Título
original: Ils l’ont découronée, du libéralismme à l’apostasie –
La tragédie conciliaire
Autor: Monsenhor Marcel Lefebvre (1905-1991)
Tradução: Ildefonso Albano Filho
Editora: Permanência
Assunto: Religião
Edição: 2ª
Ano: 2013
Páginas: 246
Sinopse: Dom
Lefebvre explica o que é o Liberalismo e relata a tentativa de alguns católicos
de adotarem as idéias liberais; analisa de modo profundo a derrapagem das
autoridades da Igreja na realização de um Concílio Ecumênico de inspiração
liberal e que semeou a revolução dentro da Igreja Católica.
Eis o que o próprio
Monsenhor Lefebvre escreveu no prefácio deste livro:
“Com o fim de guardar e proteger a fé católica da peste do
liberalismo, a publicação deste livro me parece muito oportuna, ecoando as
palavras de Nosso Senhor: ‘Aquele que crê será salvo, aquele que não crê se
condenará’; eis a fé que o Verbo de Deus encarnado exige de todos os que querem
ser salvos. Ela foi a causa de sua morte, seguindo seu caminho, a de todos os
mártires e testemunhas que a professaram. Com o liberalismo religioso, não há
mais mártires nem missionários, mas apenas destruidores da religião reunidos em
volta de uma falsa promessa de paz.” (Ecône, 13 de janeiro de 1987)
No epílogo da obra ele
fala sobre a política pró-comunista da Santa Sé:
“A Santa Sé manifestou logo hostilidade a todos os governos
anti-comunistas. No Chile, a Santa Sé apoiou a revolução comunista de Allende,
de 1970 a 1972. O Vaticano age assim por meio de suas nunciaturas com a
nomeação de cardeais como Tarancon (Espanha), Ribeiro (Portugal), Silva
Henriquez (Chile), de acordo com a política pró-comunista da Santa Sé” (p.
218).
E prossegue:
“... atualmente o liberalismo conciliar conduz a Igreja para
a sepultura. Os comunistas são clarividentes como mostra o seguinte: em um
museu da Lituânia, consagrado em parte à propaganda atéia, há uma grande
fotografia da “troca de instrumentos” por ocasião da assinatura da nova
concordata com a Itália. Nela aparecem o presidente da Itália e o Cardeal
Casaroli, tendo este comentário: ‘A nova concordata entre a Itália e o
Vaticano, grande vitória do ateísmo.’ Qualquer comentário me parece supérfluo”
(pp. 221-22).
Sobre o autor: Dom Marcel Lefebvre nasceu em Tourcoing, na França, no dia
29 de Novembro de 1905, numa família que deu cinco dos seus oito filhos para a
Religião. Foi aluno do Pe. Le Floch no Seminário Francês de Roma, onde recebeu
o doutorado em Filosofia. Fez-se doutor também em Teologia, na Universidade
Pontifícia Gregoriana, em Roma. Foi ordenado padre em 21 de Setembro de 1929,
por Mons. Lienart, em Lille, França. Em 1930 entrou para a Congregação dos
Padres do Episcopado do Espírito Santo, e foi enviado ao Gabão em 1932, onde
permaneceu até 1945. Em 1946 voltou à França. O
ano de 1947 foi o de sua sagração episcopal. Em 1948, aos 43 anos de idade, foi
nomeado Delegado Apostólico para toda a África de língua francesa (18 países).
Foi nomeado 1º Arcebispo de Dakar em 1955, e Assistente ao Trono Pontificial em
1961. Em 1962 deixou a África e foi nomeado Arcebispo-bispo de Tulle. Nesse ano
foi eleito Superior Geral dos Padres do Espírito Santo. Em 1968 pediu demissão deste cargo devido ao
progressismo conciliar. Foi, então, que alguns seminaristas vieram lhe
pedir para que lhes desse uma formação verdadeiramente católica. Fundou, para
isso, a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, com aprovação de Dom Charrière,
bispo de Friburgo, Suiça. Começava a obra de defesa da Tradição pela formação
de sacerdotes: Ecône e outros cinco seminários, centenas de priorados
espalhados em dezenas de países, mais de 500 padres ordenados, mais de 200
seminaristas. De lá para cá Dom Lefebvre recebeu críticas, a suspensão “a divinis” em 1976, e a excomunhão em
1988, dos inimigos da Igreja. Mas o lúcido bispo não podia, em sã consciência, colaborar com os
destruidores da Igreja Católica. E ele continuava a cumprir o seu dever
de confirmar os fiéis na Fé, certo de que essas condenações eram injustas e sem
valor. Junto com Dom Antônio de Castro Mayer levantou sua voz para alertar as
almas e suplicar a Roma a volta à verdadeira Tradição. Dom Lefebvre deixou este
mundo no dia 25 de Março de 1991, no dia da festa da Anunciação. Mais de vinte
mil pessoas acompanharam seu enterro em Ecône, onde ele repousa em paz.
