"Sou um só, mas ainda assim sou um. Não posso fazer tudo, mas posso fazer alguma coisa. E, por não poder fazer tudo, não me recusarei a fazer o pouco que posso"

sexta-feira, 1 de maio de 2015

O JARDIM DAS AFLIÇÕES

Publicado originalmente neste blog no dia 02/04/2009.

Autor: Olavo de Carvalho
Editora: Vide Editorial
Assunto: Filosofia
Edição: 3ª
Ano: 2015
Páginas: 464

Sinopse: Um livro original e perturbador que, partindo da análise de um evento aparentemente menor e tomando-o como ocasião para mostrar os elos entre o pequeno e o grande, vai se alargando em giros concêntricos até abarcar, numa complexa filosofia da história, o horizonte inteiro da cultura Ocidental.

O "Jardim das Aflições" é um livro fantástico, difícil de ser descrito, mas encerra com notável erudição a história do pensamento ocidental - e brasileiro - com todas as suas constatações e enganos, culminando com o desvelamento dos grandes problemas culturais e comportamentais que atingem a humanidade nesse início de milênio. Leitura obrigatória para todos que se sentem incomodados com determinados aspectos do atual "politicamente correto" e não sabem como interpretá-lo e/ou refutá-lo.

A tese fundamental deste monumental ensaio é a de que a história do ocidente é marcada pela ideia de Império e de suas sucessivas tentativas de reestruturação; mesmo com roupagens diferentes, há sempre o mesmo objetivo: ampliar os domínios do Império até os limites do mundo visível.

Essa é talvez a obra mais comentada e menos encontrada de Olavo de Carvalho. Sua reedição agora, no vigésimo aniversário da primeira publicação, é um presente: O Jardim das Aflições tem, para muitos dos que acompanham o lúcido e incansável trabalho do autor, estatura de obra prima. 

Se é necessário rever essa tese, avaliar em que pontos ela se articula com o cenário político e social do mundo atual, é uma das questões que o próprio autor responde no posfácio inédito.

Estrutura resumida e parcial da obra:

Capítulo I – Apresentação do problema inicial que provoca as investigações: a falsificação da história da Ética, feita pelos professores uspianos, nas palestras do Masp em 1990 (Epicuro no lugar de Platão e Aristóteles; Inquisição como fenômeno medieval e não renascentista; exclusão da escolástica) e a distorção da história do pensamento Ocidental, feita por José Américo Motta Pessanha, quando esteve na direção da coleção “Os Pensadores”. O evento foi organizado pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, tendo a frente Marilena de Souza Chauí, cujo objetivo não confesso foi o de promover a “reforma na inteligência” brasileira e assim preparar terreno para ascensão da esquerda materialista na política brasileira.

Capítulo II – Uma investigação de Epicuro; procurando entender o que ele foi fazer no lugar de Platão e Aristóteles, como representante da Ética na filosofia grega e o porquê do fascínio que exerceu na platéia. Onde se assinala sua pequenez filosófica; seu parentesco com a Nova Era; e sua índole evasionista, como resposta a uma situação de falta de sentido.

Capítulo III – Onde se examina qual a semelhança entre Marxismo e Epicurismo, por trás de sua aparente contradição entre ativismo e evasionismo: negação da inteligência teorética; e onde também se assinala que o mesmo parentesco se repete entre os movimentos espiritualistas da Nova Era e os descendentes marxistas contemporâneos.

Capítulo IV – Onde se examina as mudanças culturais na história ocidental que levaram a perda da dimensão metafísica; sem a qual, cresce o culto às dimensões sócio-cósmicas; que seria um dos fatores que teriam aproximado os movimentos materialistas dos espiritualistas.

Capítulo V – Onde se estuda a história política do Ocidente e sua configuração de poderes; situando o lugar da intelectualidade brasileira contemporânea frente a este quadro ampliado.

E muito mais questões que vão até o capítulo X.

A essência fundamental da obra:
Olavo de Carvalho, de forma magistral, demonstra que os esquerdistas materialistas uspianos, a serviço do socialismo-marxista encarnado no PT, estão destruindo a capacidade das pessoas de perceber as diferenças entre a realidade e o idealismo. Essa destruição aplainará a mente das pessoas de tal forma que elas poderão ser manipuladas na direção desejada: rumo ao comunismo.

