Publicado originalmente neste blog em 26/01/2009 e republicado em 02/03/2015
O Editor.
Título original: Mao: The Unknown Story
Autor: Jung Chang e Jon Halliday
Tradução: Pedro Maia Soares
Editora: Companhia das Letras
Assunto: Biografias, diários, memórias & correspondências.
Edição: 1ª
Ano: 2006
Páginas: 960
Nota: Publicado originalmente na Grã-Bretanha pela editora Jonathan Cape, de Londres.
Sinopse: 'Mao - A história desconhecida' é uma biografia não autorizada de Mao Tse-tung, fruto de uma década de pesquisa em arquivos do mundo todo e centenas de entrevistas com amigos e colaboradores de Mao, além de personalidades e pessoas que tiveram contato significativo com o líder chinês. Este é um livro cheio de revelações que derrubam muitos dos mitos sobre Mao e a história da China moderna. O livro ataca o heroísmo da Longa Marcha, discorre sobre a ajuda financeira e militar da União Soviética de Stalin para a criação e o fortalecimento do Partido Comunista chinês, e desqualifica os relatos de que os rebeldes comunistas teriam enfrentado os japoneses na Segunda Guerra Mundial. Os autores mostram como Mao concentrou-se em expandir seu domínio durante quase três décadas, ainda que isso resultasse no sofrimento e na morte de milhões de cidadãos, na perseguição de inimigos e companheiros de luta e na exploração de milhares de trabalhadores rurais para transformar a China numa grande exportadora de alimentos e numa potência militar nuclear. Para se perpetuar no poder, instituiu um clima de denúncias, perseguições e terror. Na intimidade, ele é descrito como um pai omisso, marido infiel e amigo pouco confiável. Em síntese: Um psicopata, canalha, assassino, genocida e excremento humano.
Comentários:
O que brota das quase mil páginas da biografia não-autorizada de Mao Tsé Tung e descrita por Jung Chang e Jon Halliday, são as ações psicóticas de um excremento humano que conduziu o gigante asiático ao clube nuclear, e que transfere, com justiça tardia, a personagem do rol dos líderes para os compêndios psiquiátricos sobre genocidas. O livro desvenda como um tirano lunático manipulou um país gigantesco para impor os seus ideais comunistas psicóticos.
Desde os primeiros anos de militância política desse filho de camponeses nascido em Shaoshan, em 1893, percebe-se que a construção de uma identidade nacional - imposta a ferro e fogo - servia a um propósito pessoal, no qual a ideologia exercia papel secundário. A obsessão era pelo domínio político, não importa a que preço e a que sacrifícios para a população, à família e aos aliados.
Hábil na difamação, Mao mandou muitos para a morte direta e indiretamente. Bastava uma insinuação e a sentença estava selada. Em 27 anos de regime ditatorial, 65 milhões de chineses perderam a vida por ordem dele. Em guerras fúteis ou pela fome como política de Estado - o direcionamento do dinheiro para o Grande Salto, por exemplo, foi seguido de uma campanha na imprensa mostrando que comer menos fazia bem à saúde, ao mesmo tempo em que o PC inventava um excesso de produção de arroz. Muitas mortes se deram ainda em sangrentos expurgos como o realizado em 1966 e 1967. Milhares de pessoas foram executadas no país, na maioria professores e universitários.
A desconstrução do mito tem como ponto de partida a Longa Marcha, campanha militar a partir de 1933 pela qual Mao e seu grupo solaparam os nacionalistas liderados por Chiang Kai-Shek até assumirem as rédeas do país. Longe da epopéia heróica que impôs à história, a marcha misturou perdas imensas - dos outros - com invenções descaradas como a célebre batalha pela ponte sobre o Rio Dadu, em Luding, em 1935. Na descrição oficial, as tropas de Mao desafiaram metralhadoras e cruzaram a ponte de joelhos, sobre correntes incandescentes. Nada disso aconteceu não passando de uma deslavada mentira, marca registrada do socialismo.
Como comandante militar, Mao pouco ligava para suas tropas. Sacrificou milhares de homens em marchas e batalhas desnecessárias, mas importantes para ganhar tempo ou enfraquecer rivais no partido e na Rússia. A sombra de Stálin, outro psicopata genocida, permeia toda a trajetória de Mao.
