequena e valente equipe de colaboradores da publicação, remunerados a leite de pato (sim, nós, os cães-de-guarda do capital, não temos capital nenhum, ao contrário dos pobres e oprimidos que nadam em dinheiro dos ministérios e das fundações estrangeiras), as felizes coincidências acabaram por produzir uma divisão de trabalho na qual ninguém tinha pensado de início: se os demais redatores sondam em profundidade certos aspectos especiais, ou investigam para trazer ao conhecimento do público fatos que a mídia comprometida ignora por malícia ou por inépcia genuína, no fim vem o Heitor de Paola e articula tudo em grandes esquematizações diagnósticas que resumem o sentido do jornal inteiro e das quais o jornal inteiro, por sua vez, fornece as provas detalhadas. É uma grande alegria para mim ter sido o pai de um órgão brasileiro de mídia que, malgrado todas as suas limitações que ninguém nega, permanece o único onde as notícias não desmentem as análises e as análises não saem voando para longe das notícias.

Na verdade o jornal revelou Heitor de Paola ao próprio Heitor de Paula, roubando-o em parte aos clientes do seu consultório de médico e psicanalista e colocando-o diante do caso clínico mais dramático e desesperador que já passou pelo divã de um discípulo (não muito fiel) do Dr. Freud: um continente neurotizado por um intenso tiroteio cruzado de ações camufladas e mentiras ostensivas que ultrapassa imensuravelmente a capacidade de compreensão da inteligência popular e a engolfa num abismo de esperanças ilusórias, terrores sem objeto e ódios sem sentido.
Neurose, dizia um outro ás da clínica psicológica, o meu falecido amigo Juan Alfredo César Müller, é uma mentira esquecida na qual você ainda acredita. Não é só uma figura de linguagem. É o resumo compacto de uma ordem causal que a observação clínica confirma todos os dias. O processo tem três etapas: mentir, ocultar a mentira de si próprio e, por fim, entregar-se à produção compulsiva de pretextos, fingimentos e racionalizações sem fim, os mais postiços e contraditórios, para poder continuar agindo com base naquilo que se nega e ao mesmo tempo defender-se desesperadamente da revelação dos motivos iniciais verdadeiros que determinaram o curso inteiro da mutação patológica.

Aplicado ao estudo dos processos histórico-políticos, o conceito tem de ser ajustado para dar conta de várias seqüências neurotizantes simultâneas e sucessivas, que, ao entremesclar-se num caleidoscópio de falsificações, tornam a forma geral do processo totalmente invisível à massa de suas vítimas, e ao mesmo tempo dão visibilidade hipnótica a aspectos isolados e inconexos, artificialmente dramatizados como “problemas urgentes”, fazendo com que do mero caos mental se passe às ações arbitrárias e desesperadas que complicam o quadro da vida real até à alucinação completa. Diversamente do que acontece na neurose individual, onde o autor e a vítima da mentira são a mesma pessoa, as neuroses coletivas são produzidas desde fora, por grupos de estrategistas e engenheiros sociais que, ao menos num primeiro momento, imaginam poder controlá-las em proveito próprio, mas que em geral acabam sendo eles mesmos arrebatados pelo movimento de destruição que geraram: nunca houve grupo de líderes revolucionários que não acabasse sendo dizimado pela própria revolução.

No meio desse turbilhão, alguns indivíduos privilegiados conseguem manter-se à tona no mar de destroços e enxergar, mais ou menos, a direção do abismo para onde vai a corrente. Não por coincidência, esses observadores realistas são habitualmente recrutados entre aqueles que definitivamente não gostam do curso presente das coisas, mas que, por absoluta falta de vocação política, ou por estar em minoria infinitesimal sem possibilidade de interferir na situação, reagem para dentro, intelectualmente, e não produzem planos de ação, mas diagnósticos da realidade, sem os quais a simples intenção de agir já seria apenas uma contribuição a mais para a loucura geral.

Heitor de Paola é um desses. Não é só a experiência clínica que o qualifica especialmente para a função. A inteligência analítica da qual ele dá algumas amostras notáveis neste livro deve algo à militância revolucionária de juventude que o torna a seus próprios olhos um pouco culpado por aquilo que na época não podia prever mas hoje é obrigado a ver. Tanto melhor. Only the wounded can heal , diz um provérbio inglês.



Sobre o conceito de Ocidente, ou a tentativa de decifrar o mundo (4.ª parte)

Casimiro Lopes de Pina


O pensamento político autêntico, como aconselhava Eric Voegelin, visa compreender a realidade política e não construir rendilhados falsos, castelos na areia ou justificações complacentes. Compreender e não mistificar.

A compreensão é um acto de vontade e de inteligência, num profundo apego à docilidade das coisas. Do verum. Exige uma certa disposição de alma e uma estrutura de personalidade isenta, firme e imparcial, que não se vende por um prato de lentilhas.

Hayek deu-nos, aliás, uma prova sincera disto tudo, quando, em 1944, abdicando dos seus interesses pessoais imediatos, resolveu empreender uma dura luta contra os dois totalitarismos gémeos da época (o comunismo e o nazismo, irmanados pelo mesmo ódio às liberdades e à livre-iniciativa económica), denunciando, com galhardia, e contra o “establishment” bem-pensante daqueles dias, sempre cioso das suas falácias, a Utopia totalitária, calcada num igualitarismo sufocante, na planificação central niveladora e numa justiça absoluta, sujeita, evidentemente, às pretensas “leis da história”.

O grande pensador austríaco deu-nos, assim, um testemunho valioso de coragem e convicção, honrando essa tradição da liberdade que já vinha dos antigos, e que teve em figuras como Burke, Tocqueville ou Alexander Hamilton os seus mais lídimos representantes modernos.

Friedrich Hayek falou-nos, também, do “caminho abandonado”, do ideal do governo das leis (tão acarinhado, afinal, pelos liberais do iluminismo anglo-americano, essa fina sociologia das virtudes e do dever, no meio de uma desconfiança salutar face ao poder político, etc.) e da perigosa tentativa de imposição estatal de um padrão único de “justiça social”, que dominou o trágico séc. XX, marcado por duas guerras mundiais e pela concomitante destruição em massa, em nome da reconstrução da ordem social e da planificação das consciências, recomendada pelo santo Marx e pelos seus émulos tardios.

A utopia descambou, por fim, numa vasta e delirante distopia, com campos de concentração, genocídio, ditadura do partido único, perseguição brutal dos dissidentes, tortura institucionalizada, fome induzida, trabalho forçado, miséria geral e atraso económico e social.

O totalitarismo destrói a verdade e instaura a mentira como sistema normal de governo. É esta a sua essência. A partir desta premissa, edifica, então, uma sociedade de tipo militar, amordaçada e pouco criativa.

O Ocidente está, hoje, numa nova encruzilhada. As suas raízes de oiro (filosofia clássica, direito romano e cultura judaico-cristã), a mola do seu esplendor, são atacadas, sem qualquer pudor, pelos novos bárbaros instalados, confortavelmente, no seu interior.

O comunista italiano Antonio Gramsci e a Escola de Frankfurt estão na linha de frente desta nova batalha. Eles perceberam, após uma meticulosa análise, que já não era viável combater o inimigo a partir da “base económica”, como pretendiam os marxistas da linha dura.

O alvo passou a ser, então, a destruição cultural. A podridão haveria de instalar-se um dia, como previra Marcuse, o guru da “contra-cultura”. Os intelectuais de esquerda passaram, sistematicamente, de forma quase imperceptível, a atacar os pilares da cultura ocidental.

É isso tudo que Heitor de Paola, um grande estudioso desses assuntos, trata no seu livro O Eixo do Mal Latino-Americano e a Nova Ordem Mundial, 2.ª ed., Observatório Latino, São Paulo, 2015.

O livro é fabuloso e descreve, com minúcia, a geopolítica do pós-guerra fria, aspecto absolutamente negligenciado neste nosso país periférico e alienado.

A “Revolução Cultural” é tratada no capítulo III. E é de leitura obrigatória.
Um aspecto particularmente relevante tem a ver com as “três estratégias” comunistas de longo alcance, que o autor estudou em pormenor e com o costumado rigor.
De Paola menciona, além do mais, a importante e crucial reorientação da estratégia da KGB após a “Perestroika” (um esquema complexo de desinformação…) e as revelações fundamentais de Anatoliy Golitsyn, que os nossos doutos “analistas” políticos e “académicos” de albarda, com a sua esperteza mansa de caracol, ainda não descobriram, tantos anos transcorridos!

Há uma referência muito interessante sobre a Conferência Tricontinental de Havana – que contou com uma delegação do PAIGC –, uma ambiciosa estratégia revolucionária cubana, numa altura em que o regime castrista estava em crise e a braços com um largo descontentamento popular.

É uma delícia ler Heitor de Paola, que foi militante comunista durante algum tempo, e aprender com a vastidão dos seus conhecimentos. A sua perspicácia é singular, e rara a sua visão dos pormenores e do, digamos, mundo “invisível”, que poucos enxergam.

Conhece, profundamente, os truques da Desinformatzya e da estratégia política neuro-psiquiátrica das últimas décadas, e aliás em pleno curso, destinada a imbecilizar populações inteiras e a instaurar um despotismo dócil e inquestionável.

O autor possui, de resto, uma vasta experiência profissional nessa área de conhecimento.

No próximo artigo, analisaremos, com mais vagar, mais alguns aspectos centrais do livro em pauta, cuja riqueza é impossível de abarcar, verdade seja dita, num único texto de opinião.

Heitor é uma voz lúcida e competente, assaz rigorosa, um guia privilegiado, que nos desafia constantemente e nos impele a renegar os falsos deuses e as armadilhas tolas do “politicamente correcto”, essa praga maldita dos dias que correm. A sua sabedoria é um convite singelo à nobreza de espírito, que os homens e mulheres livres, e de boa vontade, jamais poderão recusar.

Two cheers for him!

Jurista, licenciado pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e pós-graduado em Ciências Jurídicas pela Universidade de Macau. Professor-Assistente convidado no Instituto Superior de Ciências Jurídicas e Sociais. Já leccionou também na Universidade Jean Piaget (campus da Praia, Cabo Verde). Colaborador dos jornais Terra Nova, Expresso das Ilhas e Liberal, das revistas jurídicas Direito e Cidadania e Boletim da Ordem dos Advogados. Comentador da Televisão de Cabo Verde (TCV). São de sua lavra o Ensaio "O Problema da Pobreza: Entre o reducionismo atávico e a compreensão integral", e os livros “Ensaios Jurídicos: Entre a Validade-Fundamento e os Desafios Metodológicos”, e "Sociedade Civil, Estado de Direito e Governo Representativo - repensando a tradição liberal-conservadora no séc. XXI".

