"Sou um só, mas ainda assim sou um. Não posso fazer tudo, mas posso fazer alguma coisa. E, por não poder fazer tudo, não me recusarei a fazer o pouco que posso"

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

DO LIBERALISMO A APOSTASIA: A tragédia conciliar



Título original: Ils l’ont découronée, du libéralismme à l’apostasie – La tragédie conciliaire
Autor: Monsenhor Marcel Lefebvre (1905-1991)
Tradução: Ildefonso Albano Filho
Editora: Permanência
Assunto: Religião
Edição: 2ª
Ano: 2013
Páginas: 246

Sinopse: Dom Lefebvre explica o que é o Liberalismo e relata a tentativa de alguns católicos de adotarem as idéias liberais; analisa de modo profundo a derrapagem das autoridades da Igreja na realização de um Concílio Ecumênico de inspiração liberal e que semeou a revolução dentro da Igreja Católica.
Eis o que o próprio Monsenhor Lefebvre escreveu no prefácio deste livro:
“Com o fim de guardar e proteger a fé católica da peste do liberalismo, a publicação deste livro me parece muito oportuna, ecoando as palavras de Nosso Senhor: ‘Aquele que crê será salvo, aquele que não crê se condenará’; eis a fé que o Verbo de Deus encarnado exige de todos os que querem ser salvos. Ela foi a causa de sua morte, seguindo seu caminho, a de todos os mártires e testemunhas que a professaram. Com o liberalismo religioso, não há mais mártires nem missionários, mas apenas destruidores da religião reunidos em volta de uma falsa promessa de paz.” (Ecône, 13 de janeiro de 1987)
No epílogo da obra ele fala sobre a política pró-comunista da Santa Sé:
“A Santa Sé manifestou logo hostilidade a todos os governos anti-comunistas. No Chile, a Santa Sé apoiou a revolução comunista de Allende, de 1970 a 1972. O Vaticano age assim por meio de suas nunciaturas com a nomeação de cardeais como Tarancon (Espanha), Ribeiro (Portugal), Silva Henriquez (Chile), de acordo com a política pró-comunista da Santa Sé” (p. 218).

E prossegue:
“... atualmente o liberalismo conciliar conduz a Igreja para a sepultura. Os comunistas são clarividentes como mostra o seguinte: em um museu da Lituânia, consagrado em parte à propaganda atéia, há uma grande fotografia da “troca de instrumentos” por ocasião da assinatura da nova concordata com a Itália. Nela aparecem o presidente da Itália e o Cardeal Casaroli, tendo este comentário: ‘A nova concordata entre a Itália e o Vaticano, grande vitória do ateísmo.’ Qualquer comentário me parece supérfluo” (pp. 221-22).

Sobre o autor: Dom Marcel Lefebvre nasceu em Tourcoing, na França, no dia 29 de Novembro de 1905, numa família que deu cinco dos seus oito filhos para a Religião. Foi aluno do Pe. Le Floch no Seminário Francês de Roma, onde recebeu o doutorado em Filosofia. Fez-se doutor também em Teologia, na Universidade Pontifícia Gregoriana, em Roma. Foi ordenado padre em 21 de Setembro de 1929, por Mons. Lienart, em Lille, França. Em 1930 entrou para a Congregação dos Padres do Episcopado do Espírito Santo, e foi enviado ao Gabão em 1932, onde permaneceu até 1945. Em 1946 voltou à França.             O ano de 1947 foi o de sua sagração episcopal. Em 1948, aos 43 anos de idade, foi nomeado Delegado Apostólico para toda a África de língua francesa (18 países). Foi nomeado 1º Arcebispo de Dakar em 1955, e Assistente ao Trono Pontificial em 1961. Em 1962 deixou a África e foi nomeado Arcebispo-bispo de Tulle. Nesse ano foi eleito Superior Geral dos Padres do Espírito Santo. Em 1968 pediu demissão deste cargo devido ao progressismo conciliar. Foi, então, que alguns seminaristas vieram lhe pedir para que lhes desse uma formação verdadeiramente católica. Fundou, para isso, a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, com aprovação de Dom Charrière, bispo de Friburgo, Suiça. Começava a obra de defesa da Tradição pela formação de sacerdotes: Ecône e outros cinco seminários, centenas de priorados espalhados em dezenas de países, mais de 500 padres ordenados, mais de 200 seminaristas. De lá para cá Dom Lefebvre recebeu críticas, a suspensão “a divinis” em 1976, e a excomunhão em 1988, dos inimigos da Igreja. Mas o lúcido bispo não podia, em sã consciência, colaborar com os destruidores da Igreja Católica. E ele continuava a cumprir o seu dever de confirmar os fiéis na Fé, certo de que essas condenações eram injustas e sem valor. Junto com Dom Antônio de Castro Mayer levantou sua voz para alertar as almas e suplicar a Roma a volta à verdadeira Tradição. Dom Lefebvre deixou este mundo no dia 25 de Março de 1991, no dia da festa da Anunciação. Mais de vinte mil pessoas acompanharam seu enterro em Ecône, onde ele repousa em paz.