O ditador russo financiou a expansão do PC chinês. A ponto de ordenar que Mao e Chiang Kai-Shek parassem de lutar entre si e se engajassem em uma campanha contra o Japão - já às portas da 2ª Guerra Mundial - que só servia a Moscou. Mao fingiu obedecer e se resguardou, aproveitando o desgaste dos nacionalistas para ganhar terreno.
O lado pessoal também vale a leitura. Mao teve quatro esposas oficiais - a mais famosa era a atriz Jiang Qing, a tenebrosa Madame Mao - e inúmeros filhos e amantes que desprezou. Enquanto Chiang Kai-Shek sofria pelo único filho seqüestrado por Stálin, Halliday e Chang contam como Mao nunca mexeu um dedo por seus dois meninos retidos em Moscou. Não à toa, a única esposa que foi apaixonada por ele, Gui-Yuan, terminou seus dias num hospício russo.
Sinopse: 'Mao - A história desconhecida' é uma biografia não autorizada de Mao Tse-tung, fruto de uma década de pesquisa em arquivos do mundo todo e centenas de entrevistas com amigos e colaboradores de Mao, além de personalidades e pessoas que tiveram contato significativo com o líder chinês. Este é um livro cheio de revelações que derrubam muitos dos mitos sobre Mao e a história da China moderna. O livro ataca o heroísmo da Longa Marcha, discorre sobre a ajuda financeira e militar da União Soviética de Stalin para a criação e o fortalecimento do Partido Comunista chinês, e desqualifica os relatos de que os rebeldes comunistas teriam enfrentado os japoneses na Segunda Guerra Mundial. Os autores mostram como Mao concentrou-se em expandir seu domínio durante quase três décadas, ainda que isso resultasse no sofrimento e na morte de milhões de cidadãos, na perseguição de inimigos e companheiros de luta e na exploração de milhares de trabalhadores rurais para transformar a China numa grande exportadora de alimentos e numa potência militar nuclear. Para se perpetuar no poder, instituiu um clima de denúncias, perseguições e terror. Na intimidade, ele é descrito como um pai omisso, marido infiel e amigo pouco confiável. Em síntese: Um psicopata, canalha, assassino, genocida e excremento humano.
Comentários:
O que brota das quase mil páginas da biografia não-autorizada de Mao Tsé Tung e descrita por Jung Chang e Jon Halliday, são as ações psicóticas de um excremento humano que conduziu o gigante asiático ao clube nuclear, e que transfere, com justiça tardia, a personagem do rol dos líderes para os compêndios psiquiátricos sobre genocidas. O livro desvenda como um tirano lunático manipulou um país gigantesco para impor os seus ideais comunistas psicóticos.
Desde os primeiros anos de militância política desse filho de camponeses nascido em Shaoshan, em 1893, percebe-se que a construção de uma identidade nacional - imposta a ferro e fogo - servia a um propósito pessoal, no qual a ideologia exercia papel secundário. A obsessão era pelo domínio político, não importa a que preço e a que sacrifícios para a população, à família e aos aliados.
Hábil na difamação, Mao mandou muitos para a morte direta e indiretamente. Bastava uma insinuação e a sentença estava selada. Em 27 anos de regime ditatorial, 65 milhões de chineses perderam a vida por ordem dele. Em guerras fúteis ou pela fome como política de Estado - o direcionamento do dinheiro para o Grande Salto, por exemplo, foi seguido de uma campanha na imprensa mostrando que comer menos fazia bem à saúde, ao mesmo tempo em que o PC inventava um excesso de produção de arroz. Muitas mortes se deram ainda em sangrentos expurgos como o realizado em 1966 e 1967. Milhares de pessoas foram executadas no país, na maioria professores e universitários.
