Título original: Hitler and the Germans
Autor: Eric Voegelin
Tradutor: Elpídio Mário Dantas Fonseca
Assunto: Filosofia
Editora: É Realizações
Edição: 1ª
Ano: 2008
Páginas: 368
Sinopse: Hitler e os Alemães... não é um assunto do passado porque a consciência humana vive na tensão permanente entre o tempo e os valores espirituais eternos. E o que está eternamente vivo tem de ser preservado e defendido no presente. Talvez, por isso, todo alemão culto conheça a frase escrita pelo poeta Heinrich Heine em 1821: “Onde queimam livros, acabam por queimar pessoas”.
Autor: Eric Voegelin
Tradutor: Elpídio Mário Dantas Fonseca
Assunto: Filosofia
Editora: É Realizações
Edição: 1ª
Ano: 2008
Páginas: 368
Sinopse: Hitler e os Alemães... não é um assunto do passado porque a consciência humana vive na tensão permanente entre o tempo e os valores espirituais eternos. E o que está eternamente vivo tem de ser preservado e defendido no presente. Talvez, por isso, todo alemão culto conheça a frase escrita pelo poeta Heinrich Heine em 1821: “Onde queimam livros, acabam por queimar pessoas”.
O tema do livro não é uma história das origens, da evolução e queda do regime nacional-socialista, muito embora Eric Voegelin tenha presente algumas das análises clássicas. O tema é a cumplicidade dos alemães no regime nazista.
Entre 1933 e 1938, Eric Voegelin publicou quatro livros que o colocaram em uma crescente oposição ao regime de Hitler na Alemanha. Em virtude disso, foi forçado a abandonar a Áustria em 1938, escapando por pouco da prisão pela Gestapo quando fugiu para a Suíça e, mais tarde, para os Estados Unidos. Vinte anos depois, foi convidado a tornar-se o diretor do novo Instituto de Ciência Política na Universidade Ludwig-Maximilian, em Munique.
Em 1964 Voegelin apresentou uma série de preleções memoráveis acerca do que ele considerou "o problema experiencial alemão central" de seu tempo: a ascenção de Adolf Hitler ao poder, as razões para isso e suas conseqüências para a Alemanha pós-nazista. Para Voegelin, essas questões demandavam um escrutínio da mentalidade dos alemães individuais e da ordem da sociedade alemã durante e depois do período nazista. Hitler e os Alemães, publicado aqui pela primeira vez, oferece a crítica de Voegelin mais completa e minuciosa da era de Hitler.
Voegelin interpreta essa era em relação às ferramentas de diagnóstico oferecidas pela filosofia de Platão e de Aristóteles, pela cultura judaico-cristã e por escritores contemporâneos de língua alemã como Heimito von Doderer, Karl Kraus, Thomas Mann e Robert Musil. Reagindo a publicações acerca da Alemanha nacional-socialista, Voegelin discute a "Anatomia de um ditador", do historiador Percy Schramm, a par de estudos das Igrejas e da profissão legal. Sua pesquisa descobre uma historiografia que foi substancialmente a-histórica, uma Igreja Evangélica Alemã que interpretou mal o Evangelho, uma Igreja Católica Alemã que negou a humanidade universal e um processo legal enredado em homídio.
Enquanto a maior parte das preleções lidam com o que Voegelin chamou sua "descida aos abismos" moral e espiritual do nazismo e de seus corolários, elas também apontam para uma restauração da ordem. Sua preleção "A grandeza de Max Weber" mostra como Weber, enquanto atingido pela cultura dentro da qual Hitler subiu ao poder, já tinha ido além dela, através de sua recuperação angustiante da experiência da transcendência.
Hitler e os Alemães apresenta um tratamento alternativo profundo para o tópico da ligação dos alemães individuais como o regime de Hitler e suas implicações posteriores. Esta leitura completa do período nazista ainda não foi ultrapassada.
Fenômeno semelhante está acontecendo no Brasil com a cumplicidade do povo brasileiro que está levando o país, a passos largos, para um regime totalitário via socialismo marxista. Assim como na Alemanha é preciso, também no Brasil, fazer um escrutínio da mentalidade de cada brasileiro, incluindo notadamente os governantes e intelectualóides psicopatas e toda a mídia engajada.