O LIBERALISMO DE “CATÓLICOS” PROGRESSISTAS




Por Anatoli Oliynik
            Em 1894 Marc Sangnier funda sua revista Le Sillon que se converte em um movimento da juventude que sonha reconciliar a Igreja com os princípios da Revolução de 1789, o socialismo e democracia universal, baseando-se no progresso da consciência humana. A penetração de suas idéias nos seminários e a evolução cada dia mais indiferentista do movimento, levaram São Pio X a escrever a carta Notre charge apostolique, de 25 agosto de 1910 [16 anos após], que condena a utopia da reforma da sociedade, reforma esta acariciada pelos chefes do Sillon:
Seu sonho é trocar os fundamentos naturais e tradicionais e prometer uma cidade futura edificada sobre outros princípios que ousam declarar mais fecundos, mais benéficos do que aqueles sobre os quais se apóia a cidade católica atual (...) [grifo meu].
O Sillon tem a nobre preocupação da dignidade humana. Mas entende esta dignidade ao modo de certos filósofos que a Igreja está longe de elogiar. O primeiro elemento dessa dignidade é a liberdade, entendida no sentido em que, salvo em matéria religiosa, cada homem é autônomo. Deste princípio fundamental, tira as seguintes conclusões: Hoje o povo está sob a tutela de uma sociedade diferente dele, da qual deve se livrar: emancipação política (...) Chamam de democracia uma organização política e social fundada sobre este duplo fundamento: a liberdade e a igualdade, aos quais se juntará a fraternidade. [grifos meus]
            Após haver denunciado o falso slogan de liberdade-igualdade, São Pio X deixa patente as falsas fontes do liberalismo progressista do Sillon:
(...) o Sillon dá uma falsa idéia da dignidade humana. Segundo ele, o homem não será verdadeiramente homem, digno desse nome, senão no dia em que tenha adquirido uma consciência esclarecida, forte, independente, autônoma, sem necessidade de mestres, que obedeça a si mesma, capaz de assumir e levar avante as maiores responsabilidades.
            E o Santo Padre vai ao fundo da questão:
De agora em diante, o Sillon não passa de um miserável afluente do grande movimento de apostasia organizado em todos os países, para estabelecimento de uma igreja universal que não terá dogmas, nem hierarquia, nem regras para o espírito, nem freio para as paixões (...). Conhecemos bem as escuras oficinas em que são elaboradas essas doutrinas deletérias (...). Os chefes do Sillon não conseguiram se defender delas; a exaltação de seus sentimentos (...) os levou para um novo evangelho (...) sendo seu ideal semelhante ao da Revolução, não temem proferir blasfemas aproximações entre o Evangelho e a Revolução (...).
            O Santo Pontífice conclui, restabelecendo a verdade sobre a verdadeira ordem social:
(...) A Igreja, que jamais traiu o bem dos povos com elogios comprometedores, não deve esquecer o passado (...) basta retomar com o concurso dos verdadeiros trabalhadores a restauração social dos organismos atingidos pela Revolução[1] e adaptá-los, com o mesmo espírito cristão que os inspirou, ao novo cenário criado pela evolução material da sociedade contemporânea[2], pois os verdadeiros amigos do povo não são os revolucionários nem os inovadores, mas os tradicionalistas.
            Eis os termos enérgicos e precisos com que o Papa São Pio X condena o liberalismo progressista e define a atitude realmente católica.
            Os inimigos da Igreja Católica têm tentado parasitá-la para destruí-la desde a sua gênese. Ela tem sobrevivido a tudo isso há dois mil anos graças a ação dos Santos Padres conservadores iluminados pelo Espírito Santo. Hoje, gravemente parasitada pelos liberais progressistas que se dizem “católicos”, mas que não passam de apóstatas e traidores, a Igreja Católica precisa, mais uma vez, da intervenção do Espírito Santo para que a Barca de Pedro possa continuar navegando neste oceano bravio e tempestuoso.
[Elaborado por Anatoli Oliynik a partir de excertos extraídos, do livro de Mons. Marcel Lefebvre, tradução de Ildefonso Albano Filho, “Do Liberalismo a Apostasia: a tragédia conciliar”. Editora Permanência].