A desconstrução do mito tem como ponto de partida a Longa Marcha, campanha militar a partir de 1933 pela qual Mao e seu grupo solaparam os nacionalistas liderados por Chiang Kai-Shek até assumirem as rédeas do país. Longe da epopéia heróica que impôs à história, a marcha misturou perdas imensas - dos outros - com invenções descaradas como a célebre batalha pela ponte sobre o Rio Dadu, em Luding, em 1935. Na descrição oficial, as tropas de Mao desafiaram metralhadoras e cruzaram a ponte de joelhos, sobre correntes incandescentes. Nada disso aconteceu não passando de uma deslavada mentira, marca registrada do socialismo.
Como comandante militar, Mao pouco ligava para suas tropas. Sacrificou milhares de homens em marchas e batalhas desnecessárias, mas importantes para ganhar tempo ou enfraquecer rivais no partido e na Rússia. A sombra de Stálin, outro psicopata genocida, permeia toda a trajetória de Mao.
O ditador russo financiou a expansão do PC chinês. A ponto de ordenar que Mao e Chiang Kai-Shek parassem de lutar entre si e se engajassem em uma campanha contra o Japão - já às portas da 2ª Guerra Mundial - que só servia a Moscou. Mao fingiu obedecer e se resguardou, aproveitando o desgaste dos nacionalistas para ganhar terreno.
O lado pessoal também vale a leitura. Mao teve quatro esposas oficiais - a mais famosa era a atriz Jiang Qing, a tenebrosa Madame Mao - e inúmeros filhos e amantes que desprezou. Enquanto Chiang Kai-Shek sofria pelo único filho seqüestrado por Stálin, Halliday e Chang contam como Mao nunca mexeu um dedo por seus dois meninos retidos em Moscou. Não à toa, a única esposa que foi apaixonada por ele, Gui-Yuan, terminou seus dias num hospício russo.
Excerto da obra:
17. Um ator nacional(1936; 42-43 anos)
Quando a notícia do seqüestro de Chiag Kai-shek chegou ao QG do partido, os líderes jubilantes encheram a caverna de Mao, que “ria como louco”, como lembrou um colega. Agora que Chiang estava preso, Mao tinha um objetivo supremo: vê-lo morto. Se Chiang fosse assassinado, haveria um vácuo de poder e, portanto, uma boa oportunidade para a Rússia intervir a ajudar a por o PCC – e ele – no poder.
Em seus primeiros telegramas para Moscou depois do evento, Mao implorou aos russos que se envolvessem para valer. Escolhendo as palavras com cuidado, solicitou o consentimento deles para matar Chiang, dizendo que o PCC queria “exigir que Nanquim sacasse Chiang do poder e o entregasse ao povo para ser julgado”. Era obviamente um eufemismo para a sentença de morte. Sabedor de que seus objetivos eram diferentes dos de Stálin, Mao fingiu não ter notícias do seqüestro até sua execução e prometeu que o PCC “não emitiria declarações públicas por alguns dias”.
Enquanto isso, ele manobrava ativamente pelas costas de Moscou para liquidar Chiang. Em seu primeiro telegrama ao Jovem Marechal após o seqüestro, em 12 de dezembro, instava: “A melhor opção é matar [Chiang]”. Ele tentou mandar o seu melhor diplomata, Chou En-lai, de imediato para Xian. Chou havia negociado no começo daquele ano com o Jovem Marechal e aparentemente eles haviam se dado bem. Mao queria que Chou persuadisse o Jovem Marechal a “levar a cabo a medida final” (nas palavras de Chou), ou seja, matar Chiang.
Sem revelar o verdadeiro objetivo da missão de Chou, Mao solicitou um convite do Jovem Marechal para seu diplomata. Na época o QG ficava em Baoan, quase trezentos quilômetros ao norte de de Xian, a vários dias de viagem a cavalo. Então Mao pediu que ele mandasse um avião para apanhar Chou na cidade próxima de Yenan (então sob controle do Jovem Marechal), onde havia uma pista de pouso construída pela Standard Oil, quando fizera prospecções na região, no começo do século. Para encorajá-lo a agir com rapidez, Mao fez-lhe uma proposta espúria no dia 13: “Fizemos arranjos com o Comintern, cujos detalhes lhe contaremos depois”. A óbvia implicação era que Chou levaria notícias de um plano coordenado com Moscou.