O LIBERALISMO DE “CATÓLICOS” PROGRESSISTAS
Por Anatoli Oliynik
Em 1894 Marc Sangnier funda sua
revista Le Sillon que se converte em um movimento da juventude que sonha
reconciliar a Igreja com os princípios da Revolução de 1789, o socialismo e democracia
universal, baseando-se no progresso da consciência humana. A penetração de suas
idéias nos seminários e a evolução cada dia mais indiferentista do movimento,
levaram São Pio X a escrever a carta Notre
charge apostolique, de 25 agosto de 1910 [16 anos após], que condena a
utopia da reforma da sociedade, reforma esta acariciada pelos chefes do Sillon:
Seu sonho é trocar os fundamentos naturais e tradicionais e
prometer uma cidade futura edificada sobre outros princípios que ousam declarar
mais fecundos, mais benéficos do que aqueles sobre os quais se apóia a cidade
católica atual (...) [grifo meu].
O Sillon tem a nobre
preocupação da dignidade humana. Mas entende esta dignidade ao modo de certos
filósofos que a Igreja está longe de elogiar. O primeiro elemento dessa
dignidade é a liberdade, entendida
no sentido em que, salvo em matéria religiosa, cada homem é autônomo. Deste princípio fundamental, tira as
seguintes conclusões: Hoje o povo está sob a tutela de uma sociedade diferente
dele, da qual deve se livrar: emancipação política (...) Chamam de democracia
uma organização política e social fundada sobre este duplo fundamento: a
liberdade e a igualdade, aos quais se juntará a fraternidade. [grifos meus]
Após haver denunciado o falso slogan
de liberdade-igualdade, São Pio X deixa patente as falsas fontes do liberalismo
progressista do Sillon:
(...) o Sillon dá uma
falsa idéia da dignidade humana. Segundo ele, o homem não será verdadeiramente
homem, digno desse nome, senão no dia em que tenha adquirido uma consciência
esclarecida, forte, independente, autônoma, sem necessidade de mestres, que
obedeça a si mesma, capaz de assumir e levar avante as maiores
responsabilidades.
E o Santo Padre vai ao fundo da
questão:
De agora em diante, o
Sillon não passa de um miserável afluente do grande movimento de apostasia
organizado em todos os países, para estabelecimento de uma igreja universal que
não terá dogmas, nem hierarquia, nem regras para o espírito, nem freio para as
paixões (...). Conhecemos bem as escuras oficinas em que são elaboradas essas
doutrinas deletérias (...). Os chefes do Sillon não conseguiram se defender
delas; a exaltação de seus sentimentos (...) os levou para um novo evangelho
(...) sendo seu ideal semelhante ao da Revolução, não temem proferir blasfemas
aproximações entre o Evangelho e a Revolução (...).
O Santo Pontífice conclui,
restabelecendo a verdade sobre a verdadeira ordem social:
(...) A Igreja, que
jamais traiu o bem dos povos com elogios comprometedores, não deve esquecer o
passado (...) basta retomar com o concurso dos verdadeiros trabalhadores a
restauração social dos organismos atingidos pela Revolução[1] e
adaptá-los, com o mesmo espírito cristão que os inspirou, ao novo cenário
criado pela evolução material da sociedade contemporânea[2],
pois os verdadeiros amigos do povo não são os revolucionários nem os
inovadores, mas os tradicionalistas.
Eis os termos enérgicos e precisos
com que o Papa São Pio X condena o liberalismo progressista e define a atitude
realmente católica.