Quando o materialismo dominar a mente das pessoas seja por meio do idealismo e divinização do Estado de Hegel, seja pelo epicurismo, estará completada a decadência total humana no Brasil, e o “novo homem” que essa gente criminosa quer construir, estará totalmente desprovido do reflexo da imagem de Deus e de sua espiritualidade. Com a decadência total do homem a obra diabólica da esquerda marxista brasileira estará completa, e finalmente, todos amarão o “Grande Irmão”.

Sobre Olavo de Carvalho:
Nasceu em 1947, tem sido saudado pela crítica como um dos mais originais e audaciosos pensadores brasileiros.
A tônica de sua obra é a defesa da interioridade humana contra a tirania da autoridade coletiva, sobretudo quando escorada numa ideologia "científica".
Para Olavo de Carvalho, existe um vínculo indissolúvel entre a objetividade do conhecimento e a autonomia da consciência individual, vínculo este que se perde de vista quando o critério de validade do saber é reduzido a um formulário impessoal e uniforme para uso da classe acadêmica. Acreditando que o mais sólido abrigo da consciência individual contra a alienação e a coisificação se encontra nas antigas tradições espirituais – taoísmo, judaísmo, cristianismo, islamismo –, Olavo de Carvalho procura dar uma nova interpretação aos símbolos e ritos dessas tradições, fazendo deles as matrizes de uma estratégia filosófica e científica para a resolução de problemas da cultura atual.


Fonte do vídeo: RADIOVOX.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

O CÍRCULO DO PODER

Título Original: The Inner Circle
Gênero: Drama
Atores: Bob Hoskins, Lolita Davidovich, Tom Hulce
Diretor: Andrey Konchalovskiy
País: Estados Unidos, Itália e Rússia
Ano: 1991
Duração: 137 min.
Nota: No final da página, o filme.

Sinopse: Inspirado em um personagem real. Um funcionário da KGB, protecionista e devoto do ditador Joseph Stalin, em retrato cruel do totalitarismo na Rússia stalinista.
Ambientado em 1939, na Rússia de Stalin onde Hulce faz um projecionista de nome Ivan Sanshin, recém casado, que trabalha na KGB, e tem de realizar um filme para o ditador dentro de suas ordens sem poder comentar o caso com ninguém. Muitas cenas foram filmadas dentro do próprio Kremlin e o filme feito mostra sua vida no período de 1935 até sua morte em 1953.
Comentário: Professor – “Satanás está no Kremlin ! Ele [Stalin] é o Satanás. Só Satanás pode hipnotizar toda uma nação, até o ponto onde as pessoas voluntariamente ficam cegas e surdas.

Historicamente, o povo russo se une a Deus ou a Satã. Agora somos dominados por uma força do mal e o adoramos assim como deveríamos adorar a Deus.
Se não fosse pelos bons, de boa fé e ingênuos Ivans, assim como você, jamais teria havido um tirano e assassino, um demônio.” (Trecho de filme que está no final desta página).
 
 

O Grande Terror
 
A única instituição realmente familiarizada com a realidade soviética foi a Polícia Secreta, chamada, sucessivamente de Cheka (1917-1922), GPU e OGPU (1922-1934), NKVD (1934-1954) e KGB (1954-1991).
Por Carlos I. S. Azambuja
 