O que o Jovem Marechal precisava não eram promessas off-the-record, retransmitidas pelo PCC, mas o endosso público da Rússia. Contudo, no dia 14, artigos de primeira página nos dois principais jornais soviéticos, o Pravda e o Izvestia, condenaram com veemência o seu ato como sendo uma ajuda aos japoneses e apoiaram claramente Chiang. Dois dias depois do seqüestro, o Jovem Marechal podia ver que o jogo havia acabado.
Ele fez ouvidos moucos à sugestão de Mao de enviar Chou. Mas Mao e despachou de qualquer modo, dizendo ao Jovem Marechal, no dia 15, que seu enviado estava a caminho e pedindo um avião para pegá-lo em Yenan. Quando Chou lá chegou, não havia avião e o portão da cidade estava fechado para ele; Chou teve de esperar toda a noite do lado de fora, em temperaturas abaixo de zero. “Os guardas recusaram-se a abrir o portão e se recusaram a ouvir a razão”, telegrafou Mao ao Jovem Marechal, exortando-o a fazer alguma coisa. O Jovem Marechal estava literalmente dando um gelo em Chou, uma indicação da raiva que sentia dos comunistas por ser enganado por eles em relação à atitude de Moscou.
No dia 17. Ele cedeu. Estava em busca de uma maneira de por fim ao fiasco, então mandou seu Boeing buscar Chou. Royal Leonard, seu piloto americano, ficou chocado ao descobrir que estava transportando comunistas (que haviam recentemente metralhado seu avião). No caminho de volta, naquela tarde nevada, ele pregou uma peça nos seus passageiros, conforme escreveu em suas memórias: “Peguei deliberadamente uma turbulência. De vez em quando, olhava para a cabine e me divertia vendo os comunistas [ ... ] que com uma das mãos seguravam suas barbas negras e com a outra, uma lata para despejar o vômito”.
O Jovem Marechal aceitou contrafeito a visita de Chou, embora apresentasse uma fachada amistosa e cooperasse com seu hóspede. [1]Quando Chou o instou a matar o generalíssimo, ele fingiu que faria isso “quando a guerra civil for inevitável e Xian estiver cercada” por forças do governo.
Na verdade, Mao vinha tentando provocar uma guerra entre Nanquim e Xian. Esperava deflagrá-la com o avanço de tropas vermelhas na direção da capital. No dia 15, deu ordens secretas a seus altos comandantes para “atacar a cabeça do inimigo: o governo de Nanquim”. Mas teve de esquecer o plano, pois seria suicida para o Exército vermelho e não havia garantia de que de fato deflagraria a guerra. Para seu deleite, no dia 16, Nanquim declarou guerra ao Jovem Marechal, moveu tropas na direção de Xian e bombardeou as tropas dele fora da cidade. Mao instou o Jovem Marechal a não se limitar à defesa, mas ampliar a luta e atacar Nanquim. No dia seguinte, Mao telegrafou-lhe dizendo: “As jugulares do inimigo são Nanquim e [duas linhas férreas fundamentais]. Se 20 ou 30 mil [ ... ] soldados pudessem ser despachados para atacar essas ferrovias [ ... ] a situação geral mudará de imediato. Por favor, leve isso em consideração”. A esperança de Mao era que, ao tomar essa medidas, o Jovem Marechal rompesse suas ligações com Nanquim e, com maior probabilidade, matasse Chiang.
Enquanto Mao manobrava para matar Chiang, Stálin teimava em salvar o Generalíssimo. Em 13 de dezembro, um dia depois do seqüestro, o encarregado de negócios soviéticos em Nanquim foi chamado pelo primeiro ministro interino, H.H. Kung (o cunhado de Chiang), para ser informado de que “corria notícia” de que o PCC estava envolvido no golpe e que “se a segurança do Sr. Chiang está em perigo, o ódio da nação se estenderá do PCC à União Soviética e poderá pressionar [o governo chinês] a se unir ao Japão contra a União Soviética”. Stálin compreendeu que o seqüestro poderia significar uma ameaça urgente aos seus interesses estratégicos.
[ ... ]
Stálin suspeitava de que Mao poderia esta em conluio com os japoneses. Ele já começara a ter todos os “velhos parceiros chineses” dos soviéticos denunciados e interrogados sob tortura. Quatro dias depois do seqüestro de Chiang, um importante detido “confessou” estar envolvido num complô trotskista para provocar um ataque do Japão à Rússia. O nome do próprio Mao apareceu nas confissões e um grosso dossiê sobre ele foi compilado, com acusações de que era agente dos japoneses, bem como trotskista.
Dimitrov mandou uma dura mensagem a Mao no dia 16. Ela condenava o seqüestro, dizendo que aquilo “objetivamente só pode prejudicar a frente unida contra o Japão e ajudar a agressão dos japoneses à China”. Seu ponto fundamental era que “o PCC deve assumir uma posição decisiva em favor de uma solução pacífica”. Era uma ordem para obter a libertação do Generalíssimo e sua volta ao governo.
Quando o telegrama chegou, consta que Maom”ficou enfurecido [ ... ] blasfemou e bateu os pés”. Sua medida seguinte foi fingir que jamais recebera a mensagem. Escondeu-a do seu Politiburo, do Jovem Marechal e também de Chou En-lai, que estava a caminho de Xian para persuadir o Jovem marechal a matar Chiang. Mao continuou a manobrar para que Chiang fosse assassinado.
[ ... ]
A única opção do Jovem Marechal era ficar ao lado de Chiang, o que significava que deveria libertá-lo. Além disso, ele percebeu que sua única maneira de sobrevier era deixar Xian com Chiang e colocar-se nas mãos dele. Havia muita gente em Nanquim que o queria morto e certamente mandariam assassinos atrás dele. Só poderia ficar seguro sob a custódia de Chiang. E, ao escoltar Chiang para fora do cativeiro, ele poderia também ter esperança de conquistar a boa vontade do Generalíssimo. Sua aposta de que Chiang não o mataria revelou-se correta. Depois de sofrer prisão domiciliar sob o governo de Chiang e de seus sucessores durante meio século, quando esteve ao mesmo tempo detido e protegido, ele foi libertado e morreu em seu leito, no Havaí, aos cem anos, em 2001, tendo sobrevivido a Chiang e Mao por mais de um quarto de século.
Nota do compilador: A partir deste exíguo excerto pode-se perceber a falta de caráter e de personalidade, marca registrada de todos os comunistas: Dissimulação, mentira, traição, deslealdade, justiçamento, assassinato etc.
Quando a notícia do seqüestro de Chiag Kai-shek chegou ao QG do partido, os líderes jubilantes encheram a caverna de Mao, que “ria como louco”, como lembrou um colega. Agora que Chiang estava preso, Mao tinha um objetivo supremo: vê-lo morto. Se Chiang fosse assassinado, haveria um vácuo de poder e, portanto, uma boa oportunidade para a Rússia intervir a ajudar a por o PCC – e ele – no poder.
Em seus primeiros telegramas para Moscou depois do evento, Mao implorou aos russos que se envolvessem para valer. Escolhendo as palavras com cuidado, solicitou o consentimento deles para matar Chiang, dizendo que o PCC queria “exigir que Nanquim sacasse Chiang do poder e o entregasse ao povo para ser julgado”. Era obviamente um eufemismo para a sentença de morte. Sabedor de que seus objetivos eram diferentes dos de Stálin, Mao fingiu não ter notícias do seqüestro até sua execução e prometeu que o PCC “não emitiria declarações públicas por alguns dias”.
Enquanto isso, ele manobrava ativamente pelas costas de Moscou para liquidar Chiang. Em seu primeiro telegrama ao Jovem Marechal após o seqüestro, em 12 de dezembro, instava: “A melhor opção é matar [Chiang]”. Ele tentou mandar o seu melhor diplomata, Chou En-lai, de imediato para Xian. Chou havia negociado no começo daquele ano com o Jovem Marechal e aparentemente eles haviam se dado bem. Mao queria que Chou persuadisse o Jovem Marechal a “levar a cabo a medida final” (nas palavras de Chou), ou seja, matar Chiang.