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

CADERNOS DA LIBERDADE Uma visão do mundo diferente do senso comum modificado

Autor: Sérgio Augusto de Avellar Coutinho
Editora: Sografe
Assunto: Política
Edição: 1ª
Ano: 2003
Páginas: 241

Tecer análises geopolíticas sem conhecer as principais correntes ideológicas e partidárias que movem os homens do poder, é como fazer comentários futebolísticos sem conhecer as estratégias dos times participantes. Sem este conhecimento básico, ficamos à mercê de análises ingênuas e imediatistas. Diante do fim da União Soviética, o ignorante dirá “o comunismo acabou”; diante de um Lula light, dirá “o PT amadureceu”; diante de privatizações tucanas, dirá “FHC é neoliberal”; diante de exigências do FMI, dirá “somos dominados pelo imperialismo americano”. O sujeito se fixará ao curtíssimo prazo, às circunstâncias locais, aos aspectos visíveis, às impressões de primeira viagem; tudo lhe parecerá caótico, individualista e, acima de tudo, incompreensível.

Romper a redoma de vidro que separa o senso comum moldado pelo sistema educacional e midiático e introduzir o leitor às idéias e objetivos que norteiam as grandes doutrinas e movimentos políticos nacionais e internacionais, é o que faz Sérgio Augusto de Avellar Coutinho em seu livro Cadernos da Liberdade. Lastreado por pesquisas e documentos, neste livro não há espaço para “teorias da conspiração” baratas, paranóias de botequim ou declarações bombásticas e passionais. O que se encontrará, são fatos e análises precisas.

O livro é dividido em três cadernos temáticos. No primeiro caderno (“O Comunismo não acabou”), o autor versa sobre uma de suas especialidades – já plenamente demonstrada em sua obra anterior, A Revolução Gramscista no Ocidente –, o Movimento Comunista Internacional, a concepção revolucionária comunista de Antônio Gramsci e os movimentos comunistas brasileiros responsáveis por levar adiante tal estratégia. Neste caderno, o leitor conhecerá as diversas correntes que compõem o movimento comunista, o papel das ONGs, das diversas Internacionais, do Foro de São Paulo, do Fórum Social Mundial e da Escola de Frankfurt; entenderá como e porquê os partidos comunistas brasileiros (PT, PPS, PCdoB, PSB etc.) modificaram suas estratégias de tomada de poder na década de 1990.

No segundo caderno (“Internacionalismos intrometidos”), Coutinho apresenta as principais doutrinas estatistas que concorrem com os movimentos comunistas, quais sejam: a social-democracia, o fabianismo e o movimento político de Lyndon La Rouche. A social-democracia, embora distinta doutrinariamente em alguns pontos do marxismo, é igualmente socialista: “Realmente, os partidos marxistas-leninistas, principalmente aqueles que estão na legalidade, tentam passar uma imagem democrática, confundindo o seu discurso com o da social-demoracia, mascarando o seu projeto revolucionário e iludindo os burgueses conservadores” (p. 100). Especial atenção é dada à Suécia, sua história e ascensão do Partido Social-Democrata. Apresentada ao mundo como prova cabal de que o socialismo dá certo, a Suécia é mostrada exatamente como é: uma nação ateísta, infeliz, unipartidária, “uma monocracia partidária cuja continuidade no poder é garantida pela doutrinação, pela propaganda, pela manipulação dos eleitores e pela estatolatria” (p. 107-8). O autor infelizmente é obrigado a dispensar muitas páginas para descrever Lyndon La Rouche e sua “doutrina conspiratória”. O problema é que La Rouche faz uso de algumas poucas verdades e as floreia com devaneios fantasiosos e paranóicos, tornando seu entendimento algo complexo. Mas vale à pena: embora embrionário no Brasil, bem sabemos que nossa terra é fértil para ideologias estapafúrdias e fracassadas, e alertar o público quanto a essas ideologias é um dever que o autor cumpre com louvor.

No terceiro caderno (“O mundo cão”), Coutinho mostra o que é a tal Nova Ordem Mundial e quais as ameaças e desafios que a nova Guerra Fria representa.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

EDUCAÇÃO AO CONTRÁRIO

Olavo de Carvalho

Clicando no Google a palavra “Educação” seguida da expressão “direito de todos”, encontrei 671 mil referências. Só de artigos acadêmicos a respeito, 5.120. “Educação inclusiva” dá 262 mil respostas. Experimente clicar agora “Educar-se é dever de cada um”: nenhum resultado. “Educar-se é dever de todos”: nenhum resultado. “Educar-se é dever do cidadão”: nenhum resultado.
Isso basta para explicar por que os estudantes brasileiros tiram sempre os últimos lugares nos testes internacionais. A idéia de que educar-se seja um dever jamais parece ter ocorrido às mentes iluminadas que orientam (ou desorientam) a formação (ou deformação) das mentes das nossas crianças.
Eis também a razão pela qual, quando meus filhos me perguntavam por que tinham de ir para a escola, eu só conseguia lhes responder que se não fizessem isso eu iria para a cadeia; que, portanto, deveriam submeter-se àquele ritual absurdo por amor ao seu velho pai. Jamais consegui encontrar outra justificativa. Também lhes recomendei que só se esforçassem o bastante para tirar as notas mínimas, sem perder mais tempo com aquela bobagem. Se quisessem adquirir cultura, que estudassem em casa, sob a minha orientação. Tenho oito filhos. Nenhum deles é inculto. Mas o mais erudito de todos, não por coincidência, é aquele que freqüentou escola por menos tempo.
A idéia de que a educação é um direito é uma das mais esquisitas que já passaram pela mente humana. É só a repetição obsessiva que lhe dá alguma credibilidade. Que é um direito, afinal? É uma obrigação que alguém tem para com você. Amputado da obrigação que impõe a um terceiro, o direito não tem substância nenhuma. É como dizer que as crianças têm direito à alimentação sem que ninguém tenha a obrigação de alimentá-las. A palavra “direito” é apenas um modo eufemístico de designar a obrigação dos outros.
Os outros, no caso, são as pessoas e instituições nominalmente incumbidas de “dar” educação aos brasileiros: professores, pedagogos, ministros, intelectuais e uma multidão de burocratas. Quando essas criaturas dizem que você tem direito à educação, estão apenas enunciando uma obrigação que incumbe a elas próprias. Por que, então, fazem disso uma campanha publicitária? Por que publicam anúncios que logicamente só devem ser lidos por elas mesmas? Será que até para se convencer das suas próprias obrigações elas têm de gastar dinheiro do governo? Ou são tão preguiçosas que precisam incitar a população para que as pressione a cumprir seu dever? Cada tostão gasto em campanhas desse tipo é um absurdo e um crime.
Mais ainda, a experiência universal dos educadores genuínos prova que o sujeito ativo do processo educacional é o estudante, não o professor, o diretor da escola ou toda a burocracia estatal reunida. Ninguém pode “dar” educação a ninguém. Educação é uma conquista pessoal, e só se obtém quando o impulso para ela é sincero, vem do fundo da alma e não de uma obrigação imposta de fora. Ninguém se educa contra a sua própria vontade, no mínimo porque estudar requer concentração, e pressão de fora é o contrário da concentração. O máximo que um estudante pode receber de fora são os meios e a oportunidade de educar-se. Mas isso não servirá para nada se ele não estiver motivado a buscar conhecimento. Gritar no ouvido dele que a educação é um direito seu só o impele a cobrar tudo dos outros – do Estado, da sociedade – e nada de si mesmo.
Se há uma coisa óbvia na cultura brasileira, é o desprezo pelo conhecimento e a concomitante veneração pelos títulos e diplomas que dão acesso aos bons empregos. Isso é uma constante que vem do tempo do Império e já foi abundantemente documentada na nossa literatura. Nessas condições, campanhas publicitárias que enfatizem a educação como um direito a ser cobrado e não como uma obrigação a ser cumprida pelo próprio destinatário da campanha têm um efeito corruptor quase tão grave quanto o do tráfico de drogas. Elas incitam as pessoas a esperar que o governo lhes dê a ferramenta mágica para subir na vida sem que isto implique, da parte delas, nenhum amor aos estudos, e sim apenas o desejo do diploma.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

MAO - A HISTÓRIA DESCONHECIDA

Autor: Jung Chang e Jon Halliday
Tradução: Pedro Maia Soares
Editora: Companhia das Letras
Assunto: Biografias, diários, memórias & correspondências.
Edição: 1ª
Ano: 2006
Páginas: 960

Sinopse: 'Mao - A história desconhecida' é uma biografia não autorizada de Mao Tse-tung, fruto de uma década de pesquisa em arquivos do mundo todo e centenas de entrevistas com amigos e colaboradores de Mao, além de personalidades e pessoas que tiveram contato significativo com o líder chinês. Este é um livro cheio de revelações que derrubam muitos dos mitos sobre Mao e a história da China moderna. O livro ataca o heroísmo da Longa Marcha, discorre sobre a ajuda financeira e militar da União Soviética de Stalin para a criação e o fortalecimento do Partido Comunista chinês, e desqualifica os relatos de que os rebeldes comunistas teriam enfrentado os japoneses na Segunda Guerra Mundial. Os autores mostram como Mao concentrou-se em expandir seu domínio durante quase três décadas, ainda que isso resultasse no sofrimento e na morte de milhões de cidadãos, na perseguição de inimigos e companheiros de luta e na exploração de milhares de trabalhadores rurais para transformar a China numa grande exportadora de alimentos e numa potência militar nuclear. Para se perpetuar no poder, instituiu um clima de denúncias, perseguições e terror. Na intimidade, ele é descrito como um pai omisso, marido infiel e amigo pouco confiável. Em síntese: Um psicopata, canalha, assassino, genocida e excremento humano.