AS DUAS REALIDADES
A obra de Eric Voegelin, toda ela, é essencial para a compreensão da realidade histórica e política e fornece instrumentos sem os quais o que se passa no Brasil não pode ser compreendido. Um deles, que quero explorar aqui, é aquele que demonstra a gênese dos movimentos gnósticos e os perigos inerentes a eles, que é a análise do abandono da realidade como ela é e a assunção de uma segunda realidade como substituta. Este simulacro passa a ser o referencial para a tomada de decisões individuais e coletivas que levam fatalmente ao desastre. Indivíduos perfeitamente estúpidos tomam as funções de estadistas e passam a reger o Estado. E não estou falando apenas de Lula, não. A assunção da segunda realidade como substituta do real Voegelin chamou de “gnose”. Terá sido essa a sua imorredoura contribuição à filosofia política. Citarei abaixo alguns trechos interessantes do livro HITLER E OS ALEMÃES, já referido em textos anteriores, para resgatar a discussão:
"Lidamos com questões estritamente empíricas: quando o homem, como tal, foi descoberto? E o que ele descobriu ser? Essas descobertas aconteceram respectivamente nas sociedades helênica e israelita. Na sociedade helênica, o homem era experienciado pelos filósofos do período clássico como um ser que é constituído pelo noûs, pela razão. Na sociedade israelita, o homem é experienciado como o ser a quem Deus dirige a palavra, ou seja, como um ser pneumático que está aberto à palavra de Deus. A razão e o espírito são os dois modos de constituição do homem, os quais foram generalizados como a idéia de homem. Não formos além desses conteúdos da idéia de homem, ou seja, sua constituição pela razão e pelo espírito. Isso parece ser o descobrimento definitivo. O que significa existir constituído pela razão e pelo espírito? As experiências da razão e do espírito concordam no ponto em que o homem experiencia a si mesmo como um ser que não existe por si mesmo. Ele existe num mundo já dado. Este mundo em si existe em razão de um mistério, e o nome deste mistério, da causa desse ser no mundo, do qual o homem é um componente, é chamado de 'Deus'. Então, dependência da existência (Dasein) na causação divina da existência (Existenz) permanece até hoje a pergunta básica da Filosofia”. (Página 117)
Veja, caro leitor, que isso é aceitar a realidade como nos é dada. Por exemplo, e quero abaixo explorar a questão com base numa declaração dada ontem pelo vice-presidente da República, José Alencar, a lei da escassez, razão de ser da ciência econômica, é parte integrante dessa realidade imutável que não pode ser superada por artifícios mágicos. Todo o discurso da gnose esquerdista é uma rebelião do Homem contra Deus, na medida em que prega a possibilidade de eliminação dessa condição divina instituidora da realidade. “Comerás o pão com o suor do seu rosto” é um descortino do real. A única alternativa ao trabalho é o roubo, seja diretamente, seja institucionalmente, via tributação do Estado. Os esquerdistas, portanto, ao prometerem algo impossível como a eliminação da lei da escassez, mentem. Ao tentarem pôr em prática seu programa contra a natureza e contra a realidade, perpetram as mais nefandas injustiças e criam atalhos para a construção de sofrimentos indizíveis e agravamento da escassez além daquela normal e superável pelo trabalho de cada um. A reengenharia da realidade contra Deus é o inferno na terra. Continua Voegelin:
“Em ambos os modos, pela procura do divino, o amoroso sair de nós mesmos em direção ao divino na experiência filosófica e o encontro amoroso através da palavra na experiência pneumática, o homem participa do divino. Os conceitos são methexis, em grego, e participatio, em latim, participação no divino. Já que o homem participa do divino, ou seja, já que ele pode experimentá-lo, o homem é 'teomórfico', no sentido grego, ou a imagem de Deus, a imago Dei, na esfera pneumática. A dignidade específica do homem é baseada nisto, em sua natureza teomórfica, de forma e imagem de Deus. Este é um complexo básico com que temos de começar, a fim de investigar a defecção desse complexo. A defecção, em seu âmago, sempre toma a forma de uma perda e dignidade. A perda de dignidade vem através da desdivinização do homem. Mas já que é precisamente essa participação no divino, esse ser teomórfico, que constitui essencialmente o homem, a desdivinização é sempre seguida de uma desumanização. Não se pode desdivinizar sem se desumanizar - com todas as conseqüências de uma desumanização com que ainda temos que lidar. Tal desdivinização é a conseqüência de um fechamento deliberado de si mesmo para o divino, tanto para o racionalmente divino como para o pneumaticamente divino, ou seja, o divino filosófico ou revelado. Em ambos os casos, ocorre uma perda da realidade, já que esse ser divino, esse fundamento do ser, é, na verdade, a realidade também, e se alguém se fecha a essa realidade, esse alguém não possui a experiência dessa parte da realidade, essa parte decisiva que constitui o homem". (Páginas 118/119).