Sem revelar o verdadeiro objetivo da missão de Chou, Mao solicitou um convite do Jovem Marechal para seu diplomata. Na época o QG ficava em Baoan, quase trezentos quilômetros ao norte de de Xian, a vários dias de viagem a cavalo. Então Mao pediu que ele mandasse um avião para apanhar Chou na cidade próxima de Yenan (então sob controle do Jovem Marechal), onde havia uma pista de pouso construída pela Standard Oil, quando fizera prospecções na região, no começo do século. Para encorajá-lo a agir com rapidez, Mao fez-lhe uma proposta espúria no dia 13: “Fizemos arranjos com o Comintern, cujos detalhes lhe contaremos depois”. A óbvia implicação era que Chou levaria notícias de um plano coordenado com Moscou.
O que o Jovem Marechal precisava não eram promessas off-the-record, retransmitidas pelo PCC, mas o endosso público da Rússia. Contudo, no dia 14, artigos de primeira página nos dois principais jornais soviéticos, o Pravda e o Izvestia, condenaram com veemência o seu ato como sendo uma ajuda aos japoneses e apoiaram claramente Chiang. Dois dias depois do seqüestro, o Jovem Marechal podia ver que o jogo havia acabado.
Ele fez ouvidos moucos à sugestão de Mao de enviar Chou. Mas Mao e despachou de qualquer modo, dizendo ao Jovem Marechal, no dia 15, que seu enviado estava a caminho e pedindo um avião para pegá-lo em Yenan. Quando Chou lá chegou, não havia avião e o portão da cidade estava fechado para ele; Chou teve de esperar toda a noite do lado de fora, em temperaturas abaixo de zero. “Os guardas recusaram-se a abrir o portão e se recusaram a ouvir a razão”, telegrafou Mao ao Jovem Marechal, exortando-o a fazer alguma coisa. O Jovem Marechal estava literalmente dando um gelo em Chou, uma indicação da raiva que sentia dos comunistas por ser enganado por eles em relação à atitude de Moscou.
No dia 17. Ele cedeu. Estava em busca de uma maneira de por fim ao fiasco, então mandou seu Boeing buscar Chou. Royal Leonard, seu piloto americano, ficou chocado ao descobrir que estava transportando comunistas (que haviam recentemente metralhado seu avião). No caminho de volta, naquela tarde nevada, ele pregou uma peça nos seus passageiros, conforme escreveu em suas memórias: “Peguei deliberadamente uma turbulência. De vez em quando, olhava para a cabine e me divertia vendo os comunistas [ ... ] que com uma das mãos seguravam suas barbas negras e com a outra, uma lata para despejar o vômito”.
O Jovem Marechal aceitou contrafeito a visita de Chou, embora apresentasse uma fachada amistosa e cooperasse com seu hóspede. [1]Quando Chou o instou a matar o generalíssimo, ele fingiu que faria isso “quando a guerra civil for inevitável e Xian estiver cercada” por forças do governo.
Na verdade, Mao vinha tentando provocar uma guerra entre Nanquim e Xian. Esperava deflagrá-la com o avanço de tropas vermelhas na direção da capital. No dia 15, deu ordens secretas a seus altos comandantes para “atacar a cabeça do inimigo: o governo de Nanquim”. Mas teve de esquecer o plano, pois seria suicida para o Exército vermelho e não havia garantia de que de fato deflagraria a guerra. Para seu deleite, no dia 16, Nanquim declarou guerra ao Jovem Marechal, moveu tropas na direção de Xian e bombardeou as tropas dele fora da cidade. Mao instou o Jovem Marechal a não se limitar à defesa, mas ampliar a luta e atacar Nanquim. No dia seguinte, Mao telegrafou-lhe dizendo: “As jugulares do inimigo são Nanquim e [duas linhas férreas fundamentais]. Se 20 ou 30 mil [ ... ] soldados pudessem ser despachados para atacar essas ferrovias [ ... ] a situação geral mudará de imediato. Por favor, leve isso em consideração”. A esperança de Mao era que, ao tomar essa medidas, o Jovem Marechal rompesse suas ligações com Nanquim e, com maior probabilidade, matasse Chiang.