[1] São Pio X designa aqui as corporações de ofício, agentes da concórdia social, totalmente opostos ao sindicalismo, que é o agente da luta de classes.
[2] A evolução compreende um progresso material e técnico, mas o homem e a sociedade permanecem submetidos às mesmas leis. Vaticano II, em Gaudium et Spes desprezará esta diferença, inclinando-se novamente para o programa do Sillon.


LIBERDADE RELIGIOSA, O COMUNISMO E O SENTIDO DA HISTÓRIA

Por Anatoli Oliynik

            A “Declaração Dignitatis Humanae sobre a liberdade religiosa”, do Papa Paulo VI de 7/12/1965, já no seu preâmbulo mostra o quanto o papa estava contaminado pela idéia de separação da Igreja do Estado e também pelo ecumenismo, traindo assim os princípios que foram defendidos por quase dois mil anos de história da Igreja de Cristo:

Os homens de hoje tornam-se cada vez mais conscientes da dignidade da pessoa humana e, cada vez em maior número, reivindicam a capacidade de agir segundo a própria convicção e com liberdade responsável, não forçados por coação, mas levados pela consciência do dever. Requerem também que o poder público seja delimitado juridicamente, a fim de que a honesta liberdade das pessoas e das associações não seja restringida mais do que é devido. Esta exigência de liberdade na sociedade humana diz respeito principalmente ao que é próprio do espírito, e, antes de mais, ao que se refere ao livre exercício da religião na sociedade. Considerando atentamente estas aspirações, e propondo-se declarar quanto são conformes à verdade e à justiça, este Concílio Vaticano investiga a sagrada tradição e doutrina da Igreja, das quais tira novos ensinamentos, sempre concordantes com os antigos.

            Monsenhor Marcel Lefebvre foi um dos poucos homens da igreja que levantou sua voz para alertar as almas e suplicar a Roma a volta à verdadeira Tradição. Sua voz insurgente de nada valeu e aquilo que previra resultou na tragédia conciliar do Vaticano II que transformou a maioria das paróquias espalhadas pelo mundo em locais onde se profana o legado de Nosso Senhor Jesus Cristo e se diviniza o homem pecador ao som de pandeiros, violões, atabaques, reco-recos, sem contar as músicas profanas adaptadas, verdadeiro arremedo da música sacra como se a Igreja não possuísse seu repertório próprio. (ver a vídeo aula de Alberto Zucchi sobre a Contra-Reforma litúrgica de Bento XVI em http://www.youtube.com/watch?v=53QzRjyk3mU#t=1857 )
            Lefebvre diz que para os católicos liberais ou progressistas, assim chamados por defenderem a liberdade religiosa, a história tem um sentido, ou seja, uma direção. Na terra, essa direção é imanente: a liberdade. A humanidade é empurrada por um sopro imanente, rumo a uma consciência crescente da dignidade da pessoa humana, rumo a liberdade cada vez mais livre de toda coação. Essa teoria ecoou no Concílio Vaticano II e se fez valer para o gáudio dos destruidores da igreja.
            Os católicos liberais dizem que é preciso atualizar a Igreja ao seu tempo libertando os fieis da coação espiritual. Lefebvre pergunta: já se viu em alguma época da história um empreendimento tão radical e colossal de escravidão como a técnica comunista de escravizar massas? Se Nosso Senhor nos convida a “ver os sinais dos tempos” (Mt. 16, 4), então foi necessária um cegueira voluntária dos liberais e um conluio absoluto de silêncio para que um concílio ecumênico reunido precisamente com o intuito de ver os sinais de nosso tempo se calasse acerca do mais evidente sinal dos tempos: o comunismo. Tal silêncio basta por si só para cobrir de vergonha e reprovação este Concílio diante da história, e para mostrar quão ridícula é a alegação do preâmbulo de Dignitatis Humanae, assevera Mons. Lefebvre.
            Por conseguinte, se a história tem um sentido, conforme alegam e defendem os católicos liberais, certamente não é a tendência imanente e necessária da humanidade rumo à liberdade e à dignidade; isso não passa de uma invenção para justificar seu liberalismo e cobrir com a máscara enganosa de progresso o vento gelado que fazem soprar sobre a cristandade há dois séculos, afirma Lefebvre.
            Lefebvre esclarece que, de fato, o centro de toda a história é uma pessoa: Nosso Senhor Jesus Cristo, pois como diz São Paulo: “Porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, quer sejam os tronos, que as denominações, quer os principados, quer as potestades; tudo foi criado por Ele e para Ele, e Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele. E Ele é a cabeça do corpo da Igreja, e é o princípio (...) de maneira que Ele tem a primazia em todas as coisas. Porque foi do agrado (do Pai) que reside Nele toda a plenitude, e que por Ele fossem reconciliados consigo todas as coisas, pacificando, pelo sangue da sua cruz, tanto as coisas da terra, como as coisas do céu” (Cl 1, 16-21).
            Continua ainda: Jesus Cristo é, portanto, o pólo da história. A história tem somente uma lei: “é necessário que Ele reine” (1 Cor 15, 25). Se Ele reina, reinam também o verdadeiro progresso e a prosperidade, que são bens muito mais espirituais que materiais. Se Ele não reina, vem a decadência, a caducidade, a escravidão sob todas as formas, o reino do mal.
            Isso posto, conclui Lefebvre: A história não tem nenhum sentido, nenhuma direção imanente. Não existe o sentido da história. O que há, é um fim da história, um fim transcendente: a “recapitulação de todas as coisas em Cristo”; é a submissão de toda ordem temporal à Sua obra redentora; é o domínio da Igreja militante sobre a cidade temporal que se prepara para o reino eterno da Igreja triunfante no céu. A Fé afirma e os fatos demonstram que a história tem um primeiro pólo: a Encarnação, a Cruz, Pentecostes; ela teve seu completo desenvolvimento na cidade católica, quer seja no império de Carlos Magno ou na república de Garcia Moreno; e terminará, chegará a seu pólo final quando o número dos eleitos se completar, depois do tempo da grande apostasia (II Rs 2, 3); não estamos vivendo esse tempo?
            Esta emancipação que descrevem como sendo um progresso, não passa de um divórcio ruinoso e blasfemo entre a cidade e Jesus Cristo. Foi preciso a falta de vergonha de Dignitatis Hamanae para canonizar tal divorcio, e esta suprema impostura foi anunciada em nome da verdade revelada!
            A Barca de Pedro tomou nova direção. Não bastasse a vergonhosa declaração de Paulo VI, por ocasião da conclusão da nova concordata entre a Igreja e a Itália, João Paulo II declarava: “nossa sociedade se caracteriza pelo pluralismo religioso”, e dizia a consequência: “esta evolução demanda a separação entre a Igreja e o Estado”. Em nenhum momento João Paulo II pronunciou um juízo sobre essa troca, não deplorou a laicização da sociedade, nem disse que a Igreja recusava a situação. Não, sua declaração, assim como a do Cardeal Casaroli, louvava a separação de Igreja e do Estado, como se fosse o regime ideal, o resultado de um processo histórico normal e provincial, contra o qual nada se pode dizer! Dito de outra forma: “Viva a apostasia das nações, eis aí o progresso!” Ou então: “Não devemos ser pessimistas! Abaixo os profetas de calamidades! Jesus Cristo já não reina? Qual o problema? Está tudo bem! De qualquer modo a Igreja marcha rumo ao cumprimento de sua história. E no fim Cristo virá, aleluia!”.
            Pergunta Monsenhor Marcel: Esse otimismo simplista enquanto já se acumulam as ruínas, esse fatalismo imbecil, não são os frutos do espírito do erro e do descaminho? E finaliza: Tudo isso me parece absolutamente diabólico.

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