A época do Grande Terror na União Soviética bem como a teoria e prática comunista já foram objeto de inúmeros artigos e livros. 
Sobre o assunto, a literatura é inesgotável. A biblioteca da Universidade de Harvard, nos EUA, lista mais de 20 mil volumes dedicados exclusivamente a esses temas. 
Entretanto, muitos, das novas gerações, dirão: "Caramba. Eu não sabia!"
Portanto, nunca será demais recordar o que ocorreu quando da implantação do comunismo na Rússia, transformada em União Soviética em 1924, e fundamentalmente a época do Grande Terror, na década de 30.
Em seu auge, em 1937 e 1938, pelo menos um milhão e meio de pessoas foram arrastadas aos tribunais constituídos pelos primeiros-secretários regionais do Partido Comunista, os procuradores e chefes de segurança locais. Após os processos sumários, existiam três alternativas: os réus eram condenados à morte, a trabalhos forçados ou ao exílio.
No auge do Grande Terror, o Politburo emitiu “cotas” às autoridades policiais, instruindo-as sobre as percentagens da população que, em seus distritos, deveria ser eliminada e que percentagem deveria ser enviada para os campos de trabalhos forçados (“gulags”). Por exemplo, em 2 de junho de 1937, foi enviada uma cota de 35 mil pessoas a serem “reprimidas” em Moscou, das quais 5 mil deveriam ser eliminadas. As pessoas eram incluídas nessas cotas simplesmente por serem consideradas “difíceis de controlar e propensas a se envolverem em sabotagens”.
O quanto esse expurgo afetou a elite do partido pode ser constatado no fato de que dos 139 membros do Comitê Central eleito no 17º Congresso do PCUS, em 1934, 70% foram executados.
Na era Stalin, todos os que foram companheiros mais próximos de Lênin foram presos, torturados e depois aniquilados física e mentalmente. Foram obrigados a se submeter à encenação de “julgamentos”, nos quais confessaram os crimes de espionagem, atos terroristas e “tentativas de restaurar o capitalismo”. Depois disso, foram executados ou enviados aos “gulags”. 
Em seu chamado “testamento”, Lênin listou seis importantes dirigentes comunistas como seus potenciais sucessores. Todos, exceto um – Stalin – morreram.
Dmitri Volgokonov, general soviético que tornou-se historiador, ficou, segundo suas próprias palavras, “profundamente abalado” quando descobriu, nos arquivos liberados após o fim da União Soviética, 30 listas datadas de um único dia, 12 de dezembro de 1938. As listas continham os nomes de cerca de 5 mil pessoas cujas sentenças de morte Stalin havia assinado antes mesmo de serem formalmente julgadas.
De uma forma ou de outra, a maioria da população foi impelida a participar dessa orgia destrutiva, delatando amigos e conhecidos, pois não revelar uma “conversa subversiva” significava “subversão”.
Os massacres de 1937-1938 aniquilaram as fileiras dos “antigos bolcheviques” e seus lugares eram logo tomados pelos recém-chegados. Em 1939, 80% do pessoal executivo do Partido Comunista da União Soviética havia ingressado no partido após a morte de Lênin. De suas fileiras, saíram os funcionários do alto escalão do partido e do governo, a chamada “nomenklatura”, que não apenas monopolizou todas as posições de mando como também usufruiu exclusivamente de privilégios, constituindo-se, assim, em uma nova classe exploradora. Qualquer semelhança com o que ocorre hoje em um país ao Sul do equador é mera coincidência...
Pertencer à “nomenklatura” era garantia de um status permanente e ela tornou-se hereditária. Quando a União Soviética foi desfeita, em 1991, a“nomenklatura” era constituída por aproximadamente 750 mil membros e, com suas famílias, cerca de 3 milhões de pessoas (aproximadamente 1,5% da população). Igual à proporção de nobres durante o czarismo, no século XVIII.
O Exército Vermelho não escapou ao terror: de seus 5 marechais, 15 generais e 9 almirantes, 24 foram “liquidados”. O Clero também sofreu perdas devastadoras: em 1937-1938, 165.200 membros da Igreja foram presos pelo “crime” de praticar a religião e, desses, 106.800 foram mortos.
Andrei Gromyko, ministro do Exterior de Stalin, relatou que dois ou mais membros do Politburo nunca andavam no mesmo carro, com medo de se tornarem suspeitos de “conspiração”.
Segundo evidências extraídas dos arquivos secretos, durante 1937 e 1938, quando o Grande Terror estava no auge, os órgãos de segurança detiveram, por supostas “atividades anti-soviéticas”, 1.548.366 pessoas, das quais 681.692 foram mortas. Ou seja, uma média de mil execuções por dia. A maioria dos sobreviventes terminou seus dias em campos de trabalhos forçados.
Nenhum responsável por esses crimes foi levado a julgamento ou preso depois que a União Soviética se desfez. Por um simples motivo: não se sabia com quem ficariam as chaves das prisões.
Essa orgia de destruição desafiou uma explicação racional. 
Uma piada de humor negro contada por um prisioneiro chegado a um campo de trabalhos forçados: perguntaram-lhe há quanto tempo havia sido condenado e ele respondeu: “25 anos”. “Por que?”, perguntaram-lhe. “Por nada”. “Não pode ser. Por nada, você teria sido condenado a 10 anos”.
A morte de Stalin, em 1954, deixou seus sucessores perplexos, pois sentiram que teriam que repudiar o ditador demente e suas políticas assassinas, mas ao mesmo tempo precisavam preservar o sistema que ele gerou e geriu por quase 30 anos e do qual todos fizeram parte. Resolveram o problema relacionando o comunismo a Lênin e, em 1956, em um discurso secreto no 20º Congresso do PCUS, o primeiro após a morte de Stalin, Nikita Kruschev, o novo Secretário-Geral ”denunciou” os crimes de Stalin.
Como resultado dessas revelações Stalin transformou-se, da noite para o dia, em um ninguém. Seu corpo foi removido do mausoléu que partilhava com Lênin, Stalingrado passou a chamar-se Volvogrado e, com a eficiência que a burocracia soviética sempre se orgulhou, seus inúmeros retratos, estátuas e lugares que levavam seu nome desapareceram. Foi como se as três décadas de seu governo não tivessem existido.
Para explicar os “erros” de Stalin eram possíveis apenas duas soluções e nenhuma delas era aceitável: ou a teoria do marxismo-leninismo estava errada ou a União Soviética não era um Estado marxista.
A seguir, Kruschev implantou a política de “coexistência pacífica”. Ou seja, 60 anos depois das previsões de Eduard Bernstein, tachado de “revisionista”, o Politburo adotou a sua tese de que o socialismo triunfaria não por meio da revolução, muito menos por meio da guerra, mas por meios não-violentos. Foi esse o ponto de partida para o início da lenta e gradual, mas inexorável deslegitimização do comunismo em todo o mundo.

Dados extraídos do “Livro Negro do Comunismo”, escrito por seis ex-comunistas.
Veja o filme "O Círculo do Poder" - baseado e constituído por cenas reais gravadas no próprio Kremlin, reconstruindo a forma de funcionamento do comunismo empregado na URSS. Você vai aprender, direitinho, como operam os fanáticos que hoje implantam o nazibolivarianismo do Foro de São Paulo.

Carlos I. S. Azambuja é Historiador.
 
 
 
O FILME



segunda-feira, 2 de março de 2015

MAO: A HISTÓRIA DESCONHECIDA

Bis
Publicado originalmente neste blog em 26/01/2009 e republicado em 02/03/2015
O Editor.

Título original: Mao: The Unknown Story 
Autor: Jung Chang e Jon Halliday
Tradução: Pedro Maia Soares
Editora: Companhia das Letras
Assunto: Biografias, diários, memórias & correspondências.
Edição: 1ª
Ano: 2006
Páginas: 960
Nota: Publicado originalmente na Grã-Bretanha pela editora Jonathan Cape, de Londres.

Sinopse: 'Mao - A história desconhecida' é uma biografia não autorizada de Mao Tse-tung, fruto de uma década de pesquisa em arquivos do mundo todo e centenas de entrevistas com amigos e colaboradores de Mao, além de personalidades e pessoas que tiveram contato significativo com o líder chinês. Este é um livro cheio de revelações que derrubam muitos dos mitos sobre Mao e a história da China moderna. O livro ataca o heroísmo da Longa Marcha, discorre sobre a ajuda financeira e militar da União Soviética de Stalin para a criação e o fortalecimento do Partido Comunista chinês, e desqualifica os relatos de que os rebeldes comunistas teriam enfrentado os japoneses na Segunda Guerra Mundial. Os autores mostram como Mao concentrou-se em expandir seu domínio durante quase três décadas, ainda que isso resultasse no sofrimento e na morte de milhões de cidadãos, na perseguição de inimigos e companheiros de luta e na exploração de milhares de trabalhadores rurais para transformar a China numa grande exportadora de alimentos e numa potência militar nuclear. Para se perpetuar no poder, instituiu um clima de denúncias, perseguições e terror. Na intimidade, ele é descrito como um pai omisso, marido infiel e amigo pouco confiável. Em síntese: Um psicopata, canalha, assassino, genocida e excremento humano.