Comentários:
O que brota das quase mil páginas da biografia não-autorizada de Mao Tsé Tung e descrita por Jung Chang e Jon Halliday, são as ações psicóticas de um excremento humano que conduziu o gigante asiático ao clube nuclear, e que transfere, com justiça tardia, a personagem do rol dos líderes para os compêndios psiquiátricos sobre genocidas. O livro desvenda como um tirano lunático manipulou um país gigantesco para impor os seus ideais comunistas psicóticos.
Desde os primeiros anos de militância política desse filho de camponeses nascido em Shaoshan, em 1893, percebe-se que a construção de uma identidade nacional - imposta a ferro e fogo - servia a um propósito pessoal, no qual a ideologia exercia papel secundário. A obsessão era pelo domínio político, não importa a que preço e a que sacrifícios para a população, à família e aos aliados.
Hábil na difamação, Mao mandou muitos para a morte direta e indiretamente. Bastava uma insinuação e a sentença estava selada. Em 27 anos de regime ditatorial, 65 milhões de chineses perderam a vida por ordem dele. Em guerras fúteis ou pela fome como política de Estado - o direcionamento do dinheiro para o Grande Salto, por exemplo, foi seguido de uma campanha na imprensa mostrando que comer menos fazia bem à saúde, ao mesmo tempo em que o PC inventava um excesso de produção de arroz. Muitas mortes se deram ainda em sangrentos expurgos como o realizado em 1966 e 1967. Milhares de pessoas foram executadas no país, na maioria professores e universitários.
A desconstrução do mito tem como ponto de partida a Longa Marcha, campanha militar a partir de 1933 pela qual Mao e seu grupo solaparam os nacionalistas liderados por Chiang Kai-Shek até assumirem as rédeas do país. Longe da epopéia heróica que impôs à história, a marcha misturou perdas imensas - dos outros - com invenções descaradas como a célebre batalha pela ponte sobre o Rio Dadu, em Luding, em 1935. Na descrição oficial, as tropas de Mao desafiaram metralhadoras e cruzaram a ponte de joelhos, sobre correntes incandescentes. Nada disso aconteceu não passando de uma deslavada mentira, marca registrada do socialismo.
Como comandante militar, Mao pouco ligava para suas tropas. Sacrificou milhares de homens em marchas e batalhas desnecessárias, mas importantes para ganhar tempo ou enfraquecer rivais no partido e na Rússia. A sombra de Stálin, outro psicopata genocida, permeia toda a trajetória de Mao.
O ditador russo financiou a expansão do PC chinês. A ponto de ordenar que Mao e Chiang Kai-Shek parassem de lutar entre si e se engajassem em uma campanha contra o Japão - já às portas da 2ª Guerra Mundial - que só servia a Moscou. Mao fingiu obedecer e se resguardou, aproveitando o desgaste dos nacionalistas para ganhar terreno.
O lado pessoal também vale a leitura. Mao teve quatro esposas oficiais - a mais famosa era a atriz Jiang Qing, a tenebrosa Madame Mao - e inúmeros filhos e amantes que desprezou. Enquanto Chiang Kai-Shek sofria pelo único filho seqüestrado por Stálin, Halliday e Chang contam como Mao nunca mexeu um dedo por seus dois meninos retidos em Moscou. Não à toa, a única esposa que foi apaixonada por ele, Gui-Yuan, terminou seus dias num hospício russo.
Excerto da obra:
17. Um ator nacional
(1936; 42-43 anos)

Quando a notícia do seqüestro de Chiag Kai-shek chegou ao QG do partido, os líderes jubilantes encheram a caverna de Mao, que “ria como louco”, como lembrou um colega. Agora que Chiang estava preso, Mao tinha um objetivo supremo: vê-lo morto. Se Chiang fosse assassinado, haveria um vácuo de poder e, portanto, uma boa oportunidade para a Rússia intervir a ajudar a por o PCC – e ele – no poder.
Em seus primeiros telegramas para Moscou depois do evento, Mao implorou aos russos que se envolvessem para valer. Escolhendo as palavras com cuidado, solicitou o consentimento deles para matar Chiang, dizendo que o PCC queria “exigir que Nanquim sacasse Chiang do poder e o entregasse ao povo para ser julgado”. Era obviamente um eufemismo para a sentença de morte. Sabedor de que seus objetivos eram diferentes dos de Stálin, Mao fingiu não ter notícias do seqüestro até sua execução e prometeu que o PCC “não emitiria declarações públicas por alguns dias”.
Enquanto isso, ele manobrava ativamente pelas costas de Moscou para liquidar Chiang. Em seu primeiro telegrama ao Jovem Marechal após o seqüestro, em 12 de dezembro, instava: “A melhor opção é matar [Chiang]”. Ele tentou mandar o seu melhor diplomata, Chou En-lai, de imediato para Xian. Chou havia negociado no começo daquele ano com o Jovem Marechal e aparentemente eles haviam se dado bem. Mao queria que Chou persuadisse o Jovem Marechal a “levar a cabo a medida final” (nas palavras de Chou), ou seja, matar Chiang.
Sem revelar o verdadeiro objetivo da missão de Chou, Mao solicitou um convite do Jovem Marechal para seu diplomata. Na época o QG ficava em Baoan, quase trezentos quilômetros ao norte de de Xian, a vários dias de viagem a cavalo. Então Mao pediu que ele mandasse um avião para apanhar Chou na cidade próxima de Yenan (então sob controle do Jovem Marechal), onde havia uma pista de pouso construída pela Standard Oil, quando fizera prospecções na região, no começo do século. Para encorajá-lo a agir com rapidez, Mao fez-lhe uma proposta espúria no dia 13: “Fizemos arranjos com o Comintern, cujos detalhes lhe contaremos depois”. A óbvia implicação era que Chou levaria notícias de um plano coordenado com Moscou.
O que o Jovem Marechal precisava não eram promessas off-the-record, retransmitidas pelo PCC, mas o endosso público da Rússia. Contudo, no dia 14, artigos de primeira página nos dois principais jornais soviéticos, o Pravda e o Izvestia, condenaram com veemência o seu ato como sendo uma ajuda aos japoneses e apoiaram claramente Chiang. Dois dias depois do seqüestro, o Jovem Marechal podia ver que o jogo havia acabado.
Ele fez ouvidos moucos à sugestão de Mao de enviar Chou. Mas Mao e despachou de qualquer modo, dizendo ao Jovem Marechal, no dia 15, que seu enviado estava a caminho e pedindo um avião para pegá-lo em Yenan. Quando Chou lá chegou, não havia avião e o portão da cidade estava fechado para ele; Chou teve de esperar toda a noite do lado de fora, em temperaturas abaixo de zero. “Os guardas recusaram-se a abrir o portão e se recusaram a ouvir a razão”, telegrafou Mao ao Jovem Marechal, exortando-o a fazer alguma coisa. O Jovem Marechal estava literalmente dando um gelo em Chou, uma indicação da raiva que sentia dos comunistas por ser enganado por eles em relação à atitude de Moscou.
No dia 17. Ele cedeu. Estava em busca de uma maneira de por fim ao fiasco, então mandou seu Boeing buscar Chou. Royal Leonard, seu piloto americano, ficou chocado ao descobrir que estava transportando comunistas (que haviam recentemente metralhado seu avião). No caminho de volta, naquela tarde nevada, ele pregou uma peça nos seus passageiros, conforme escreveu em suas memórias: “Peguei deliberadamente uma turbulência. De vez em quando, olhava para a cabine e me divertia vendo os comunistas [ ... ] que com uma das mãos seguravam suas barbas negras e com a outra, uma lata para despejar o vômito”.
O Jovem Marechal aceitou contrafeito a visita de Chou, embora apresentasse uma fachada amistosa e cooperasse com seu hóspede.
[1] Quando Chou o instou a matar o generalíssimo, ele fingiu que faria isso “quando a guerra civil for inevitável e Xian estiver cercada” por forças do governo.
Na verdade, Mao vinha tentando provocar uma guerra entre Nanquim e Xian. Esperava deflagrá-la com o avanço de tropas vermelhas na direção da capital. No dia 15, deu ordens secretas a seus altos comandantes para “atacar a cabeça do inimigo: o governo de Nanquim”. Mas teve de esquecer o plano, pois seria suicida para o Exército vermelho e não havia garantia de que de fato deflagraria a guerra. Para seu deleite, no dia 16, Nanquim declarou guerra ao Jovem Marechal, moveu tropas na direção de Xian e bombardeou as tropas dele fora da cidade. Mao instou o Jovem Marechal a não se limitar à defesa, mas ampliar a luta e atacar Nanquim. No dia seguinte, Mao telegrafou-lhe dizendo: “As jugulares do inimigo são Nanquim e [duas linhas férreas fundamentais]. Se 20 ou 30 mil [ ... ] soldados pudessem ser despachados para atacar essas ferrovias [ ... ] a situação geral mudará de imediato. Por favor, leve isso em consideração”. A esperança de Mao era que, ao tomar essa medidas, o Jovem Marechal rompesse suas ligações com Nanquim e, com maior probabilidade, matasse Chiang.
Enquanto Mao manobrava para matar Chiang, Stálin teimava em salvar o Generalíssimo. Em 13 de dezembro, um dia depois do seqüestro, o encarregado de negócios soviéticos em Nanquim foi chamado pelo primeiro ministro interino, H.H. Kung (o cunhado de Chiang), para ser informado de que “corria notícia” de que o PCC estava envolvido no golpe e que “se a segurança do Sr. Chiang está em perigo, o ódio da nação se estenderá do PCC à União Soviética e poderá pressionar [o governo chinês] a se unir ao Japão contra a União Soviética”. Stálin compreendeu que o seqüestro poderia significar uma ameaça urgente aos seus interesses estratégicos.
[ ... ]
Stálin suspeitava de que Mao poderia esta em conluio com os japoneses. Ele já começara a ter todos os “velhos parceiros chineses” dos soviéticos denunciados e interrogados sob tortura. Quatro dias depois do seqüestro de Chiang, um importante detido “confessou” estar envolvido num complô trotskista para provocar um ataque do Japão à Rússia. O nome do próprio Mao apareceu nas confissões e um grosso dossiê sobre ele foi compilado, com acusações de que era agente dos japoneses, bem como trotskista.
Dimitrov mandou uma dura mensagem a Mao no dia 16. Ela condenava o seqüestro, dizendo que aquilo “objetivamente só pode prejudicar a frente unida contra o Japão e ajudar a agressão dos japoneses à China”. Seu ponto fundamental era que “o PCC deve assumir uma posição decisiva em favor de uma solução pacífica”. Era uma ordem para obter a libertação do Generalíssimo e sua volta ao governo.
Quando o telegrama chegou, consta que Maom”ficou enfurecido [ ... ] blasfemou e bateu os pés”. Sua medida seguinte foi fingir que jamais recebera a mensagem. Escondeu-a do seu Politiburo, do Jovem Marechal e também de Chou En-lai, que estava a caminho de Xian para persuadir o Jovem marechal a matar Chiang. Mao continuou a manobrar para que Chiang fosse assassinado.
[ ... ]
A única opção do Jovem Marechal era ficar ao lado de Chiang, o que significava que deveria libertá-lo. Além disso, ele percebeu que sua única maneira de sobrevier era deixar Xian com Chiang e colocar-se nas mãos dele. Havia muita gente em Nanquim que o queria morto e certamente mandariam assassinos atrás dele. Só poderia ficar seguro sob a custódia de Chiang. E, ao escoltar Chiang para fora do cativeiro, ele poderia também ter esperança de conquistar a boa vontade do Generalíssimo. Sua aposta de que Chiang não o mataria revelou-se correta. Depois de sofrer prisão domiciliar sob o governo de Chiang e de seus sucessores durante meio século, quando esteve ao mesmo tempo detido e protegido, ele foi libertado e morreu em seu leito, no Havaí, aos cem anos, em 2001, tendo sobrevivido a Chiang e Mao por mais de um quarto de século.