Enquanto Mao manobrava para matar Chiang, Stálin teimava em salvar o Generalíssimo. Em 13 de dezembro, um dia depois do seqüestro, o encarregado de negócios soviéticos em Nanquim foi chamado pelo primeiro ministro interino, H.H. Kung (o cunhado de Chiang), para ser informado de que “corria notícia” de que o PCC estava envolvido no golpe e que “se a segurança do Sr. Chiang está em perigo, o ódio da nação se estenderá do PCC à União Soviética e poderá pressionar [o governo chinês] a se unir ao Japão contra a União Soviética”. Stálin compreendeu que o seqüestro poderia significar uma ameaça urgente aos seus interesses estratégicos.
[ ... ]
Stálin suspeitava de que Mao poderia esta em conluio com os japoneses. Ele já começara a ter todos os “velhos parceiros chineses” dos soviéticos denunciados e interrogados sob tortura. Quatro dias depois do seqüestro de Chiang, um importante detido “confessou” estar envolvido num complô trotskista para provocar um ataque do Japão à Rússia. O nome do próprio Mao apareceu nas confissões e um grosso dossiê sobre ele foi compilado, com acusações de que era agente dos japoneses, bem como trotskista.
Dimitrov mandou uma dura mensagem a Mao no dia 16. Ela condenava o seqüestro, dizendo que aquilo “objetivamente só pode prejudicar a frente unida contra o Japão e ajudar a agressão dos japoneses à China”. Seu ponto fundamental era que “o PCC deve assumir uma posição decisiva em favor de uma solução pacífica”. Era uma ordem para obter a libertação do Generalíssimo e sua volta ao governo.
Quando o telegrama chegou, consta que Maom”ficou enfurecido [ ... ] blasfemou e bateu os pés”. Sua medida seguinte foi fingir que jamais recebera a mensagem. Escondeu-a do seu Politiburo, do Jovem Marechal e também de Chou En-lai, que estava a caminho de Xian para persuadir o Jovem marechal a matar Chiang. Mao continuou a manobrar para que Chiang fosse assassinado.
[ ... ]
A única opção do Jovem Marechal era ficar ao lado de Chiang, o que significava que deveria libertá-lo. Além disso, ele percebeu que sua única maneira de sobrevier era deixar Xian com Chiang e colocar-se nas mãos dele. Havia muita gente em Nanquim que o queria morto e certamente mandariam assassinos atrás dele. Só poderia ficar seguro sob a custódia de Chiang. E, ao escoltar Chiang para fora do cativeiro, ele poderia também ter esperança de conquistar a boa vontade do Generalíssimo. Sua aposta de que Chiang não o mataria revelou-se correta. Depois de sofrer prisão domiciliar sob o governo de Chiang e de seus sucessores durante meio século, quando esteve ao mesmo tempo detido e protegido, ele foi libertado e morreu em seu leito, no Havaí, aos cem anos, em 2001, tendo sobrevivido a Chiang e Mao por mais de um quarto de século.
Nota do compilador: A partir deste exíguo excerto pode-se perceber a falta de caráter e de personalidade, marca registrada de todos os comunistas: Dissimulação, mentira, traição, deslealdade, justiçamento, assassinato etc.
[1] A raiva do Jovem Marechal contra Moscou e o PCC faiscou rapidamente durante nossa entrevista com ele, 56 anos depois. Quando lhe perguntamos se os comunistas chineses haviam falado sobre a verdadeira atitude dos soviéticos em relação a ele antes do golpe, ele retrucou com súbita hostilidade. “Claro que não. Vocês fazem uma pergunta muito estranha”. [Nota dos autores].
Sobre os autores:
CHANG, JUNG
Jung Chang nasceu na China, em 1952, filha de pais comunistas. Em 1978, foi estudar no Reino Unido. Escreveu o best-seller 'Cisnes selvagens' (1994), em que conta a história de sua família. O livro vendeu mais de 10 milhões de exemplares em trinta idiomas.
HALLIDAY, JON
Jon Halliday é historiador e marido de Jung Chang, a quem conheceu quando era pesquisador-visitante do King's College, na Universidade de Londres. O casal vive em Londres.
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