As palavras-chaves são desdivinização e desumanização. Significam cair na condição animalesca superada na Antiguidade pela religião e pela filosofia. A perda de contato com o divino é a perda de contato da realidade como está dada. A revolta contra o Criador redunda na regressão civilizacional, anterior ao século IV a.C. É a tragédia da modernidade que os homens abracem a estupidez radical em matéria política, nos movimentos redentoristas à moda do comunismo e do fascismo/nazismo, que acabam sempre em banho de sangue e em sofrimentos infindos. Podemos ver aqui na América do Sul um caso em estado avançado de putrefação pneumopatológica, que é a Venezuela. Um país rico artificialmente empobrecido pela demência do povo tomado pela estupidez radical, conduzido por um tirano insensato que representa existencialmente a maioria estupidificada. O desastre econômico será sempre a porta de entrada na desintegração irracional, cuja saída quase sempre se dá pela guerra. Vejamos mais um trecho do livro:
“O homem continua homem em toda a realidade, mesmo quando perde a razão e o espírito como aquelas partes da realidade que o ajudam a ordenar-lhe a existência; ele não cessa de ser homem. E não há nenhuma razão, como ainda se faz tão freqüentemente, em acusar Hitler de desumanidade; foi uma humanidade absoluta em forma humana, porém a humanidade notavelmente desordenada e doente, uma humanidade pneumopatológica. Tal imagem do homem da realidade, portanto, embora falha, não perdeu a forma de realidade; ou seja, ele ainda é um homem, com todo direito de fazer declarações de ordem, mesmo quando a força ordenadora de orientação para o ser divino se perdeu – mesmo assim – a menos que ele coloque uma pseudo-ordem no lugar da ordem real. Então, a realidade e a experiência da realidade são substituídas por uma falsa imagem da realidade. O homem, assim, não vive mais na realidade, mas em uma falsa imagem da realidade, que diz, no entanto, ser a realidade genuína. Há, então, se essa condição pneumopatológica ocorreu, duas realidades: a primeira realidade, onde o homem normalmente ordenado vive, e a segunda realidade, em que o homem pneumopatológicamente doente agora vive e que, portanto, entra em constante conflito com a primeira realidade”. (Páginas 145/146).
Essa é a questão teórica relevante que resgato para comentar a fala do vice-presidente José Alencar. Lembrando que o vice-presidente, antes de ser político, é um empreendedor muito bem sucedido e, pelos critérios habituais, deveria ser alguém “realista”, imerso na realidade como ela é, supostamente insuspeito de agir no mundo na “segunda realidade”. Por ter essa biografia é que o tomo como exemplo acabado da pneumopatologia que tomou conta da Nação brasileira. Em resumo, nosso problema não é apenas o PT, o PSOL, o PC do B e todas as gangues partidárias engajadas na revolução socialista de propósitos homicidas. Eles são apenas o elo febril da ação gnóstica, a mais delirante. Gente como José Alencar e integrantes da elite empresarial (como a FIESP) são talvez os agentes mais perigosos, porque têm dinheiro e poder e legitimam os revolucionários que conduzem a coletividade para o mergulho no abismo.
Vejamos sua declaração, dada à Rádio Eldorado e registrada na edição do Estadão: “Você não pode achatar o consumo de quem não consome. Não temos de ter medo do consumo, mas sim, da fome”. Aparentemente uma declaração banal, mas devemos atentar para o que está dito. Dá a síntese da nossa tragédia.
Vejamos a primeira frase: “Você não pode achatar o consumo de quem não consome”. Um aparente truísmo. Mas quem teria falado em achatar o consumo de quem não consome? E haverá mesmo alguém que não consome? Imagino dois tipos de pessoas que nada consomem: os mortos e os ainda não nascidos. O vice-presidente não se referia a eles, naturalmente, mas aos viventes. Viventes consomem, por definição. Ele não se deu conta de que falou uma absurdidade lógica, uma irrealidade que se fez necessária para fundamentar a segunda afirmação: “Não temos de ter medo do consumo, mas sim, da fome”. Ora, quem tem medo do consumo? Fome, onde há fome endêmica no Brasil? Irresistível aqui lembrar as palavras de Jesus, na Primeira Tentação: “Nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”.
Não ouvi a entrevista e não sei o contexto em que a frase foi proferida. Ela, todavia, espelha a cegueira radical daqueles empenhados em supor que podem eliminar a lei da escassez por meio de políticas estatais. Simplesmente não é possível. Ainda ontem os jornais noticiaram que a inflação está praticamente na faixa dos dois dígitos e que o país caminha a galope para produzir déficits em conta corrente no balanço de pagamento. Como essa realidade foi produzida? Por muitos erros na condução dos negócios do Estado e do país, mas dois pontos são fundamentais para a sua explicação: 1- A frouxidão na política salarial, que tem elevado os salários acima da produtividade e 2- A prodigalidade nos gastos públicos. A lei da escassez se manifesta de muitas formas e uma delas é o país consumir mais do que a sua capacidade de produzir. A absorção além da produção potencial leva a crises no balanço de pagamentos e *obrigam* o Estado a voltar ao princípio de realidade. Não há como enganar a lei da escassez, exceto no discurso dos populistas.
A crise econômica vai se manifestar brevemente e aí passaremos à fase aguda do processo revolucionário. Aí gente como José de Alencar perderá a sua serventia de “companheiro de viagem” dos verdadeiros agentes da revolução. Não imagino Lula promulgando leis de redução de salários para ajustar o Brasil ao mundo real. Aí serão eleitos os culpados de sempre: os empresários, os EUA, os fantasmas de sempre do imaginário socialista. Como os agentes revolucionários controlam o Estado e as forças de repressão, então chegaremos ao estágio final, da violência aberta contra os supostos inimigos dos poderosos do dia. Haverá choro e ranger de dentes. (Nivaldo Cordeiro)
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