Nota do compilador: A partir deste exíguo excerto pode-se perceber a falta de caráter e de personalidade, marca registrada de todos os comunistas: Dissimulação, mentira, traição, deslealdade, justiçamento, assassinato etc.

[1] A raiva do Jovem Marechal contra Moscou e o PCC faiscou rapidamente durante nossa entrevista com ele, 56 anos depois. Quando lhe perguntamos se os comunistas chineses haviam falado sobre a verdadeira atitude dos soviéticos em relação a ele antes do golpe, ele retrucou com súbita hostilidade. “Claro que não. Vocês fazem uma pergunta muito estranha”. [Nota dos autores].

Sobre os autores:

CHANG, JUNG
Jung Chang nasceu na China, em 1952, filha de pais comunistas. Em 1978, foi estudar no Reino Unido. Escreveu o best-seller 'Cisnes selvagens' (1994), em que conta a história de sua família. O livro vendeu mais de 10 milhões de exemplares em trinta idiomas.

HALLIDAY, JON
Jon Halliday é historiador e marido de Jung Chang, a quem conheceu quando era pesquisador-visitante do King's College, na Universidade de Londres. O casal vive em Londres.

sábado, 24 de janeiro de 2009

O GRANDE ERRO DOS MILITARES NOS IDOS DE 1964...

Entrevista Extemporânea
Cel Silvio Gama ( * )

Eu estava, sexta-feira passada, na sede da Academia Alagoana de Letras, durante o velório no qual pranteávamos o falecimento do confrade Ib Gato Falcão e, contava a um grupo de amigos que ele gostava de me chamar de general, em tom de brincadeira, pensando que a promoção me agradava.
Nesta ocasião, um jornalista que fazia a cobertura do velório dirigiu-se a mim e comentou:

– Professor, tenho acompanhado sua vida literária e nunca soube que o senhor pertence ao Exército. Aproveitando a oportunidade e porque o acho perfeitamente integrado à vida civil, desejo saber como o senhor vê a Revolução de 1964.

Pergunta inoportuna, mas se para ela eu não desse resposta, poderia, o meu silêncio, ser interpretado como uma fuga para evitar uma opinião contrária. Resolvi encarar o curioso e respondi:

– Da Revolução eu acho que foi uma aventura apressada de uma camarilha que desejava entregar o nosso Brasil nos braços de uma ditadura comunista. Porém da Contra-revolução que ela ensejou, acho que foi uma atitude acertada do Exército, atendendo ao clamor popular.
– Mas a Contra-revolução instalou uma ditadura militar que permaneceu por mais de vinte anos.
Ponderou ele.
– Chamam de ditadura um governo democrata que manteve a autonomia dos três poderes; Que manteve o processo eleitoral funcionando; Que respeitou os direitos individuais de todas as pessoas de bem; Que prendeu bandidos e delinqüentes que se escondiam atrás de um falso idealismo, onde o individualismo interesseiro predominava; Que mais trabalhou, comparando-se as suas atividades com as de todos os governos que o antecederam.
– Mais só uma pergunta, coronel
– o meu modo decidido e firme com o qual eu dava as respostas, já estava fazendo com que ele colocasse os pontos nos is, – em sua opinião a Contra-revolução cometeu erros?
Cometeu um só. O de não ter feito com o bando de assassinos, ladrões de bancos e de carga de caminhões, seqüestradores iguais aos que, hoje, atormentam à nossa população, o mesmo que Fidel Castro fez em Cuba – e que eles tanto aplaudem: eliminação sumária. Só assim estaríamos livres dessa horda de ladrões que, comprando a democracia, situaram-se no poder; saqueia o erário público; se auto premiam com indenizações bilionárias por prejuízos morais inexistentes; incentivam o enriquecimento ilícito e, o que é pior, estão, pelo mau exemplo, promovendo o esfacelamento da ética e da moral na sociedade.

( * ) Cel Silvio Gama é Aspirante de Artilharia, da Turma TUIUTI - 08 Jan 44, da antiga Escola Militar do Realengo, hoje Cel Reformado, renomado escritor, autor de vários livros, em prosa e poesia, por isso que prestigiado membro da Academia Alagoana de Letras.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

PALESTRA Tomas Schuman (Yuri Bezmenov) - FINAL

Vídeo 7/7
É verdade que eles são tão obcecados por sexo? Você consegue imaginar mostra um filme onde a cada cinco minutos há uma cópula na tela a um país como a Índia, um país com longa tradição de respeito a estes assuntos particulares? Ou ao Paquistão?!
E os EUA esperam que essas pessoas vos respeitem? De jeito nenhum. Ah sim, eles verão o filme. Eles pagarão cinco rúpias pra ver aquele lixo mas eles saem [do cinema] e dirão a seus filhos: “Não respeite os americanos. Não seja como os americanos.” Viram? Então o processo de desmoralização pode ser impedido bem aqui tanto exportado quanto importado, e isto precisa de um passo, uma coisa muito importante a se fazer.
Você não tem que expulsar todos os agentes da KGB de Washington. A solução mais difícil e ao mesmo tempo a mais simples para a subversão é começar aqui [na fase de desmoralização] e antes ainda trazendo a sociedade de volta à religião, algo que você não pode tocar, comer e vestir, mas algo que governa a sociedade e a faz mover e se preservar.
Um cientista soviético, Shafarevich, que não tem nada a ver com religião, - ele é um cientista da computação – fez um estudo muito intenso na história de países socialistas. Ele chamava socialista ou comunista a qualquer país com uma economia centralizada e uma estrutura de poder piramidal, e descobriu – na verdade não descobriu; apenas chamou à atenção de seus leitores – que civilizações como Mohenjo-Daro, nas regiões hindus ribeirinhas, como Egito, como os maias, como os incas, como a cultura babilônica, desmoronaram e desapareceram da face da Terra no momento em que perderam a religião. Simples assim. Desintegraram. Ninguém se lembra mais delas. Bem... de longe. Então... As idéias estão movimentando a sociedade e mantendo a humanidade como uma sociedade de seres humanos, agentes inteligentes e morais de Deus. Os fatos, a verdade, o conhecimento exato talvez não. Toda a tecnologia sofisticada e computadores não impedirão a sociedade de desintegrar e eventualmente sumir.
Você já conheceu alguma pessoa que sacrificaria sua vida, liberdade, por uma verdade como esta? 2 x 2 = 4. Isto é verdade! Nunca encontrei uma pessoa que diria “Isto é verdade e estou pronto para defender a verdade”. “Atira em mim!”. Certo?
Mas milhões sacrificaram suas vidas, liberdade, conforto, – Tudo! – por coisas como Deus, como Jesus Cristo. É uma honra! Alguns mártires no campo de concentração soviético morreram. E morreram em paz, ao contrário daqueles que gritaram “Viva Stalin!” sabendo perfeitamente bem que ele pode não viver muito. Algo que é... Algo que é não-material movimenta a sociedade e a ajuda a sobreviver. E vice-versa.
No momento em que nos voltamos para dois vezes dois é quatro, e fazemos disto um princípio guia para nossa vida, nossa existência, nós morremos. Mesmo quando isto é verdade e isto não conseguimos provar; só podemos sentir e ter fé. Então a solução para a subversão ideológica, estranhamente, é muito simples. Você não tem que atirar nas pessoas, você não tem que mirar mísseis, Pershings e mísseis de cruzeiro no quartel-general de Andropov. Você só tem que ter fé e evitar a subversão. Em outras palavras: não ser uma vítima da subversão. Não tente ser uma pessoa que no judô está tentando esmagar o adversário e é pego pela sua mão. Não golpeie assim. Golpeie com o poder do seu espírito e superioridade moral. Se você não tem este poder, é hora de desenvolvê-lo. E esta é a única solução.
Acabou. – Obrigado! [palmas entusiásticas].

Créditos:
Edição da versão com áudio extra e legendas em português: David Balparda de Carvalho.
Indicação: Notalatina.
Transcrição das legendas: Anatoli Oliynik.

Link para assistir ao vídeo desta PARTE FINAL:

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

PALESTRA Tomas Schuman (Yuri Bezmenov) - PARTE VI

Vídeo 6/7
Apoiar as forças conservadoras de direita através de dinheiro, bandidos ou lei, não importa! Estabilize o país! Não deixe a crise evoluir pra guerra civil ou invasão! “Oh não!” – seus liberais vão dizer – “é contra a lei” “O congresso não alocará dinheiro para ações secretas da CIA!” Por quê não? Devemos esperar até vir a normalização e os tanques soviéticos aterrissem no aeroporto de Los Angeles? Agora, neste ponto da desestabilização TAMBÉM o processo poderia ser revertido e de novo mais fácil que este! Nada de envolvimento da CIA neste ponto! Sabe o que é preciso aqui? Restrição de algumas liberdades para grupos pequenos que são inimigos auto-declarados da sociedade. É simples assim! ‘Oh não” – dirão os liberais da mídia – “Isto é contra a constituição americana! como podemos?” – negar à força direitos civis a criminosos, por exemplo? “Não é bom!”OK? Então nós permitimos que eles... OK, se você permite que os criminosos tenham direitos civis, vá em frente, e leve o país à crise. Deste jeito não há derramamento de sangue! Limite os direitos! Digo, não colocá-los na cadeia! Não estou falando para colocar todos os gays de São Francisco num campo de concentração! Não permita que eles consigam poder político! Não os eleja a posições de poder! Seja no nível municipal, estadual ou federal. Tem que ser enfiado na cabeça de eleitores americanos de que uma pessoa como esta nas posições de poder é um inimigo! Não temam esta palavra. É um inimigo! Se não for um inimigo aqui, será aqui. Mais adiante ele será fuzilado, é claro. Mas neste ponto ele É um inimigo. OK? Vocês estarão prestando um grande serviço negando-lhe um direito de faturar em cima de suas próprias idéias malucas e se tornar um homem poderoso, um homem que usa sua posição de poder. Restrição de certas liberdades e permissividade naquele ponto impediria deslizar pra crise e provavelmente voltaria o processo de desestabilização. Restringir o poder ilimitado, o poder monopolista dos sindicatos neste pondo salvaria a economia do colapso. Introduzir uma lei para impedir empresas privadas de violar a mente da opinião pública na direção do consumismo. Nenhuma empresa deve ter o direito de forçar você a comprar mais, a não ser que você queira. Tem que haver uma lei. Quer anunciar seu carro? OK. Mas nenhuma menção a comprá-lo AGORA e economizar dinheiro! Te que ser contra a lei forçar as pessoas a consumir mais. Auto-restrição! Anteriormente, antes deste processo começar, a auto-restrição era um estudo da igreja, religião, porque nossos pregadores, os padres da Igreja nos diriam bens materiais são bons, mas não é a função primária do ser humano, porque você tem que viver com algo... Obviamente, o desígnio da nossa vida não é consumir mais desodorantes. Tem que haver algo maior. Se tal instrumento complicado como o corpo humano foi criado, obviamente deve haver algum propósito mais elevado para isto. E é bem fácil evitar a desestabilização negando às empresas ambiciosas uma pequena liberdade: forçar vocês a se tornarem processadores de produtos e bens indesejados. Eles transformam vocês em máquinas como a minhoca, que tem entrada e saída, então... Quanto tempo um eletrodoméstico médio dura hoje em dia? Menos de um ano. Por quê? Onde está a qualidade? Mas nós queremos que você compre mais. OK. O processo de desestabilização pode ser facilmente vencido se – como eu digo – a sociedade por vontade própria ou depois de persuadida pelos LÍDERES chegar à idéia de auto-restrição. “É tão difícil; queremos consumir mais.” Mas você tem a obrigação! A não ser que você queira chegar a esta etapa, onde, como dizemos na Rússia, se o deserto do Saara se tornar um Estado comunista um dia, haverá racionamento de areia. Então você tem que limitar suas expectativas neste ponto antes que seja tarde demais, mas não, não queremos fazer isto.
O processo de desmoralização, DE NOVO, é a coisa mais fácil de reverter. Antes de tudo, restringindo a importação de propaganda. A coisa mais fácil de fazer. Importação ilimitada, irrestrita de literatura soviética, jornalistas soviéticos, dar a propaganda soviética e a agitadores ideológicos tempo igual na cadeia de TV americana. Tem que ser impedido! E é fácil. Eles não se ofenderão – veja bem. Na verdade, eles respeitarão mais a América. Mas quando meu ex-colega Vladimir Posner aparece no Nighline e Ted Koppel pergunta “Bom, Vladimir, o que você pensa disso?” O quê ele pode pensar?! Ele é um instrumento de propaganda! Ele pensa o que o camarada manda ele pensar. Ele é apenas um belo e articulado alto-falante do sistema de subversão soviético. E Ted Koppel te faz acreditar que meu amigo Vladimir Posner PENSA?!
O processo de desmoralização pode não ter começado de forma alguma se neste ponto o país que é um recipiente de subversão ativamente – não violentamente, mas ativamente – impede a importação de ideologia estrangeira. Eu não quero que a América siga o modelo do Japão antigo. Você não tem que atirar em todo estrangeiro que se aproxime as fronteiras sagradas dos EUA. Mas quando ele te oferece um bagulho disfarçado de algo bem lustroso você deve dizer a ele: “Não.” “Nós temos nosso próprio bagulho.” Se neste ponto a sociedade for forte, corajosa, e consciente o bastante para parar a importação de idéias que são estranhas então toda a cadeia de eventos pode ser evitada.
Estive recentemente nas Filipinas e fiquei chocado como nas cidades grandes como Manila crianças escutam música ensurdecedora. Uma nação melodiosa, com uma longa tradição de bela e boa música étnica introduzida pelos Espanhóis há muito tempo, talvez uns dois, três séculos atrás – não lembro – de repente escutando lixo musical! Estourando os rádios a estouro total... volume total! Por quê?
Na Índia, passei vários anos vendo a reação de indianos saindo dos cinemas após ver uma produção de Hollywood. Eles não conseguiram entender por que os americanos são tão desperdiçadores. Eles arrebentam seus carros, seus carros lustrosos a cada cinco minutos. Como pode eles atirarem uns nos outros por meio milhão de dólares?
Link para assistir ao vídeo desta PARTE VI
Continua na PARTE VII (FINAL)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

PALESTRA Tomas Schuman (Yuri Bezmenov) - PARTE V

Vídeo 5/7
Ele exige reconhecimento, respeito, direitos humanos, e ele ajunta um grande grupo de pessoas e há choques violentos entre ele e a policia, o grupo dele e pessoas comuns, não importa o quê: São negros contra brancos, amarelos contra verdes, não importa onde está a linha divisória. Desde que este grupo entre em choque antagônico, às vezes militarmente, às vezes com armas de fogo, isto é o processo de desestabilização.
Os dormentes, muitos dos quais são simplesmente agentes da KGB, se tornam líderes do processo de desestabilização. Não quer dizer que o camarada Andropov manda o camarada Ivanov para os EUA. A pessoa que toma conta já está aqui! Ele é um cidadão respeitado dos EUA. Às vezes ele recebe dinheiro de várias fundações para sua luta legítima em prol de sei lá... direitos humanos, direito das mulheres, kid-lib, prison-lib, seja o que for. Há americanos simpatizantes que doam seu dinheiro a ele! O processo de desestabilização normalmente leva diretamente ao processo de crise. No caso de nações em desenvolvimento, - esta era a área que eu era ativo – o processo começa quando os órgãos legítimos de poder a estrutura social desmorona, não pode funcionar mais, e então nós temos órgãos artificiais injetados na sociedade tais como comitês não eleitos – vocês se lembram de que eu estava falando deles aqui [Desmoralização] – assistentes sociais, que não são eleitos pelo povo, mídia, que são os senhores auto-investidos da sua opinião, alguns grupos estranhos, que alegam que eles sabem como guiar a sociedade pra frente. Em geral não sabem. Tudo o que eles querem saber é como coletar doações e vender sua própria ideologia misturada, - misto de religião e ideologia.
Aqui temos todos estes órgãos artificiais exigindo poder. Se o poder é negado a eles, eles o tomam à força. No caso do Irã, por exemplo, de repente tínhamos comitês revolucionários. Quem? Quê? Que tipo de revolução? Não havia revolução ainda, e ainda assim eles tinham comitês! Eles tomavam o poder de julgamento, eles tinham o pode de execução, eles tinham o poder de legislação, e tinham o pode judiciário, [exatamente como está acontecendo em 2009 com o governo do PT no Brasil] todos combinados em uma pessoa, que é um intelectual de miolo mole às vezes formado em Harvard ou Berkeley. Ele volta para seu país e acha que sabe a solução para todos os problemas sociais e econômicos.

Crise:
A crise é quando a sociedade não pode mais funcionar produtivamente – ela desmorona. Obviamente, esta é a palavra para crise. Portanto, a população como um todo está procurando um salvador. Os grupos religiosos estão esperando um messias vir. Os trabalhadores dizem “Nós temos família pra alimentar!” “Vamos ter um governo forte, talvez um governo socialista, centralizado, onde alguém coloque os patrões em seus lugares e nos deixe trabalhar, estamos cansados de greve e perder hora extra e todas essas coisas. Precisamos de um homem forte. Governo forte.” Um líder, um salvador é necessário. A população já está irritada e cansada. E cá está, nós temos um salvador! Ou uma nação estrangeira vem, ou o grupo local de esquerdistas, marxistas, não importa de que eles se chamam. Sandinistas! Reverendo, ou algum tipo... Bispo Muzorewa como no Zimbábue... Não importa. Um salvador vem e diz “Eu guiarei vocês!” Então, nós temos duas alternativas aqui: guerra civil e invasão. Viram como funciona?
DESMORALIZAÇÃO ==> DESESTABILIZAÇÃO ==> CRISE ==> Guerra civil ou Invasão

Guerra civil nós sabemos o que é. Líbano é o melhor exemplo. A guerra civil que foi artificialmente implantada no Líbano por injeção de forças da OLP – Organização para Libertação da Palestina.
Invasão nós tivemos em vários outros países como Afeganistão, fale qualquer país do Leste Europeu. Foi invadido pelo exército soviético. Mas o resultado é o mesmo.
A próxima etapa é:

Normalização:
Normalização é uma palavra muito irônica, é claro. É emprestada da situação de 1968 na Tchecoslováquia quando a propaganda soviética e depois o New York Times declararam “O país está normalizado.” Os tanques chegaram em Praga, então não há mais Primavera de Praga, não há mais violência... Normal. Normalização. Nesta etapa os governantes auto-investidos da sociedade não precisam de mais nenhuma revolução, não precisam de mais nenhum radicalismo, então este é o reverso da desestabilização; basicamente é estabilizar o país à força. Então todos os dormentes e ativistas e assistentes sociais e “liberals” e homossexuais e professores e marxistas e leninistas são eliminados – fisicamente, às vezes. Eles já fizeram o serviço deles. OK? Eles não são mais necessários.
Os novos governantes precisam de estabilidade para explorar a nação, o país, tirar vantagens da vitória. OK? Então chega de revolucionários, por favor! E isto é exatamente o que acontece em vários países. Lembram Bangladesh? Esta foi a crise na qual eu fui de utilidade. Primeiro eles tinha Mujibur Rahman. Em 1971 ele era o líder do Partido do Povo, a Liga Awami, com um bigode tipo Stalin. Ele esteve na Rússia várias vezes. Cinco anos depois ele foi baleado por seus ex-colegas marxistas. Ele cumpriu sua função.
No Afeganistão, isto aconteceu três vezes. Primeiro havia Taraki, depois Amin e agora Babrak Karmal. Eles se mataram sucessivamente um atrás do outro, no momento em que um cumpria sua obrigação. O Primeiro desmoralizava o país, o segundo desestabilizava, o terceiro o levou à crise. Adeus, camarada. Pum! Babrak Karmal vem de Moscou e é colocado no poder. O mesmo aconteceu em Grenada recentemente. Maurice Bishop – marxista – foi morto por Austin – Como se chama? General alguma coisa – que também era marxista! Certo? Então, chega de revoluções, por favor. Normalização agora.