Os inimigos da Igreja Católica têm
tentado parasitá-la para destruí-la desde a sua gênese. Ela tem sobrevivido a
tudo isso há dois mil anos graças a ação dos Santos Padres conservadores iluminados
pelo Espírito Santo. Hoje, gravemente parasitada pelos liberais progressistas
que se dizem “católicos”, mas que não passam de apóstatas e traidores, a Igreja
Católica precisa, mais uma vez, da intervenção do Espírito Santo para que a
Barca de Pedro possa continuar navegando neste oceano bravio e tempestuoso.
[Elaborado por Anatoli Oliynik a
partir de excertos extraídos, do livro de Mons. Marcel Lefebvre, tradução de
Ildefonso Albano Filho, “Do Liberalismo a
Apostasia: a tragédia conciliar”. Editora Permanência].
[1]
São Pio X designa aqui as corporações de ofício, agentes da concórdia social,
totalmente opostos ao sindicalismo, que é o agente da luta de classes.
[2] A
evolução compreende um progresso material e técnico, mas o homem e a sociedade
permanecem submetidos às mesmas leis. Vaticano II, em Gaudium et Spes desprezará esta diferença, inclinando-se novamente
para o programa do Sillon.
LIBERDADE
RELIGIOSA, O COMUNISMO E O SENTIDO DA HISTÓRIA
Por Anatoli Oliynik
A “Declaração Dignitatis Humanae sobre a liberdade religiosa”, do Papa Paulo VI
de 7/12/1965, já no seu preâmbulo mostra o quanto o papa estava contaminado
pela idéia de separação da Igreja do Estado e também pelo ecumenismo, traindo
assim os princípios que foram defendidos por quase dois mil anos de história da
Igreja de Cristo:
Os homens de hoje tornam-se cada vez mais conscientes
da dignidade da pessoa humana e, cada vez em maior número, reivindicam a
capacidade de agir segundo a própria convicção e com liberdade responsável, não
forçados por coação, mas levados pela consciência do dever. Requerem também que
o poder público seja delimitado juridicamente, a fim de que a honesta liberdade
das pessoas e das associações não seja restringida mais do que é devido. Esta
exigência de liberdade na sociedade humana diz respeito principalmente ao que é
próprio do espírito, e, antes de mais, ao que se refere ao livre exercício da
religião na sociedade. Considerando atentamente estas aspirações, e propondo-se
declarar quanto são conformes à verdade e à justiça, este Concílio Vaticano
investiga a sagrada tradição e doutrina da Igreja, das quais tira novos
ensinamentos, sempre concordantes com os antigos.
Monsenhor Marcel Lefebvre foi um dos
poucos homens da igreja que levantou sua voz para alertar as almas e suplicar a
Roma a volta à verdadeira Tradição. Sua voz insurgente de nada valeu e aquilo
que previra resultou na tragédia conciliar do Vaticano II que transformou a
maioria das paróquias espalhadas pelo mundo em locais onde se profana o legado
de Nosso Senhor Jesus Cristo e se diviniza o homem pecador ao som de pandeiros,
violões, atabaques, reco-recos, sem contar as músicas profanas adaptadas,
verdadeiro arremedo da música sacra como se a Igreja não possuísse seu
repertório próprio. (ver a vídeo aula de Alberto Zucchi sobre a Contra-Reforma
litúrgica de Bento XVI em http://www.youtube.com/watch?v=53QzRjyk3mU#t=1857
)
Lefebvre diz que para os católicos
liberais ou progressistas, assim chamados por defenderem a liberdade religiosa,
a história tem um sentido, ou seja, uma direção. Na terra, essa direção é
imanente: a liberdade. A humanidade é empurrada por um sopro imanente, rumo a
uma consciência crescente da dignidade da pessoa humana, rumo a liberdade cada
vez mais livre de toda coação. Essa teoria ecoou no Concílio Vaticano II e se
fez valer para o gáudio dos destruidores da igreja.
Os católicos liberais dizem que é
preciso atualizar a Igreja ao seu
tempo libertando os fieis da coação espiritual. Lefebvre pergunta: já se viu em
alguma época da história um empreendimento tão radical e colossal de escravidão
como a técnica comunista de escravizar massas? Se Nosso Senhor nos convida a “ver os sinais dos tempos” (Mt. 16, 4),
então foi necessária um cegueira voluntária dos liberais e um conluio absoluto
de silêncio para que um concílio ecumênico reunido precisamente com o intuito
de ver os sinais de nosso tempo se calasse acerca do mais evidente sinal dos
tempos: o comunismo. Tal silêncio basta por si só para cobrir de vergonha e
reprovação este Concílio diante da história, e para mostrar quão ridícula é a
alegação do preâmbulo de Dignitatis
Humanae, assevera Mons. Lefebvre.