Comentários:
O que brota das quase mil páginas da biografia não-autorizada de Mao Tsé Tung e descrita por Jung Chang e Jon Halliday, são as ações psicóticas de um excremento humano que conduziu o gigante asiático ao clube nuclear, e que transfere, com justiça tardia, a personagem do rol dos líderes para os compêndios psiquiátricos sobre genocidas. O livro desvenda como um tirano lunático manipulou um país gigantesco para impor os seus ideais comunistas psicóticos.
Desde os primeiros anos de militância política desse filho de camponeses nascido em Shaoshan, em 1893, percebe-se que a construção de uma identidade nacional - imposta a ferro e fogo - servia a um propósito pessoal, no qual a ideologia exercia papel secundário. A obsessão era pelo domínio político, não importa a que preço e a que sacrifícios para a população, à família e aos aliados.
Hábil na difamação, Mao mandou muitos para a morte direta e indiretamente. Bastava uma insinuação e a sentença estava selada. Em 27 anos de regime ditatorial, 65 milhões de chineses perderam a vida por ordem dele. Em guerras fúteis ou pela fome como política de Estado - o direcionamento do dinheiro para o Grande Salto, por exemplo, foi seguido de uma campanha na imprensa mostrando que comer menos fazia bem à saúde, ao mesmo tempo em que o PC inventava um excesso de produção de arroz. Muitas mortes se deram ainda em sangrentos expurgos como o realizado em 1966 e 1967. Milhares de pessoas foram executadas no país, na maioria professores e universitários.
A desconstrução do mito tem como ponto de partida a Longa Marcha, campanha militar a partir de 1933 pela qual Mao e seu grupo solaparam os nacionalistas liderados por Chiang Kai-Shek até assumirem as rédeas do país. Longe da epopéia heróica que impôs à história, a marcha misturou perdas imensas - dos outros - com invenções descaradas como a célebre batalha pela ponte sobre o Rio Dadu, em Luding, em 1935. Na descrição oficial, as tropas de Mao desafiaram metralhadoras e cruzaram a ponte de joelhos, sobre correntes incandescentes. Nada disso aconteceu não passando de uma deslavada mentira, marca registrada do socialismo.
Como comandante militar, Mao pouco ligava para suas tropas. Sacrificou milhares de homens em marchas e batalhas desnecessárias, mas importantes para ganhar tempo ou enfraquecer rivais no partido e na Rússia. A sombra de Stálin, outro psicopata genocida, permeia toda a trajetória de Mao.
O ditador russo financiou a expansão do PC chinês. A ponto de ordenar que Mao e Chiang Kai-Shek parassem de lutar entre si e se engajassem em uma campanha contra o Japão - já às portas da 2ª Guerra Mundial - que só servia a Moscou. Mao fingiu obedecer e se resguardou, aproveitando o desgaste dos nacionalistas para ganhar terreno.
O lado pessoal também vale a leitura. Mao teve quatro esposas oficiais - a mais famosa era a atriz Jiang Qing, a tenebrosa Madame Mao - e inúmeros filhos e amantes que desprezou. Enquanto Chiang Kai-Shek sofria pelo único filho seqüestrado por Stálin, Halliday e Chang contam como Mao nunca mexeu um dedo por seus dois meninos retidos em Moscou. Não à toa, a única esposa que foi apaixonada por ele, Gui-Yuan, terminou seus dias num hospício russo.
Excerto da obra:
17. Um ator nacional(1936; 42-43 anos)

Quando a notícia do seqüestro de Chiag Kai-shek chegou ao QG do partido, os líderes jubilantes encheram a caverna de Mao, que “ria como louco”, como lembrou um colega. Agora que Chiang estava preso, Mao tinha um objetivo supremo: vê-lo morto. Se Chiang fosse assassinado, haveria um vácuo de poder e, portanto, uma boa oportunidade para a Rússia intervir a ajudar a por o PCC – e ele – no poder.
Em seus primeiros telegramas para Moscou depois do evento, Mao implorou aos russos que se envolvessem para valer. Escolhendo as palavras com cuidado, solicitou o consentimento deles para matar Chiang, dizendo que o PCC queria “exigir que Nanquim sacasse Chiang do poder e o entregasse ao povo para ser julgado”. Era obviamente um eufemismo para a sentença de morte. Sabedor de que seus objetivos eram diferentes dos de Stálin, Mao fingiu não ter notícias do seqüestro até sua execução e prometeu que o PCC “não emitiria declarações públicas por alguns dias”.
Enquanto isso, ele manobrava ativamente pelas costas de Moscou para liquidar Chiang. Em seu primeiro telegrama ao Jovem Marechal após o seqüestro, em 12 de dezembro, instava: “A melhor opção é matar [Chiang]”. Ele tentou mandar o seu melhor diplomata, Chou En-lai, de imediato para Xian. Chou havia negociado no começo daquele ano com o Jovem Marechal e aparentemente eles haviam se dado bem. Mao queria que Chou persuadisse o Jovem Marechal a “levar a cabo a medida final” (nas palavras de Chou), ou seja, matar Chiang.
Sem revelar o verdadeiro objetivo da missão de Chou, Mao solicitou um convite do Jovem Marechal para seu diplomata. Na época o QG ficava em Baoan, quase trezentos quilômetros ao norte de de Xian, a vários dias de viagem a cavalo. Então Mao pediu que ele mandasse um avião para apanhar Chou na cidade próxima de Yenan (então sob controle do Jovem Marechal), onde havia uma pista de pouso construída pela Standard Oil, quando fizera prospecções na região, no começo do século. Para encorajá-lo a agir com rapidez, Mao fez-lhe uma proposta espúria no dia 13: “Fizemos arranjos com o Comintern, cujos detalhes lhe contaremos depois”. A óbvia implicação era que Chou levaria notícias de um plano coordenado com Moscou.
O que o Jovem Marechal precisava não eram promessas off-the-record, retransmitidas pelo PCC, mas o endosso público da Rússia. Contudo, no dia 14, artigos de primeira página nos dois principais jornais soviéticos, o Pravda e o Izvestia, condenaram com veemência o seu ato como sendo uma ajuda aos japoneses e apoiaram claramente Chiang. Dois dias depois do seqüestro, o Jovem Marechal podia ver que o jogo havia acabado.
Ele fez ouvidos moucos à sugestão de Mao de enviar Chou. Mas Mao e despachou de qualquer modo, dizendo ao Jovem Marechal, no dia 15, que seu enviado estava a caminho e pedindo um avião para pegá-lo em Yenan. Quando Chou lá chegou, não havia avião e o portão da cidade estava fechado para ele; Chou teve de esperar toda a noite do lado de fora, em temperaturas abaixo de zero. “Os guardas recusaram-se a abrir o portão e se recusaram a ouvir a razão”, telegrafou Mao ao Jovem Marechal, exortando-o a fazer alguma coisa. O Jovem Marechal estava literalmente dando um gelo em Chou, uma indicação da raiva que sentia dos comunistas por ser enganado por eles em relação à atitude de Moscou.
No dia 17. Ele cedeu. Estava em busca de uma maneira de por fim ao fiasco, então mandou seu Boeing buscar Chou. Royal Leonard, seu piloto americano, ficou chocado ao descobrir que estava transportando comunistas (que haviam recentemente metralhado seu avião). No caminho de volta, naquela tarde nevada, ele pregou uma peça nos seus passageiros, conforme escreveu em suas memórias: “Peguei deliberadamente uma turbulência. De vez em quando, olhava para a cabine e me divertia vendo os comunistas [ ... ] que com uma das mãos seguravam suas barbas negras e com a outra, uma lata para despejar o vômito”.
O Jovem Marechal aceitou contrafeito a visita de Chou, embora apresentasse uma fachada amistosa e cooperasse com seu hóspede. 
[1]Quando Chou o instou a matar o generalíssimo, ele fingiu que faria isso “quando a guerra civil for inevitável e Xian estiver cercada” por forças do governo.
Na verdade, Mao vinha tentando provocar uma guerra entre Nanquim e Xian. Esperava deflagrá-la com o avanço de tropas vermelhas na direção da capital. No dia 15, deu ordens secretas a seus altos comandantes para “atacar a cabeça do inimigo: o governo de Nanquim”. Mas teve de esquecer o plano, pois seria suicida para o Exército vermelho e não havia garantia de que de fato deflagraria a guerra. Para seu deleite, no dia 16, Nanquim declarou guerra ao Jovem Marechal, moveu tropas na direção de Xian e bombardeou as tropas dele fora da cidade. Mao instou o Jovem Marechal a não se limitar à defesa, mas ampliar a luta e atacar Nanquim. No dia seguinte, Mao telegrafou-lhe dizendo: “As jugulares do inimigo são Nanquim e [duas linhas férreas fundamentais]. Se 20 ou 30 mil [ ... ] soldados pudessem ser despachados para atacar essas ferrovias [ ... ] a situação geral mudará de imediato. Por favor, leve isso em consideração”. A esperança de Mao era que, ao tomar essa medidas, o Jovem Marechal rompesse suas ligações com Nanquim e, com maior probabilidade, matasse Chiang.
Enquanto Mao manobrava para matar Chiang, Stálin teimava em salvar o Generalíssimo. Em 13 de dezembro, um dia depois do seqüestro, o encarregado de negócios soviéticos em Nanquim foi chamado pelo primeiro ministro interino, H.H. Kung (o cunhado de Chiang), para ser informado de que “corria notícia” de que o PCC estava envolvido no golpe e que “se a segurança do Sr. Chiang está em perigo, o ódio da nação se estenderá do PCC à União Soviética e poderá pressionar [o governo chinês] a se unir ao Japão contra a União Soviética”. Stálin compreendeu que o seqüestro poderia significar uma ameaça urgente aos seus interesses estratégicos.
[ ... ]
Stálin suspeitava de que Mao poderia esta em conluio com os japoneses. Ele já começara a ter todos os “velhos parceiros chineses” dos soviéticos denunciados e interrogados sob tortura. Quatro dias depois do seqüestro de Chiang, um importante detido “confessou” estar envolvido num complô trotskista para provocar um ataque do Japão à Rússia. O nome do próprio Mao apareceu nas confissões e um grosso dossiê sobre ele foi compilado, com acusações de que era agente dos japoneses, bem como trotskista.
Dimitrov mandou uma dura mensagem a Mao no dia 16. Ela condenava o seqüestro, dizendo que aquilo “objetivamente só pode prejudicar a frente unida contra o Japão e ajudar a agressão dos japoneses à China”. Seu ponto fundamental era que “o PCC deve assumir uma posição decisiva em favor de uma solução pacífica”. Era uma ordem para obter a libertação do Generalíssimo e sua volta ao governo.
Quando o telegrama chegou, consta que Maom”ficou enfurecido [ ... ] blasfemou e bateu os pés”. Sua medida seguinte foi fingir que jamais recebera a mensagem. Escondeu-a do seu Politiburo, do Jovem Marechal e também de Chou En-lai, que estava a caminho de Xian para persuadir o Jovem marechal a matar Chiang. Mao continuou a manobrar para que Chiang fosse assassinado.
[ ... ]
A única opção do Jovem Marechal era ficar ao lado de Chiang, o que significava que deveria libertá-lo. Além disso, ele percebeu que sua única maneira de sobrevier era deixar Xian com Chiang e colocar-se nas mãos dele. Havia muita gente em Nanquim que o queria morto e certamente mandariam assassinos atrás dele. Só poderia ficar seguro sob a custódia de Chiang. E, ao escoltar Chiang para fora do cativeiro, ele poderia também ter esperança de conquistar a boa vontade do Generalíssimo. Sua aposta de que Chiang não o mataria revelou-se correta. Depois de sofrer prisão domiciliar sob o governo de Chiang e de seus sucessores durante meio século, quando esteve ao mesmo tempo detido e protegido, ele foi libertado e morreu em seu leito, no Havaí, aos cem anos, em 2001, tendo sobrevivido a Chiang e Mao por mais de um quarto de século.

Nota do compilador: A partir deste exíguo excerto pode-se perceber a falta de caráter e de personalidade, marca registrada de todos os comunistas: Dissimulação, mentira, traição, deslealdade, justiçamento, assassinato etc.

[1] A raiva do Jovem Marechal contra Moscou e o PCC faiscou rapidamente durante nossa entrevista com ele, 56 anos depois. Quando lhe perguntamos se os comunistas chineses haviam falado sobre a verdadeira atitude dos soviéticos em relação a ele antes do golpe, ele retrucou com súbita hostilidade. “Claro que não. Vocês fazem uma pergunta muito estranha”. [Nota dos autores].

Sobre os autores:

CHANG, JUNG
Jung Chang nasceu na China, em 1952, filha de pais comunistas. Em 1978, foi estudar no Reino Unido. Escreveu o best-seller 'Cisnes selvagens' (1994), em que conta a história de sua família. O livro vendeu mais de 10 milhões de exemplares em trinta idiomas.

HALLIDAY, JON
Jon Halliday é historiador e marido de Jung Chang, a quem conheceu quando era pesquisador-visitante do King's College, na Universidade de Londres. O casal vive em Londres.