DESMORALIZAÇÃO ==> DESESTABILIZAÇÃO ==> CRISE ==> Guerra Civil ou Invasão ==> NORMALIZAÇÃO

Normalização: De agora em diante, chega de greves, chega de homossexuais, chega de women-lib, chega de kid-lib, chega de lib, ponto final.
Boa e sólida liberdade proletária democrática. E pronto. Agora para reverter este processo é preciso um esforço enorme. Quando hoje os EUA tiveram que invadir Grenada para reverter o processo de subversão, algumas pessoas disseram “Rapaz, isso não é bom, não é kosher. Invadir um lindo país, a ilha de Grenada.” Ora, por que você não parou o processo aqui, [Desmoralização] quando Grenada só foi abordada por esquerdistas? Por que não impedir que Maurice Bishop sequer chegasse ao poder? Os grenadenses o queriam? Muito questionável! Pra começar eles não sabiam quem era Maurice Bishop. Ele mesmo chegou ao poder por um golpe de Estado. OK? Mas não, nós deixamos a situação avançar mais e mais até a crise e normalização muito em breve. E aí os EUA decidem invadir o país descobrindo que o país era inteiramente uma base militar para a URSS! Claro que é uma medida drástica! Claro que é uma pena que os fuzileiros tiveram que perder – O quê – dezessete vidas. Muito ruim. Por que não parar o processo antes que chegue à crise? Ah não, os intelectuais não deixam! É interferência em assuntos internos. Eles têm o máximo de cuidado para não deixar o governo americano interferir em assuntos internos de países latino-americanos. Eles não ligam pra União Soviética interferindo nestes assuntos.
Então, para reverter este processo daqui [normalização] é preciso apenas e sempre ação militar. Nenhuma outra força na Terra pode reverter este processo neste ponto. Neste ponto [crise] não precisa uma invasão militar pelo exército dos EUA. É preciso ação vigorosa, como no Chile. Um envolvimento discreto da CIA para impedir que o salvador de fora chegue ao poder e estabilizar o país antes que ele entre em guerra civil.
Link para assistir ao vídeo desta PARTE V
Continua na PARTE VI

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

PALESTRA Tomas Schuman (Yuri Bezmenov) - PARTE IV

Vídeo 4/7
Bom, eu fui muito ativo, mas algumas pessoas não gostam. Então por que deveríamos ter oportunidades iguais? Por quê? Oportunidade igual de se destacar. Oportunidades iguais em circunstâncias iguais, sim, mas você sabe que as pessoas são diferentes. Se destacar, sim, supondo que cheguemos ao mesmo nível de excelência, perfeição, que é um futuro distante hipotético. Sim, talvez. Mas nós sabemos perfeitamente bem que mesmo com as melhores intenções, as pessoas não poderiam ser iguais. Por que deveríamos ter igualdade no, digamos, sistema legal? Eu, me considero um cidadão cumpridor da lei, e uma pessoa que vem aqui prá roubar e atirar? Digamos... O governo dos EUA sob Carter importou milhares de criminosos cubanos. Eram criminosos conhecidos. Ainda assim foram aceitos. Vocês acham justo que eu e minha esposa das filipinas que trabalha como... – perdão – cavalo como técnica de laboratório no hospital deveríamos ter os MESMOS direitos que um criminosos de Cuba? Por quê? E ainda assim repetimos como papagaios: “igualdade, igualdade, igualdade!” E o sistema de propaganda soviética ajuda-nos a acreditar que igualdade é algo desejável. A democracia, tal como foi estabelecida pelos patronos deste país, deste sistema, no século passado [XIX], não é igualdade. É o sistema onde pessoas DIFERENTES, pessoas desiguais, têm uma chance de sobreviver e ajudarem-se umas às outras em constante concorrência, em aperfeiçoamento constante, e não uma igualdade que é superimposta por um padrinho ou pessoa boazinha em Washington DC. E a igualdade absoluta existe na União Soviética. Igualdade entre aspas: Todo mundo está igualmente na... lama! Exceto algumas pessoas [que] são mais iguais que as outras no Politiburo. Viram? Então, no momento em que você leva um país ao ponto de quase total desmoralização onde nada funciona mais, quando você não tem certeza do que é certo ou errado, bom ou mau, quando não há divisão entre o bem e o mal, quando até os líderes da Igreja dizem às vezes “Bom, violência em prol da justiça... – especialmente justiça social – é justificável em países como Nicarágua, El Salvador, [Brasil] bom, talvez Rodésia...” e escutamos isto e dizemos “É, provavelmente... é verdade.” É verdade? Não, não é verdade! Violência não é justificável; especialmente em prol de – aspas – “justiça social” introduzida por marxistas-leninistas que são meus ex-colegas da Agência Novosti. OK, então atingimos aquele ponto [Desmoralização]. O próximo passo é desestabilização.

Desestabilização:
De novo, fala por si o que é: desestabilizar todas as relações, todas as instituições e organizações aceitas no país do seu inimigo. Como você faz? Você não tem que mandar um batalhão de agentes da KGB para explodir pontes. Não! Você os deixa fazerem sozinhos! A área de aplicação é mais estreita agora. Não é como no caso anterior. As ações abertas, legítimas, da KGB neste caso, mal seriam perceptíveis [porque] não há crime se um professor que recentemente veio da URSS introduz um curso de marxismo-leninismo numa universidade californiana, por exemplo. Ninguém vai chegar à porta dele e dizer “OK, senhor. Venha. Você está preso.” Não. Não é crime. Não é sequer considerado um crime moral contra o seu país. Então, a área de aplicação aqui está se estreitando para economia, – novamente relações trabalhistas, certo? – lei e ordem e... novamente a mídia, mas um pouco diferente; vou explicar depois. OK, três áreas basicamente.

Economia:
A radicalização do processo de negociação. Se naquela etapa nós ainda poderíamos atingir, teoricamente, algum acordo positivo entre as partes negociantes com, digamos, introdução arbitrária de juízes de terceira parte objetivamente julgando as exigências de ambos [os] lados, aqui é radicalização. Na etapa de desestabilização não chegamos a um acordo nem dentro de uma família. O marido e mulher não poderiam descobrir o que é melhor: o marido quer que os filhos comam à mesa e a mulher quer que a criança corra pelo cômodo e derrube comida pelo chão. Eles não chegam a um acordo a não ser que comecem uma luta. É impossível chegar a um acordo, um acordo construtivo entre vizinhos. Alguns dizem “Eu não gosto que você trabalhe no gramado nesta hora porque exatamente nesta hora estou passeando com meu cachorro e ele fica nervoso e não consegue passar as bolas”, sabe? Eles não entram em acordo. Eles vão para uma corte civil ou coisa assim. Radicalização de relações humanas. Sem mais acordo. Luta, luta, luta!
As relações normais tradicionalmente aceitas são desestabilizadas. As relações entre professores e alunos em escolas e universidades. Luta! As relações entre – na esfera econômica – entre empregado e patrão são mais radicalizadas. Não mais aceitação da legitimidade das exigências dos trabalhadores. Na como os japoneses, com a teoria Z, - se vocês já ouviram falar – onde trabalhadores estão envolvidos no processo de decisão então eles não têm incentivo moral para lutar contra seus patrões. Nos EUA é justamente o oposto. Quanto mais difícil a luta, melhor, mais heróicos eles parecem. Quando a rede Greyhound estava de greve recentemente os correspondentes de emissoras de TV locais em todos os Estados Unidos “Ah sim, estamos fazendo algo bom!” e eles pareciam heróis e tinham orgulho. Havia uma família, o marido era motorista de ônibus e então eles tinham decidido, em protesto contra os patrões, acampar em algum lugar da floresta. Eles foram apresentados à audiência como uma gente heróica e boazinha. Viram?
Os embates violentos entre passageiros, piqueteiros e os grevistas são apresentados como algo normal. Dez, quinze, vinte anos atrás nós ficaríamos nervosos e [diríamos] “Por quê? Por que tanto ódio?” Hoje não. Nós dizemos “Bem... Lugar comum.” Radicalização, militarização às vezes. Como expliquei naquela etapa. Eu me adiantei um pouco. Pessoas baleadas!

Lei e ordem:
Também é empurrada para áreas onde as pessoas antes resolviam suas diferenças pacificamente e legitimamente. Agora estamos ficando com esses casos judiciais nos casos mais irrelevantes. Não podemos mais resolver nossos problemas. A sociedade como um todo fica mais e mais antagônica entre indivíduos, grupos de indivíduos e a sociedade como um todo.

Mídia:
A mídia se coloca em oposição à sociedade em geral, como um todo. Separada, alienada. OK? Nesta etapa – vocês se lembram que eu estava falando há duas horas sobre os dormentes – aí é quando os estudantes, digamos dos EUA, se são treinados na Universidade Lumumba, ou das nações em desenvolvimento, os estudantes com que eu estava lidando, estão sendo mandados de volta da União Soviética aqui. Ou se eles já estavam nos EUA, no país que é objeto da subversão, eles partem pra ação! Os dormentes acordam! Eles dormiram por quinze a vinte anos. Agora eles de tornaram líderes de grupos, padres... sei lá... pessoas públicas. Proeminentemente eles agem. Eles ativamente se incluem no processo político. De repente nós vemos um homossexual... Há quinze anos ele fazia as sujeiras dele e ninguém ligava, e agora ele faz disso uma questão política.
Link do vídeo da PARTE IV
Continua na PARTE V

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

PALESTRA Tomas Schuman (Yuri Bezmenov) - PARTE III

Vídeo 3/7
O processo Ângelo Buono durou dois anos em Los Angeles e ainda assim há alguns advogados que dizem: “Olha... ele é um bom sujeito, na verdade.” Houve testemunhas que disseram – também criminosos – disseram... “Ora, ele é um cara legal! Um dia eu pedi pra ele queimar a casa do meu inimigo e ele não quis!” Sujeito legal! Erosão. Uma substituição lenta dos princípios morais básicos, onde um criminoso não é bem um criminoso; ele é um réu, mesmo que sua culpa esteja provada. Há ainda uma dúvida. Matar ou não matar, ser ou não ser. “Não matarás!” Sim! Mas esta fala pode não ser necessariamente aplicável a um assassino! “Não assassinaras!” – esta deveria ser a premissa, e não “Não matarás”.

Relações trabalhistas: Nesta etapa, dentro de quinze a vinte anos, nós destruímos os elos tradicionalmente estabelecidos de negociação entre patrão e empregado. A clássica teoria marxista-leninista de troca natural de bens: uma pessoa “A” tem cinco sacas de cereais e uma pessoa “B” tem cinco pares de sapatos, e a troca natural sem dinheiro é quando eles negociam entre si, e apenas com a introdução da terceira “C”, um completo terceiro alienígena, estranho, que diz: “Não dê a ele as cinco sacas de cereal. Dê-as a mim. E você me dê seus cinco pares de sapatos e eu distribuirei de acordo.”
Então a economia irá...(balançar) Esta é a morte da troca natural, a morte da negociação natural.
Bem, os sindicatos foram estabelecidos há cem anos. O objetivo era melhorar as condições de trabalho e proteger os direitos dos trabalhadores daqueles patrões que estavam abusando de seu direito porque tinham mais dinheiro. Objetivamente, naquela época, inicialmente o movimento dos sindicatos funcionou de fato. O que vemos agora é que o processo de negociação não está mais resultando no acordo que leva diretamente à melhora de condições de trabalho e aumento de salário. O que vemos é que após cada greve prolongada os trabalhadores perdem. Mesmo que tenham aumento de dez por cento em seus salários eles não conseguem recuperar por causa da inflação e do tempo perdido. Mais que isso! Milhões de pessoas sofrem com aquela greve porque agora a economia é interdependente, está entrelaçada como um único corpo. Se antes os siderúrgicos, digamos cem anos atrás, poderiam entrar em greve, ninguém sofreria. Agora e impossível. Se um lixeiro entra em greve hoje, o resto da cidade de milhões fica fedendo. Quer dizer, faltará o serviço. Em Quebec, por exemplo, os eletricistas [eletricitários] entraram em greve no meio do inverno! Você pode congelar seu traseiro, e ainda assim eles estavam em greve. Eles recuperaram o salário? Não! Eles perderam! Quem ganhou com isto? Os líderes do sindicato. Qual é o motivo da greve? Melhorar as condições do trabalhador? Não! Óbvio que não é! Então qual é? I-de-o-lo-gia! Prá mostrar prá esses capitalistas! E a horda obediente de trabalhadores, como ovelhas, seguem essa gente, e não podem desobedecer. Por quê? Porque se desobedecerem, você sabe o que acontece com eles. Piquetes! Assassinatos! Caminhoneiros baleados! ... por piqueteiros. Em Montreal, por exemplo, vi quando fui correspondente da CBC, Canadian Broadcasting Corporation Internacional, quando trabalhadores de uma fábrica de aeronaves destruíram computadores e equipamentos na fábrica e a administração contratou fura-greves seus carros foram virados de ponta-cabeça e queimados. Suas casas foram queimadas! Seus filhos foram intimidados e houve vítimas, disto vocês podem ter certeza. Por quê? Prá melhorar as condições dos trabalhadores? Não! Ideologia! OK, isto é o que basicamente acontece.
Pode ou não acontecer sem a ajuda da URSS, mas as tendências naturais estão sendo bastante aproveitadas e exploradas pelos sistemas de propaganda soviéticos.
Como? Sempre que um sindicato entre de greve, temos um influxo de propaganda, mídia de massa, disseminação ideológica. O direito dos trabalhadores! E repetimos como papagaios: “Sim, o direito dos trabalhadores.” Direito de quem? Dos trabalhadores? Não! A única liberdade do trabalhador – vender o seu trabalho de acordo com seu próprio desejo e vontade – é tirada dele! Por quem? Pelo chefe do sindicato. Poder ilimitado é dado. Responsabilidade. Quero vender meu trabalho, não por 2,50 a hora, mas por 2,00. Eu não tenho o direito! Minha liberdade é negada a mim. Eu sei que se eu vender meu trabalho por 2,00 a hora e não por 3,00 eu concorrerei melhor com o outro cara, que é preguiçoso, e mais ambicioso. Eu não preciso de 3,00! Preciso apenas de 2,00. Não! Fui forçado a acreditar pela mídia, pelas empresas, por agências publicitárias que eu preciso de mais e mais e mais! Já viram algum comercial na TV prá consumir menos? Não! De jeito nenhum! Se você precisa de um carro de seis cilindros ou não, você tem que comprar, e anda logo! Quando eu estava dirigindo para cá, na estação de rádio local um locutor empolgado disse “Você, corra e economize, economize, economize! Tem uma liquidação de meia-calça!” Economize... comprando mais! Claro, claro! Seria muito ingênuo esperar que a KGB obrigasse a agência publicitária a fazer uma propaganda maluca dessas. Não, claro que não! Mas o que fazíamos quando eu trabalhava para a Novosti nós atolávamos editoras, organizações estudantis, grupos religiosos com literatura de luta de classes, se não diretamente com propaganda marxista-leninista, então propaganda de aspirações legítimas da classe operária: melhoria de vida, igualdade... Igualdade! Veja só! O Presidente Kennedy uma vez disse “Minha gente, vamos fazer a América acreditar que as pessoas nascem iguais!” As pessoas nascem iguais? Há alguma menção na Bíblia ou em alguma outra escritura sagrada em qualquer religião? Qualquer religião! Se não acredita em mim, vá para a biblioteca e xeque. Não há uma única palavra sobre igualdade! Mas o oposto: Por seus feitos, Deus te julgará! O que você FAZ é importante, o mérito da sua personalidade. Você não pode legislar igualdade.
Se você quer ser igual, você TEM que ser igual! Você tem que merecer. E ainda assim nós construímos nossa sociedade sobre o principio de igualdade. Você diz “as pessoas são iguais.” Você sabe que é falso, é uma mentira! Algumas pessoas são altas e burras, outras são baixas, carecas e inteligentes. Se nós as fazemos iguais à força, se colocarmos o princípio de igualdade na base de nossa estrutura sócio-política é o mesmo que construir uma casa na areia. Cedo ou tarde ela vai desmoronar, e é exatamente o que acontece.
E nós propagandistas soviéticos estamos tentando empurrar vocês na direção em que vocês vão sozinhos: “Igualdade, sim! Igualdade! As pessoas são iguais!” Terra das oportunidades iguais! É verdade ou não? Pense bem! Oportunidades iguais. Deve haver oportunidades iguais? Prá mim? E para um safado preguiçoso que vem para cá vindo de outro país e IMEDIATAMENTE se registra como recipiente, beneficiário de seguro? Eu nunca recebi um único dól... – Não, desculpe – Eu recebi uma vez. Mas eu nunca requeri seguro. Por treze anos eu aceitava qualquer emprego: segurança, jornalista, taxista, qualquer coisa!
Link para assistir ao vídeo desta PARTE III:
Continua na PARTE IV

domingo, 18 de janeiro de 2009

PALESTRA: Tomas Schuman (Yuri Bezmenov) - PARTE II

Vídeo 2/7
Uma geração. Um tempo de vida de uma pessoa, de um ser humano, que é dedicado a estudar, a formar a mentalidade, ideologia, personalidade. Não mais, não menos. Normalmente leva de quinze a vinte anos. O que inclui? Inclui: Influenciar, ou... – por vários métodos: infiltração, métodos de propaganda, contatos diretos, não importa muito, vou descrevê-los depois – várias áreas onde a opinião pública é formada ou moldada.
Religião, sistema educacional, vida social, administração, sistema fiscalizador legal, militar, é claro, e relações de trabalho (trabalhador) – patrão, economia, OK? Cinco áreas. Não vou escrever porque não vamos ter espaço suficiente. Às vezes quando descrevo todos os métodos alunos me perguntam “Você tem certeza de que isso é o resultado da influência soviética?” Não necessariamente. Veja, a tática da subversão sobre a qual estou falando é similar à arte marcial, a arte marcial japonesa. Se alguns de vocês estão familiarizados com esta tática, provavelmente vão lembrar que se um inimigo é maior, mais pesado que você, seria muito doloroso resistir a seu golpe direto. Se uma pessoa mais pesada quer me acertar no rosto, seria muito ingênuo e contra produtivo eu para seu golpe. A arte chinesa e japonesa do judô nos diz o que fazer. Primeiro evitar o golpe, e então agarrar o punho e continuar seu movimento na direção em que estava antes. Certo? Até que o inimigo bata na parede. Viu? Então... o que acontece aqui... O país-alvo obviamente faz algo errado. Se é uma sociedade livre, democrática, há vários movimentos diferentes dentro da sociedade.
Há, obviamente, em toda sociedade, pessoas que são CONTRA a sociedade. Podem ser criminosos comuns, em discordância com a política estatal, inimigos declarados, simples personalidade psicóticas que são contra tudo... Certo? E, finalmente, há o pequeno grupo de agentes de uma nação estrangeira comprados, subvertidos, recrutados. Certo? No momento em que todos estes movimentos estiverem direcionados em uma direção, - certo? – esta é a hora de agarrar este movimento e continuá-lo até que o movimento force a sociedade inteira ao colapso, à crise, certo?
Então esta é exatamente a tática da arte marcial. Não paramos um inimigo, nós o deixamos ir, AJUDAMOS ele a ir na direção em que nós queremos que eles vão. OK?
Então, na etapa de desmoralização, obviamente há tendências em cada sociedade, em cada país, que estão indo na direção oposta dos princípios e valores morais básicos. Tirar vantagem destes movimentos, faturar em cima deles é o maior propósito do originador da subversão.

Então nós temos:

1. Religião;
2. Educação;
3. Vida social;
4. Estrutura de poder;
5. Relações de trabalho – sindicatos;
6. Lei e ordem.

Estas são as área de aplicação da subversão. O que significa exatamente?

Religião: Destrua-a. Ridicularize-a. Substitua-a por várias seitas, cultos, que leva a atenção das pessoas, a fé, seja ela ingênua, primitiva... não importa muito – desde que o dogma religioso basicamente aceito seja erodido devagar e levado para longe do propósito supremo da religião, - manter as pessoas em contato com o Ser supremo – isto serve ao propósito. Logo, substitua as organizações religiosas aceitas, respeitadas, por organizações fajutas. Distraia a atenção das pessoas da fé real e atraia-as a várias fés diferentes.

Educação: Distraia-os de aprender algo que seja construtivo, pragmático, eficiente. Ao invés de matemática, física, línguas estrangeiras, química, ensine-os a história do conflito urbano, comida natural, economia doméstica, sua sexualidade, qualquer coisa, desde que te afaste, OK?

Vida social: Substitua as instituições e organizações tradicionalmente estabelecidas por instituições fajutas. Tire a iniciativa das pessoas, tire a responsabilidade das ligações naturalmente estabelecidas entre indivíduos, grupos de indivíduos e a sociedade como um todo e substitua-os por órgãos artificialmente e burocraticamente controlados. Ao invés de vida social e amizade entre vizinhos, estabeleça instituições de assistentes sociais. Pessoas que estão na folha de pagamento de quem? Sociedade? Não. Burocracia. A principal preocupação dos assistentes sociais não é a sua família, não é você, não é a relação social entre grupos de pessoas. A preocupação principal é pegar o contracheque do governo. Qual será o resultado do serviço social deles? Não importa realmente. Eles podem desenvolver todo tipo de conceitos para mostrar pro governo e para o povo que eles são úteis. OK. Pra longe dos elos naturais.

Estrutura de poder: Os órgãos naturais de administração que tradicionalmente ou são eleitos pelo povo em geral ou indicados pelos líderes eleitos da sociedade são substituídos ativamente por órgãos artificiais. Órgãos de pessoas, grupos de pessoas que ninguém elegeu, jamais! Na verdade, a maioria das pessoas não gosta deles de jeito nenhum, mais ainda assim eles existem. Um destes grupos é a mídia. Quem os elegeu? Como pode eles terem tanto poder? Poder quase monopolista sobre a sua mente! Eles podem violentar sua mente! Mas quem os elegeu? Como pode... Eles são... eles têm ousadia de dizer o que é bom ou ruim para o Presidente – eleito por vocês – e seu governo. Quem diabos são eles?! Spiro Agnew, que era odiado pela esquerda liberal, os chamou de “tropa de esnobes despudorados” e é exatamente o que são. Eles acham que sabem. Não sabem! O nível de mediocridade! Em grandes estabelecimentos como New York Times, Los Angeles times, grandes redes de televisão, você não tem que ser um jornalista excelente. Você tem que ser exatamente um jornalista medíocre. Você tem sua bela e boa renda: cem mil dólares por ano. E pronto. Se você é melhor ou pior, não importa mais, desde que você sorria pra câmara e faça seu trabalho. É isso. Não há mais concorrência. Estrutura de poder lentamente é erodida pelos órgãos e grupos de pessoas que não têm nem qualificação, nem a vontade do povo para mantê-los no poder, e ainda assim eles têm poder. OK.
Junto com isto há outro processo.

Fiscalização, lei e ordem: a organização está sendo erodida. Nos últimos vinte, vinte e cinco anos se você ver os filmes antigos e os filmes novos, você verá que nos filmes novos um policial, um oficial do exército americano parece burro, raivoso, psicótico, paranóico. E o criminoso parece legal, tipo... bem... Ele fuma maconha e injeta a droga qualquer... mas basicamente ele é um ser humano bonzinho. Ele é criativo. E ele é improdutivo só porque a sociedade o oprime, enquanto um general do Pentágono é sempre por definição um burro, um maníaco guerreiro. O policial é um porco. Um policial rude, ele abusa do poder. Sabe? Uma generalidade... uma generalização como esta. O ódio, a desconfiança para com as pessoas que devem te proteger e fazem cumprir a lei e a ordem. Relativismo moral.
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sábado, 17 de janeiro de 2009

PALESTRA: Tomas Schuman (Yuri Bezmenov) - PARTE I

Tomas Schuman, nome adotado depois da deserção da extinta União Soviética é, na realidade, Yuri Alexandrovitch Bezmenov, ex-agente de propaganda da KGB.

A palestra foi realizada na Summit University em Los Angeles, em 1983, e trata das estratégias e táticas aplicadas pela União Soviética em países-alvo visando a implantação do comunismo no planeta. Você não precisa se preocupar com a data e o tempo transcorrido, pois o seu conteúdo permanece mais atual do que nunca. Você mesmo comprovará isso lendo os textos que foram divididos em sete partes seguindo a divisão dos vídeos.

É muito importante que você leia os textos e assista aos vídeos no YouTube. Eles não são uma relíquia para que você possa entender mais sobre a Guerra Fria. Não!!! Eles explicam o que vem ocorrendo no mundo nas últimas décadas, e que continuará ocorrendo nas próximas. Então, se você quer entender o que ocorre ao seu redor, sugiro que faça um esforço intelectual e um pequeno investimento de tempo. Garanto que não se arrependerá.

Boa leitura!

Tomas Schuman (Yuri Bezmenov) L.A. 1983 pt. III
Soviet Defector from Novosti Press KGB Propaganda Expert

Vídeo 1/7
Subversão é o termo, se você olhar no dicionário ou código penal deste assunto normalmente explicado como uma parte de uma atividade para destruir coisas como religião, governo, sistema, sistema político, econômico de um país, e normalmente é ligado a espionagem e coisas românticas como explodir pontes, descarrilar trens, atividade capa e espada estilo Hollywood.
Quando... O que vou falar a respeito agora não tem absolutamente nada a ver com o clichê de espionagem ou a atividade de coletar informação. Então o maior erro ou conceito errado, eu acho, é que quando estamos falando de KGB, por alguma razão estranha, de produtores de Hollywood a professores de ciência política e (aspas) “especialistas” em assuntos soviéticos, - kremlinólogos, como se autodenominam – eles acham que a coisa mais desejável para Andropov e toda a KGB é roubar o esquema de algum jato supersônico trazer de volta prá União Soviética e vender para o complexo industrial militar soviético.
É apenas em parte verdadeiro. Se tomarmos todo o tempo, dinheiro, e mão-de-obra que a União Soviética e a KGB em particular gasta fora das fronteiras da URSS descobriremos – claro que não há estatísticas oficiais ao contrário da CIA ou FBI – que a espionagem como tal ocupa apenas dez a quinze por cento do dinheiro, tempo e mão-de-obra. Quinze por cento da atividade da KGB. Os oitenta e cinco por cento restantes são sempre subversão. E ao contrário de um dicionário de inglês, - dicionário Oxford – subversão na terminologia soviética significa sempre uma atividade distratora e agressiva visando a destruir o país, nação ou área geográfica do seu inimigo. Então não há românticos lá, de forma alguma. Nada de explodir pontes, nada de microfilmes em latas de Coca-Cola, nada desse tipo! Sem nonsense James Bond!
A maior parte... Esta atividade é aberta, legítima e facilmente observável se você se der ao tempo e trabalho de observá-la, mas, de acordo com a lei, e sistemas fiscalizadores da civilização ocidental, não é crime! Exatamente por causa do conceito errado, manipulação de termos. Nós achamos que o subversor é uma pessoa que vai explodir nossas lindas pontes! Subversor é um estudante que vem para intercâmbio, um diplomata, um ator, um artista, um jornalista, como eu – fui – há dez anos.
Bem, subversão é uma atividade que é uma via de duas mãos. Você não pode subverter um inimigo que não quer ser subvertido. Se vocês conhecem a história do Japão, por exemplo... Antes do século XX o Japão era uma sociedade fechada. No momento em que um barco estrangeiro chega às margens do Japão o exército imperial japonês educadamente os mandava sumir. E se um vendedor americano chega às margens do Japão, digamos uns sessenta, setenta anos atrás, e diz “Oh, eu tenho um aspirador de pó muito lindo pra você! sabe, com um bom financiamento...”. “Por favor, deixe-nos. Não precisamos do seu aspirador.” Se não forem embora, eles atiram. Para preservar sua cultura, ideologia, tradição, valores, intactos. Você não foram capazes de subverter o Japão. Vocês não podem subverter a União Soviética, porque as fronteira estão fechadas, a mídia é censurada pelo governo, a população é controlada pela KGB e polícia interna. Com todas as lindas figuras lisas da revista TIME e Magazine América, que é publicada pela embaixada americana em Moscou você não pode subverter os cidadãos soviéticos porque a revista nunca CHEGA aos cidadãos soviéticos. Ela é coletada das bancas e jogada na lata de lixo.
A subversão só pode ser bem sucedida quando o iniciador, o ator, o agente da subversão tem um alvo que responde. É um tráfego de mão dupla. Os EUA são um alvo receptivo de subversão. Não há resposta similar àquela dos EUA à União Soviética. Ela pára em algum lugar no meio do caminho, nunca chega aqui.
A teoria da subversão remonta a dois mil e quinhentos anos atrás. O primeiro se humano que formulou as táticas de subversão foi um filósofo chinês chamado Sun Tsu. Foi um conselheiro para várias côrtes imperiais na China antiga. E ele disse – após longa meditação – que para implementar... Para implementar política estatal de uma maneira belicosa é o mais contra produtivo, bárbaro e ineficiente lutar num campo de batalha.
Vocês sabem que a guerra é a continuação da política estatal, certo? Então se você quer implantar com sucesso sua política estatal e começa a lutar, esta é a maneira mais idiota de fazer. A mais alta arte da guerra é não chegar a lutar. Mas subverter qualquer coisa de valor no país do seu inimigo até o momento em que a percepção da realidade do seu inimigo deteriora a ponte de ele não perceber você como um inimigo e que o seu sistema, a sua civilização e suas ambições parecem ao seu inimigo uma alternativa se não desejável, então ao menos factível. “Antes vermelho que ser morto.” Esse é o propósito final, a etapa final da subversão, após o qual você pode simplesmente dominar seu inimigo sem disparar um tiro... se a subversão for bem sucedida. Isto é basicamente o que a subversão é.
Como vocês podem ver, nenhuma menção a explodir pontes. Claro que Sun Tsu não sabia muito sobre explodir pontes. Talvez não houvesse tantas pontes naquela época.
Mas... o básico da subversão está sendo ensinado a todo aluno da escola da KGB na URSS e a oficiais de academias militares. Eu não sei se o mesmo autor está incluído na lista de leituras para oficiais americanos sem falar de estudantes comuns de ciência política. Eu tenho dificuldade de achar a tradução de Sun Tsu na biblioteca universitária em Toronto e depois aqui em Los Angeles, mas é um livro que não está “disponível”; ele é FORÇADO pra todo estudante na URSS. Todo estudante que se pensa que lidará mais em sua carreira com estrangeiros.
O que é subversão?
Basicamente consiste de quatro períodos, temporalmente. Se começarmos aqui e formos neste sentido no tempo... certo? Aqui é o ponto inicial. A primeira etapa da subversão é o processo chamado basicamente desmoralização. Fala por sí o que é.

Desmoralização
Leva, digamos, de quinze a vinte anos para desmoralizar uma sociedade. Por que quinze ou vinte anos? Esse é o tempo suficiente para educar uma geração de estudantes, ou crianças.

Link para assistir a Parte I
Continua na PARTE II