Por conseguinte, se a história tem
um sentido, conforme alegam e defendem os católicos liberais, certamente não é
a tendência imanente e necessária da humanidade rumo à liberdade e à dignidade;
isso não passa de uma invenção para justificar seu liberalismo e cobrir com a
máscara enganosa de progresso o vento gelado que fazem soprar sobre a
cristandade há dois séculos, afirma Lefebvre.
Lefebvre esclarece que, de fato, o
centro de toda a história é uma pessoa: Nosso Senhor Jesus Cristo, pois como
diz São Paulo: “Porque nele foram criadas
todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, quer sejam os
tronos, que as denominações, quer os principados, quer as potestades; tudo foi
criado por Ele e para Ele, e Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas
subsistem por Ele. E Ele é a cabeça do corpo da Igreja, e é o princípio (...)
de maneira que Ele tem a primazia em todas as coisas. Porque foi do agrado (do
Pai) que reside Nele toda a plenitude, e que por Ele fossem reconciliados
consigo todas as coisas, pacificando, pelo sangue da sua cruz, tanto as coisas
da terra, como as coisas do céu” (Cl 1, 16-21).
Continua ainda: Jesus Cristo é,
portanto, o pólo da história. A história tem somente uma lei: “é necessário que Ele reine” (1 Cor 15,
25). Se Ele reina, reinam também o verdadeiro progresso e a prosperidade, que
são bens muito mais espirituais que materiais. Se Ele não reina, vem a
decadência, a caducidade, a escravidão sob todas as formas, o reino do mal.
Isso posto, conclui Lefebvre: A
história não tem nenhum sentido, nenhuma direção imanente. Não existe o sentido
da história. O que há, é um fim da história, um fim transcendente: a
“recapitulação de todas as coisas em Cristo”; é a submissão de toda ordem
temporal à Sua obra redentora; é o domínio da Igreja militante sobre a cidade
temporal que se prepara para o reino eterno da Igreja triunfante no céu. A Fé
afirma e os fatos demonstram que a história tem um primeiro pólo: a Encarnação,
a Cruz, Pentecostes; ela teve seu completo desenvolvimento na cidade católica,
quer seja no império de Carlos Magno ou na república de Garcia Moreno; e
terminará, chegará a seu pólo final quando o número dos eleitos se completar,
depois do tempo da grande apostasia (II Rs 2, 3); não estamos vivendo esse
tempo?
Esta emancipação que descrevem como
sendo um progresso, não passa de um divórcio ruinoso e blasfemo entre a cidade
e Jesus Cristo. Foi preciso a falta de vergonha de Dignitatis Hamanae para canonizar tal divorcio, e esta suprema
impostura foi anunciada em nome da verdade revelada!
A Barca de Pedro tomou nova direção.
Não bastasse a vergonhosa declaração de Paulo VI, por ocasião da conclusão da
nova concordata entre a Igreja e a Itália, João Paulo II declarava: “nossa sociedade se caracteriza pelo
pluralismo religioso”, e dizia a consequência: “esta evolução demanda a separação entre a Igreja e o Estado”. Em
nenhum momento João Paulo II pronunciou um juízo sobre essa troca, não deplorou
a laicização da sociedade, nem disse que a Igreja recusava a situação. Não, sua
declaração, assim como a do Cardeal Casaroli, louvava a separação de Igreja e
do Estado, como se fosse o regime ideal, o resultado de um processo histórico
normal e provincial, contra o qual nada se pode dizer! Dito de outra forma: “Viva
a apostasia das nações, eis aí o progresso!” Ou então: “Não devemos ser
pessimistas! Abaixo os profetas de calamidades! Jesus Cristo já não reina? Qual
o problema? Está tudo bem! De qualquer modo a Igreja marcha rumo ao cumprimento
de sua história. E no fim Cristo virá, aleluia!”.
Pergunta Monsenhor Marcel: Esse
otimismo simplista enquanto já se acumulam as ruínas, esse fatalismo imbecil,
não são os frutos do espírito do erro e do descaminho? E finaliza: Tudo isso me
parece absolutamente diabólico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário